O Bolsa Família, programa social brasileiro voltado para a redução da pobreza e da desigualdade, passou por significativas mudanças nos governos de Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva. De acordo com especialistas em políticas sociais, embora o orçamento e os valores dos benefícios tenham aumentado consideravelmente, algumas alterações nas regras resultaram em uma abordagem menos eficaz no combate à pobreza.
Anteriormente, o valor pago às famílias era variável e condicionado ao número de crianças e adolescentes presentes no lar. Com as novas regras, todos passaram a receber um benefício mínimo fixo e já alto, no valor de R$ 600. Adicionais são pagos de acordo com o número de dependentes, mas essa parcela variável tem menos peso do que na versão anterior do programa.
Bolsa Família – Um Programa Menos Eficiente
Com as mudanças, o valor das bolsas se tornou semelhante para os diferentes perfis de famílias, e as famílias menores passaram a receber benefícios proporcionalmente maiores do que as famílias maiores. Isso compromete a eficácia do programa em seu objetivo de combater a pobreza. Na versão original do Bolsa Família, quanto maior a família, especialmente em termos de número de crianças, maior era o valor recebido.
O programa se tornou maior, o que é positivo, mas também menos eficiente. Famílias com características diferentes, algumas com maior necessidade do que outras, estão recebendo valores semelhantes. Essa disparidade ficou ainda mais evidente durante o período em que vigorou o Auxílio Brasil, lançado no final de 2021 pelo governo Bolsonaro e extinto no início de 2023 por Lula.
Durante esse período, houve um aumento significativo no número de famílias cadastradas como unipessoais, ou seja, formadas por uma única pessoa. Esse aumento pode ser atribuído à flexibilização das regras e à falta de fiscalização em relação ao tamanho das famílias beneficiadas. Uma auditoria realizada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) em 2022 constatou que o programa estava gastando mais, mas com menos foco.
Limitações e Combate às Distorções
Para combater as distorções, o Ministério do Desenvolvimento Social, responsável pelo programa, implementou uma nova regra que limita a 16% a proporção de famílias unipessoais entre os beneficiários. Essa proporção é a média atual da população brasileira e chegou a atingir 25% dentro do programa em 2022.
O governo também tem trabalhado no fortalecimento da capacidade institucional dos municípios, dos estados e do Distrito Federal para o atendimento do Cadastro Único, a fim de conter o aumento desproporcional de famílias unipessoais. Essas medidas visam corrigir as distorções e tornar o programa mais eficiente na redução da pobreza.
Famílias Diferentes, Benefícios Semelhantes
Com as novas regras do Bolsa Família, uma família de três pessoas, composta por um casal e um filho pequeno, recebe um valor um pouco menor do que uma família de quatro pessoas, composta por uma mãe solteira e três filhos. A primeira família recebe R$ 750, enquanto a segunda recebe R$ 850.
No entanto, se as regras da primeira edição do programa ainda estivessem em vigor, com o orçamento atual, o benefício total recebido pela família de três pessoas seria de R$ 597, enquanto o da família de quatro pessoas aumentaria para R$ 1.003. Isso resultaria em um valor per capita de R$ 250 para a primeira família e R$ 251 para a segunda, tornando-se maior do que o da primeira.
A Importância das Crianças no Combate à Pobreza
O pressuposto por trás do Bolsa Família é que os esforços de assistência social devem se concentrar nas crianças e nos jovens, uma vez que é nessa faixa etária que a pobreza costuma ser mais presente e as necessidades são maiores. Há uma alta correlação entre pobreza e famílias com mais crianças.
O vínculo do Bolsa Família com os jovens em idade escolar era um dos principais pilares do programa desde sua criação em 2003, no governo de Lula. O objetivo é proporcionar condições para que as famílias possam manter seus jovens estudando, sem a necessidade de abandonar os estudos para trabalhar e complementar a renda familiar. Isso é uma realidade comum entre aqueles que vivem abaixo da linha da pobreza.
O Crescimento do Bolsa Família e Suas Reformulações
O Bolsa Família se tornou uma referência internacional no combate à pobreza, em grande parte devido ao seu baixo custo. Com menos de R$ 40 bilhões por ano, cerca de 0,5% do PIB brasileiro, o programa conseguiu reduzir significativamente a miséria no país nas décadas de 2000 e 2010. Seu orçamento era de pouco mais de R$ 3 bilhões por mês. Atualmente, o programa custa cerca de R$ 14 bilhões mensais, totalizando quase R$ 170 bilhões por ano.
Ao longo dos anos, o Bolsa Família passou por duas grandes reformas. A primeira ocorreu em 2021, quando foi refundado como Auxílio Brasil pelo governo Bolsonaro. A segunda reforma ocorreu no início de 2023, quando Lula retomou o programa, combinando regras das duas fases anteriores.
Mudanças no Bolsa Família
A principal mudança foi a inversão nos tipos de benefícios. Na primeira edição do Bolsa Família, a maioria dos benefícios era variável, com valores que variavam de R$ 41 a R$ 96 por criança, adolescente ou gestante, limitado a um máximo de sete. Já no Auxílio Brasil, todas as famílias passaram a receber um benefício fixo mínimo de R$ 400, depois ampliado temporariamente para R$ 600.
No novo Bolsa Família, lançado por Lula em março de 2023, o benefício mínimo de R$ 600 foi mantido e transformado em permanente. Os benefícios variáveis foram reintroduzidos como adicionais ao pagamento básico fixo.
Diminuição da pobreza
Embora o Bolsa Família tenha se tornado um programa social maior, seu impacto na diminuição da pobreza foi comprometido pelas mudanças nas regras e distribuição dos benefícios. Famílias menores estão recebendo benefícios maiores em relação às famílias maiores, o que vai contra o propósito de combater a pobreza de forma mais eficaz.
O programa ainda precisa passar por revisões e aprimoramentos para corrigir as distorções existentes e garantir que as famílias mais necessitadas recebam valores adequados. É essencial que o Bolsa Família mantenha seu foco nas crianças e nos jovens, a fim de promover uma maior igualdade de oportunidades e combater a pobreza de forma mais efetiva.
O Bolsa Família desempenha um papel fundamental na redução da pobreza e da desigualdade no Brasil, mas é necessário que as políticas sejam constantemente avaliadas e aprimoradas para garantir que o programa cumpra seus objetivos de forma eficiente e justa.