Na última sexta-feira (21) o G1 ouviu alguns beneficiários do Auxílio Brasil que estavam aguardando nas filas das agências da Caixa Econômica Federal no Rio de Janeiro para solicitar o crédito consignado. De acordo com o artigo, grande parte dos beneficiários não tinham conhecimento de que o consignado se tratava de uma modalidade de empréstimo.
“Fazer o quê, né? Tem jeito? Se eles descontarem esse dinheiro da gente, aí mesmo que ninguém sai da miséria. A gente pega o dinheiro agora e depois vê como faz para pagar, né? O dinheiro já é tão pouco e ainda vai ter desconto, como é que pode? O governo dá e o governo tira? Pobre nasceu mesmo para sofrer, né?”, disse uma beneficiária ao G1.
Especialistas criticam o crédito consignado
Para alguns especialistas, a liberação do empréstimo consignado para beneficiários do Auxílio Brasil poderia prejudicar ainda mais essas famílias em situação de vulnerabilidade social. “O crédito consignado, em vez de benefício, pode ser um grande vilão nessa história. Pode levar [essas famílias] a uma situação muito pior do que já estão. Um benefício de sobrevivência jamais pode ter qualquer valor sendo descontado”, comentou Reinaldo Domingos, presidente da Abefin (Associação Brasileira de Profissionais de Educação Financeira).
Pensando a partir desta perspectiva, alguns dos grandes bancos privados do país optaram por não operar nessa linha de crédito. Entre as instituições que não devem oferecer o consignado do Auxílio Brasil é possível citar: Bradesco, Itaú e Santander.
“Não se trata de uma aposentadoria ou pensão, mas um benefício a pessoas que estão em dificuldades. Portanto, o Bradesco não vai operar nessa carteira. Estamos falando de pessoas vulneráveis. Em vez de ser uma boa operação para o banco e para o cliente, entendemos que a pessoa terá mais dificuldade quando o benefício cessar, e, por isso, preferimos não operar”, disse Octavio de Lazari Júnior, presidente do Bradesco.
O consignado para benefícios do Auxílio Brasil
A modalidade de crédito consignado nada mais é do que um empréstimo em que as parcelas são descontadas automaticamente da folha de pagamento dos cidadãos. Desta forma, o consignado do Auxílio Brasil deve ter os valores descontados diretamente do benefício das famílias.
Após a contratação do empréstimo, os beneficiários do Auxílio Brasil terão até 24 meses para quitar a dívida. Além disso, vale informar que o Ministério da Cidadania fixou o teto de juros para a modalidade de crédito em 3,5% ao mês (51,11% ao ano), no entanto, as instituições financeiras podem operar abaixo desse valor.
Mesmo com o teto de gastos definido pelo Ministério da Cidadania, alguns órgãos de defesa ao consumidor consideram a taxa abusiva. “Isso porque ela é bem maior do que a praticada atualmente para outros tipos de empréstimo consignado, como os para aposentados, pensionistas e servidores públicos”, explica o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor.
Como já dito anteriormente, as instituições financeiras podem operar o empréstimo consignado do Auxílio Brasil com uma taxa de juros inferior à definida pelo Ministério da Cidadania. A Caixa Econômica Federal, por exemplo, definiu o juros em 3,45% ao mês (ou 50,23% ao ano).