O preconceito linguístico é uma forma de discriminação. Consiste em um conjunto de práticas guiadas por juízo de valor negativo às variedades linguísticas faladas por grupos desprestigiados socialmente. Estas práticas podem envolver reprovação, repulsa e até mesmo desrespeito ao outro.
Comumente, grupos minoritários da nossa sociedade sofrem preconceito por questões como cor de pele, orientação sexual, etnia, nacionalidade, gênero, identidade de gênero, entre outros. Neste mesmo sentido, há pessoas que são vítimas de preconceito por conta da sua língua.
Tal preconceito gera danos cotidianos às pessoas, que são julgadas, humilhadas e apontadas por falar determinada língua ou dileto ou, simplesmente, pelo seu modo de falar, julgado “errado” de modo infundado.
Os danos vão desde o sentimento de inferioridade por parte da vítima a danos sérios no estabelecimento de suas relações pessoais ou, ainda, o surgimento de problemas psicológicos.
Geralmente manifestado através de atitudes hostis mascaradas ou não como brincadeiras, o preconceito linguístico pode ir desde o ato de zombar até a violência física.
Contudo, muitos não possuem conhecimento sobre essa forma de preconceito. E há ainda os que têm conhecimento, mas não reconhecem a gravidade do problema social. Nesse sentido, o professor pesquisador e linguista Marcos Bagno diz:
“O preconceito linguístico é tanto mais poderoso porque, em grande medida, ele é invisível, no sentido de que quase ninguém se apercebe dele, quase ninguém fala dele, com exceção dos raros cientistas sociais que se dedicam a estudá-lo.”
Muitas vezes estão embutidos no preconceito linguístico outros tipos de preconceito, como o socioeconômico, o cultural, e o regional, além do racismo e da homofobia.
Preconceito Linguístico no Brasil
O preconceito linguístico resulta, no Brasil, do ideal de língua impresso pelas gramáticas normativas ou mesmo da norma culta e tem como base um conjunto de mitos, dentre os quais figuram:
- A ideia de unidade linguística no país;
- A afirmação de que brasileiro não sabe falar português;
- A concepção de que se deve falar exatamente como se fala.
A escola vem sendo há anos um dos principais difusores desta forma de discriminação, pois não prepara os alunos para lidar com a diversidade cultural e linguística do país, no sentido de respeitar, valorizar e proteger a riqueza da variedade linguística.
Além disso, a manutenção do preconceito linguístico é de interesse das elites políticas, econômicas e intelectuais, que seguem usando a língua como forma de dominação, alimentando a estratificação social. Nesse sentido, as vítimas do preconceito linguístico, que tiveram pouco acesso à escola, por exemplo, têm menos chances em vagas de emprego, são reservados a elas os piores salários, as funções tidas como mais inferiores etc.
No Brasil, o preconceito está mais diretamente ligado às classes sociais desfavorecidas socioeconomicamente, bem como aos diletos e sotaques de regiões mais pobres.
O combate ao preconceito linguístico é dever de todos nós
Além de tornar o combate ao preconceito linguístico um dos temas abordados pelas escolas nas aulas de Língua Portuguesa, é necessária também a conscientização por parte de todos.
É preciso compreender que a modalidade escrita e a modalidade oral da língua são distintas. A língua da oralidade é espontânea, natural, não pode nem deve ser limitada por regras de escrita. Ninguém fala exatamente como escreve.
A língua é parte da identidade do indivíduo e seu dialeto, sotaque ou modo de falar devem ser respeitados em todas as instâncias.
Quer saber mais? Veja nossas dicas de aprofundamento:
- Livro Preconceito Linguístico, de Marcos Bagno
- Documentário Língua: vidas em português, de Victor Lopes