A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) decidiu cancelar o registro do medicamento Adakveo (crizanlizumabe). Trata-se de um remédio indicado por alguns médicos para reduzir a frequência das chamadas crises vaso-oclusivas, em pacientes diagnosticados com a doença falciforme.
Por meio de uma nota, a agência sanitária argumentou que a decisão de cancelar o registro do medicamento tem relação com a falha na comprovação da eficácia do produto nestes pacientes.
“A falha foi observada no acompanhamento do TC [Termo de Compromisso], firmado entre a empresa e a Anvisa na época da concessão do registro sanitário. A decisão levou em consideração tanto a análise da documentação técnica apresentada, como reuniões com a empresa e consulta à Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular”, explicou a agência.
“O processo foi realizado de forma transparente, sendo considerado o posicionamento de todos os atores envolvidos”, completa a Anvisa.
Projeto em tramitação
A decisão da Anvisa foi tomada justamente em um momento em que o Congresso Nacional discute um projeto de lei que inclui o Crizanlizumabe na relação de medicamentos disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS). O PL está tramitando na Câmara dos Deputados desde o ano de 2021.
Campanha de conscientização
Na última sexta-feira (27), a Fundação de Hematologia e Hemoterapia do Estado da Bahia (Hemoba) lançou uma campanha para a conscientização das pessoas com a doença. Esta campanha foi lançada justamente no Dia de Luta pelos Direitos das Pessoas com Doença Falciforme.
A Bahia é o estado da federação com o maior número de pessoas oficialmente diagnosticadas com esta doença. De acordo com especialistas na área, trata-se de uma enfermidade que atinge, majoritariamente, as pessoas pretas.
“Além dos direitos sociais, como passe livre, aposentadoria especial e auxílio doença, o direito à saúde é fundamental para os pacientes de doença falciforme, e isso inclui o acesso a diagnóstico preciso; medicamentos, tratamento eficaz e, muitas vezes, transfusões de sangue seguras”, destacou Jaqueline Guerreiro, coordenadora do Centro de Referência para a doença.
O que causa a doença
A doença falciforme é uma espécie de anemia causada por uma mutação genética que atinge a hemoglobina, a proteína responsável por levar o oxigênio dos pulmões para os tecidos. Com esta mutação, o formato das hemácias são alteradas para uma espécie de foice.
Pacientes que sofrem com esta doença costumam reclamar de muita dor causada pela obstrução de pequenos vasos sanguíneos. Estas dores podem ser sentidas em qualquer parte do corpo, embora sejam mais comuns nos ossos e nas articulações.
“A doença é mais frequente na população afrodescendente. No Brasil, há um grande número de afrodescendentes, portanto um grupo relevante que pode apresentar o distúrbio supramencionado”, argumenta o autor da proposta que tramita na Câmara, o deputado Ossesio Silva (Republicanos-PE).
“Segundo base de dados do Ministério da Saúde, calcula-se que, por ano, cerca de 3.500 crianças nasçam com o problema de saúde e 200 mil com traço falciforme (que receberam de um dos pais o gene da doença)”, informou o parlamentar.
Dados mais recentes da pasta indicam que a cada 650 bebês que nascem na Bahia, um já tem a doença. A média nacional é de um bebê enfermo para cada mil nascimentos.
Devo seguir tomando o remédio?
Se você tem está doença, agora provavelmente está em dúvida sobre seguir com a medicação ou não, sobretudo depois da decisão da Anvisa. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária falou sobre o tema na decisão.
Segundo eles, os pacientes que ainda estão recebendo o remédio gratuitamente pelo fabricante, poderão seguir usando a medicação, desde que esta seja a indicação dos médicos, em consentimento com os pacientes.
A decisão poderá ser tomada com base na avaliação da relação benefício-risco no uso deste medicamento, e a função que ele está exercendo em seu corpo.