Um em cada 10 brasileiros já ouviu de seu parceiro(a) o pedido para instalar um programa de monitoramento em seu smartphone, aponta a pesquisa “Stalking online em relacionamentos” da Kaspersky, fornecedora de soluções de cibersegurança. Infelizmente, o estudo mostra que esse dado não indica um cenário positivo, pois uma parcela importante dos entrevistados (30%) acredita que é justificável espionar sem o consentimento da pessoa, como instalar um app sem seu conhecimento.
LEIA MAIS: 73% dos brasileiros “stalkeiam” potenciais parceiros de apps de namoro
A pesquisa alerta que o mais preocupante é que 14% dos brasileiros acham normal fazer o rastreamento, enquanto 16% acreditam que ele é justificado apenas em certas circunstâncias (resultando no total de 30% que aceitam). Entre as motivações usadas para explicar essa atitude está uma possível infidelidade (67%), questões de segurança (54%) e uma suspeita de atividade criminosa do parceiro.
Especialistas ouvidos pela pesquisa da Kaspersky apontam que é comum que o(a) abusador(a) disfarce sua verdadeira intenção explicando a necessidade do monitoramento por questões de segurança ou prova de confiança. Mas que isso, na verdade, é uma forma de violência doméstica para persuadir vítimas a consentirem com o crime de stalking.
O que diferencia o crime e uma relação saudável que usa um programa de monitoramento é o consentimento. A pesquisa da Kaspersky abordou esse cenário e revelou que cerca de 23% das pessoas no Brasil aceitariam o monitoramento em determinadas condições: 11% para segurança e 12% caso ele fosse mútuo. Porém, quase quatro em 10 brasileiros pensam que uma relação deve ser totalmente transparente.
App para espionar no celular é a forma mais comum de perseguição digital
O estudo também aponta as formas mais comuns deste crime, com o monitoramento por meio do celular liderando disparado com 54% das respostas de quem foi/é vítima de stalking. Outras formas incluem o uso de dispositivos criados especificamente para fazer um monitoramento (36%), programas instalados em computadores (24%), espionagem por meio da webcam (14%) e dispositivos para casa inteligente (12%). É importante destacar que 13% das vítimas não souberam responder como a perseguição ocorreu, denotando como o assunto ainda é nebuloso.
LEIA MAIS: Mais da metade dos brasileiros sofreram crimes cibernéticos em 2021
O estudo ainda mostra que 70% dos brasileiros não sabem o que é stalkerware ou spouseware, ou seja, desconhecem a existência de programas que permitem saber a localização de alguém em tempo real, ler mensagens trocadas em aplicativos e escutar ligações telefônicas
As funções e capacidade de monitoramento dos programas stalkerware também foi tema do estudo. De acordo com os dados no Brasil, o monitoramento das atividades na Internet (79%), as informações sobre localização da pessoa (63%), gravações em vídeo e áudio (53%) e o comando para realizar uma captura de tela são os recursos mais conhecidos. Porém, a minoria sabe que o programa avisa o(a) abusador(a) quando a vítima tenta desinstalá-lo (34%) ou quando ela(e) chega em casa (33%).
Problema atinge ambos os gêneros
O problema da perseguição como uma obsessão é tão sério no Brasil que ganhou a Lei 14.132/21 em 2021. Ela foi aprovada em uma sessão do Senado dedicada a questões femininas e em celebração ao Dia Internacional da Mulher, mas a motivação real é o aumento da violência doméstica contra as mulheres durante o isolamento social na pandemia: o Brasil é o quinto pais com mais feminicídios no mundo.
LEIA MAIS: Governos são acusados de usarem app de espionagem em smartphones de jornalistas e rivais políticos
A questão de gênero está presente no estudo da Kaspersky, mas os resultados brasileiros mostram um cenário mais igualitário na maior parte dos casos. Ainda segundo a pesquisa, um em cada quatro brasileiros já foi ou está sofrendo um monitoramento abusivo por meio da tecnologia. Outro dado importante que reforça a importância do tema é quantidade de pessoas que confirmaram ter sido ou ser vítima de perseguição abusiva que utiliza a tecnologia. Entre os brasileiros respondentes, 25% confirmaram essa situação – sendo que entre os homens, 22% foram ou são vítimas, e entre as mulheres, 28% foram ou são.
Entre os participantes que afirmaram conhecer o que é o stalkerware (app usado para espionar) ou spouseware (no total, representam 30%), há mais homens (32%) do que mulheres (29%). Já as respostas globais, mostram uma diferença de 5%. Entre quem respondeu não conhecer, a diferença entre os gêneros é de 1% (50% homens – 51% mulheres, em um total de 50%). O restante (20%) não soube dizer ou não tinha certeza da resposta.
A pesquisa “Stalking online em relacionamentos” foi realizada a pedido da Kaspersky pela empresa de pesquisa Sapio de forma online em setembro de 2021 e abrangeu um universo de 21 mil participantes de 21 países, incluindo o Brasil.