Maria Lopes Teixeira mora no Morro do Papagaio, favela localizada na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, e está na quarta série do ensino fundamental. Duas vezes por semana, ela sai com o neto Brian, que está no quinto ano, e espera pela carona para estudar. Juntos, os dois estudam e recebem orientação das tarefas escolares com a ajuda de uma vizinha de bairro.
“Foi uma benção porque a gente não tinha ninguém para nos orientar. Eu estou indo para a quarta série do ensino fundamental. O Brian está no quinto ano. A gente até tentou fazer os exercícios sozinhos, mas erramos tudo (risos)”, contou Maria.
A ajuda veio da jornalista Gláucia Carvalhaes, que mora no bairro São Bento. Ela os conheceu por meio do líder comunitário do Morro do Papagaio, Júlio Fessô, e agora os orienta a fazer as tarefas.
“É muito bom ajudar, principalmente pela vontade de aprender dos dois”, disse ela.
‘Eu era uma escrava, né?’
As aulas do projeto Educação de Jovens e Adultos (EJA), frequentadas por Maria, e da Escola Municipal Benjamim Jacob, onde Brian estuda, foram suspensas por causa da pandemia do novo coronavírus.
“Eu estava tão animada para voltar a estudar, sabe? Comecei no EJA em 2018. Neste ano, as aulas começaram em março, mas rapidinho acabaram por causa da Covid-19”, disse Maria.
Este é só mais um desafio que a empregada doméstica enfrenta para poder estudar. Quando criança, era obrigada a trabalhar na casa da família onde foi criada, em Berilo, no Vale do Jequitinhonha.
Ela foi abandonada lá pelo pai aos 6 anos de idade. Maria nunca conheceu sua mãe. Nem sabe se tem parentes vivos.
“Eu era uma escrava, né? Eu via os meninos da casa indo para escola e pedia para ir também. Diziam que eu tinha que trabalhar, lavar roupa, cozinhar”, contou.
Ao se tornar adulta, veio para Belo Horizonte na tentativa de melhorar de vida. Teve três filhos. Um deles, o pai de Brian, morreu.
“Brian e eu temos uma ligação muito forte. Um dia, a mãe dele trouxe ele para me visitar e o menino não quis mais ir embora. Somos só nós dois”, disse Maria.
Avó e neto estudam juntos. Os dois também passam o tempo dividindo as delícias que Maria prepara. “A gente continua em casa, de quarentena, comendo e engordando (risos)”, contou a avó.
Morro do Papagaio
A favela do Morro do Papagaio é uma das maiores de Belo Horizonte. Com 17 mil moradores, ela faz parte de um complexo de comunidades chamado Aglomerado Santa Lúcia, na Região Centro Sul da capital. O Papagaio fica espremido entre os bairros nobres do Sion e São Bento.
A favela ganhou este nome por causa da grande quantidade de papagaios e maritacas que viviam em uma fazenda na região. A propriedade acabou dando espaço para a ocupação. *Informações do G1.