A guerra que o Ministério da Fazenda vem travando contra empresas asiáticas que estariam burlando o pagamento de impostos já está causando impacto. De acordo com as últimas análises de dados, as vendas de varejistas famosas como Shein, Shopee e AliExpress estão sendo notadamente reduzidas no decorrer as últimas semanas.
Ao menos é o que apontam os números divulgados nesta semana pela Vixtra, uma fintech de comércio exterior. Eles tomaram como base os dados do Banco Central (BC). De acordo com o levantamento, o consumo de brasileiros nessas plataformas estrangeiras recuou 25% em abril, em relação aos números registrados em março.
Em termos percentuais, estamos falando de uma queda de 25% nas vendas destas lojas asiáticas para o público brasileiro nos últimos meses. Ao todo, estima-se que houve um recuo de US$ 237 milhões no chamado montante transacionado, que acabou caindo de US$ 938 milhões no último mês de março para US$ 701 milhões em abril.
Não há nesta pesquisa uma medição sobre o humor dos consumidores. Desta forma, não é possível cravar ao certo qual é o motivo da queda nas vendas destas empresas neste momento. Mesmo porque se imagina que cada pessoa pode optar por não comprar um determinado produto em uma determinada loja por um motivo diferente.
Entretanto, os principais analistas acreditam que a redução provavelmente tem relação direta com toda a história de taxação envolvendo empresas como Shein, Shopee e AliExpress e o Governo Federal. Mesmo que os valores ainda não tenham passado por grandes mudanças nestas lojas, parte dos consumidores já podem estar desistindo deste tipo de comércio.
Nos últimos meses, o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT) vem insistindo na ideia de que é necessário fazer com que as empresas paguem os seus impostos devidos. Segundo ele, todo este tema se trataria de uma questão de justiça, já que as varejistas locais pagam os seus tributos normalmente.
Números do Santander
Analistas do banco Santander avaliam que a redução nas vendas feitas em lojas estrangeiras pode, na verdade, ser um ponto positivo para a economia nacional. Segundo esta avaliação, tais quedas podem significar uma boa notícia para varejistas do Brasil.
“Vemos os dados de abril sobre as importações de pequeno valor e a tributação em andamento do comércio eletrônico transfronteiriço como positivos para as empresas locais”, dizem os analistas do Santander.
“Especialmente para os varejistas de vestuário, porque, provavelmente, apontam para uma desaceleração no crescimento da Shein no Brasil, que tem sido visto como uma ameaça para companhias como Renner, C&A e Guararapes (Riachuelo)”, completam.
Até aqui, no entanto, esta boa notícia para as varejistas brasileiras ainda não se refletiu nos números. A C&A, por exemplo, teve prejuízo líquido de R$ 126,3 milhões nos três primeiros meses do ano. A Renner viu este mesmo lucro cair 75% em relação ao mesmo período do ano passado. A Guararapes viu o seu prejuízo mais do que dobrar.
Polêmica com a Shein
Toda a polêmica envolvendo a Shein começou porque o Ministério da Fazenda passou a desconfiar que a empresa estaria usando uma regra de isenção para pessoas físicas no Brasil para sonegar impostos. A pasta acredita que a empresa estaria se passando por uma pessoa física para não pagar os tributos.
Diante disso, a decisão inicial foi acabar com a isenção para pessoas físicas. Assim, a empresa não teria mais nenhuma brecha para burlar. Contudo, esta decisão acabou tendo um efeito negativo na opinião popular, o que fez o governo recuar da decisão de acabar com a isenção para as pessoas físicas.
Contudo, o plano de buscar a taxação das empresas segue. O Ministério da Fazenda estuda outras formas para fazer com que estas empresas paguem os seus tributos.