Os números divulgados pelo Banco Central (BC) sobre a quantidade de usuários do Bolsa Família que apostam em bets segue repercutindo com força dentro do governo federal. De acordo com ministros, uma das ideias ventiladas neste momento é alterar o sistema de utilização do cartão do programa social.
Atualmente, o cartão do Bolsa Família é usado por milhões de brasileiros para sacar o benefício em endereços físicos da Caixa Econômica Federal. Para além disso, boa parte dos dispositivos mais recentes também permite a possibilidade de um cidadão realizar compras no débito.
E é justamente esse ponto que pode ser alterado. Informações inicialmente colhidas pelo jornal Folha de São Paulo, e posteriormente confirmadas por outros veículos de imprensa, indicam que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teria exigido que o sistema do cartão de débito não mais permita o uso do dinheiro do Bolsa Família para apostas esportivas.
Ministros se pronunciam
Em uma série de entrevistas nesta semana, o ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias (PT), vem dizendo que o presidente Lula não gostou dos números divulgados pelo BC nesta semana sobre o uso do dinheiro do Bolsa Família para apostas esportivas.
Além disso, Dias vem dizendo que Lula pediu novos projetos para impedir o uso do dinheiro do programa social em bets.
“O presidente defende que Bolsa Família é para alimentação e necessidades básicas de cada família beneficiária. Pediu urgentes providências”, disse Dias.
“A regulamentação das bets, coordenada pelo Ministério da Fazenda e Casa Civil, deve conter regra com limite zero para o cartão de benefícios sociais para jogos e controle com base no CPF de quem joga”, completou ele.
Quem também falou sobre o assunto nesta quinta-feira (26) foi o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT). Entre outros pontos, ele indicou que o governo federal está buscando maneiras de impedir que usuários do Bolsa Família usem o dinheiro desta forma.
“Você vai ter CPF por CPF de quem está apostando, tudo sigiloso, mas ele vai abrir essa conta. Vamos poder ter um sistema de alerta em relação às pessoas que estão revelando uma certa dependência psicológica do jogo”, disse o chefe da pasta econômica.
O que disse o BC sobre o Bolsa Família
“Tá gerando uma percepção de que a gente possa ter uma piora na qualidade do crédito com comprometimento grande […] Temos tentado ajudar o governo e o Congresso com os dados que a gente tem e o crescimento é muito grande. A correlação entre pessoas que recebem Bolsa Família, pessoas de baixa renda, e o aumento das apostas tem sido bastante grande”, disse o presidente do BC, Roberto Campos Neto, na terça-feira (24).
“A gente consegue mapear o que teve de Pix para essas plataformas e o crescimento de janeiro pra cá foi bastante grande. A gente pega o ticket médio e subiu mais de 200%. É uma coisa que chama atenção e a gente começa a ter a percepção de que vai ter um efeito na inadimplência na ponta”, completou ele.
Como funciona o Bolsa Família hoje
Atualmente, o Bolsa Família é o maior programa de transferência de renda do país. Dados oficiais do Ministério do Desenvolvimento Social apontam que pouco mais de 20,6 milhões de pessoas estão aptas ao recebimento do saldo em suas contas.
Para fazer parte do Bolsa Família, o governo federal exige que o cidadão tenha uma conta ativa e atualizada no sistema do Cadúnico, e ainda registre uma renda per capita de até R$ 218.
Naturalmente, os usuários do Bolsa Família recebem uma base de R$ 600 por grupo familiar. Esse valor, no entanto, pode ser elevado a depender da quantidade de benefícios internos a que cada cidadão tem direito. A média atual de pagamentos do benefício está na casa dos R$ 680 por família.