54% dos moradores das favelas do Rio perderam seus empregos durante a pandemia
Mais de 54% da população que mora nas favelas do Rio de Janeiro afirmaram que perderam o emprego durante a pandemia do novo coronavírus. Os dados referentes aos empregos dos residentes foram divulgados pelo coletivo Movimentos, por meio da pesquisa “Coronavírus nas favelas: a desigualdade e o racismo sem máscaras”.
Nesse contexto, os pesquisadores ouviram 955 pessoas das comunidades nas zonas Norte e Oeste da capital fluminense entre setembro e outubro de 2020. Dessa maneira, o estudo destacou que, das pessoas que mantiveram seus empregos, 34% são profissionais liberais ou estão em trabalhos informais. Apenas 26% dos entrevistados possuíam empregos com carteira assinada.
Segundo os dados apresentados, as pessoas pretas foram as mais afetadas com a perda de empregos durante a pandemia de Covid-19. Sendo assim, este grupo representa cerca de 30% dos trabalhadores com carteira assinada que perderam o emprego.
“Quando atentamos para o recorte racial dentro do status de empregabilidade, notamos que menos de 1/3 de pessoas autodeclaradas não brancas trabalha com CLT ou é funcionário público. Além disso, dentre os não brancos, 26.8% estão desempregados e 30% estão em empregos informais”, diz um trecho da pesquisa.
Deterioração da saúde dos moradores das comunidades
A preocupação com o desemprego também causou problemas de saúde entre os moradores das favelas do Rio, segundo a pesquisa. Nesse contexto, cerca de 76% dos respondentes declararam ter algum distúrbio do sono. Já 43,1% alegaram ter algum nível de depressão, tristeza, medo e pânico.
A sanitarista e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Bianca Leandro, destacou à CNN mais detalhes sobre o distúrbio. Segundo a pesquisadora, os problemas registrados pelos moradores das favelas não começaram durante a pandemia de Covid-19, no entanto, foram agravados.
“Este relatório é um registro histórico do impacto da Covid-19 nas favelas, não apenas na questão de adoecimento e morte, mas nos demais aspectos da vida. Há diversas formas de violências e opressões que são mostradas por meio das informações coletadas e que demandam uma atuação necessária e mais estruturada por parte do poder público”, disse a pesquisadora da Fiocruz.
Condições socioeconômicas pela falta de emprego
Além dos dados sobre empregos, a pesquisa apontou que, no Brasil, pessoas de baixa escolaridade têm taxas de mortalidade três vezes maiores (71,3%) do que as de pessoas com nível superior (22,5%). Sobre a falta de empregos, a situação foi demonstrada por 26,8% da população preta e 30% estão em trabalhos informais.
Além disso, entre os respondentes da pesquisa, 62% solicitaram o Auxílio Emergencial oferecido pelo Governo Federal, mas apenas 52% receberam o benefício. Sem o auxílio e com a falta de empregos, 50% solicitaram doações e, dentre esses, 56% receberam ajuda. Já 36% das pessoas ajudaram arrecadando ou fazendo doações.
Por fim, a pesquisa também apontou que a política de guerra às drogas é utilizada para justificar a invasão cotidiana e violenta feita nas favelas. A coordenadora do Movimentos MC Martina, lembra que cotidianamente essa população sofre violação dos direitos humanos e tem seu direito de ir e vir cerceados. O que mostra que além da falta de empregos, o sofrimento também é causado pela violência institucional.