O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, exaltou nesta sexta-feira (4) a decisão do Banco Central (BC) em reduzir a taxa básica de juro da economia brasileira em 0,50 ponto percentual (p.p.). Com a decisão, a taxa Selic passou de 13,75% para 13,25% ao ano.
Essa foi a primeira vez desde agosto de 2020 que a autarquia reduziu a taxa de juros no país. Aliás, a decisão sucede sete vezes consecutivas de estabilidade da taxa Selic em 13,75% ao ano, maior patamar desde novembro de 2016.
“Eu sempre manifestei mais do que o desejo [de uma redução da taxa Selic], eu expressei que as condições técnicas estavam dadas para o corte de 0,50 p.p. […]. Eu estava convencido de que pela atividade econômica, pela queda da arrecadação e por tudo o que eu estava ouvindo de empresários […], que havia espaço para corte“, disse o ministro da Fazenda em entrevista a jornalistas.
Decisão do Copom surpreende o mercado
Na última quarta-feira (2), o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC reduziu em 0,50 p.p. a taxa básica de juros da economia brasileira. A decisão surpreendeu o mercado, uma vez que o consenso geral dos analistas apontava para uma queda mais modesta, de 0,25 p.p.
O corte veio mais forte que o esperado, animando o governo Lula, que vinha criticando a manutenção dos juros nos últimos meses. Aliás, o Copom emitiu um comunicado, informando que a redução dos juros só foi possível graças à desaceleração da inflação no Brasil nos últimos meses.
Além disso, o comitê também revelou que os seus membros acreditam que as próximas reuniões deverão decidir por cortes de 0,5 p.p., assim como ocorreu na última quarta-feira (2). Em suma, esse é o ritmo adequado de redução da taxa de juros, mantendo a política monetária contracionista, segundo o Banco Central.
“Tem espaço [para novos cortes] e eles precisam vir. […] A economia está desacelerando […], e precisamos harmonizar [as políticas fiscal e monetária]. Baixar a inflação sem sacrificar a sociedade, sem sacrificar emprego e crescimento“, disse Haddad.
Entenda a taxa de juros no país
Em 2020, a pandemia da Covid-19 afundou a economia global. Para tentar impulsionar a atividade econômica brasileira, o Copom reduziu a Selic para 2,00% ao ano em agosto daquele ano, mantendo a taxa assim até março de 2021.
A saber, a crise sanitária afetou a cadeia produtiva global de diversos setores, e isso fez os preços de bens e serviços dispararem em 2021 devido a forte demanda. Por isso, o Copom mudou a tática e passou a elevar repetidas vezes a Selic nos dois últimos anos.
Em síntese, a Selic é o principal instrumento do BC para conter a alta dos preços de bens e serviços. Quanto mais alta ela estiver, mais altos ficarão os juros no país. Assim, o crédito fica mais caro, reduzindo o poder de compra do consumidor e desaquecendo a economia.
Como a inflação perdeu força em 2022, o Copom decidiu interromper a sequência de altas e manteve a taxa Selic estável. Agora, como a inflação está caindo ainda mais, o Banco Central promoveu o primeiro corte nos juros em três anos, e as reduções deverão seguir pelas próximas reuniões do comitê, ao longo deste ano.
Brasil tem os juros reais mais altos do mundo
Embora o BC tenha reduzido a taxa Selic, isso não retirou o Brasil da liderança do ranking mundial dos juros reais. Em resumo, a lista desconta a inflação projetada para os próximos 12 meses, e o Brasil tem os juros reais mais altos do mundo desde maio de 2022, ou seja, há mais de um ano.
A saber, os juros reais no país caíram para 6,68% ao ano após a decisão do BC sobre a taxa Selic. Esse dado faz parte de um levantamento compilado pelo MoneYou e pela Infinity Asset Management, que analisa 40 países, incluindo Estados Unidos, China, Japão e Alemanha, as maiores economias do planeta.
Confira abaixo os 15 países com os maiores juros reais do mundo:
1º Brasil | 6,68% |
2º México | 6,64% |
3º Colômbia | 6,15% |
4º Chile | 4,60% |
5º África do Sul | 3,82% |
6º Filipinas | 3,80% |
7º Indonésia | 3,63% |
8º Hong Kong | 2,83% |
9º Reino Unido | 2,36% |
10º Israel | 2,23% |
11º Nova Zelândia | 1,96% |
12º Estados Unidos | 1,82% |
13º China | 1,67% |
14º Malásia | 1,64% |
15º Coreia do Sul | 1,57% |
Por fim, o levantamento também revelou que o o Brasil teve a quarta maior taxa nominal de juros, apesar da redução. Os únicos países da pesquisa que apresentaram juros mais elevados que o Brasil foram Argentina (97,00%), Turquia (17,50%) e Hungria (15,00%).