Os brasileiros enfrentam uma realidade preocupante quando se trata de inadimplência. De acordo com uma pesquisa realizada pela Quaest, metade dos consumidores com nome sujo não consegue sair do cadastro negativo. Isso significa que essas pessoas estão com restrições para obter crédito e enfrentam dificuldades para regularizar sua situação financeira.
Os números da inadimplência no Brasil
A pesquisa revelou que 56% dos brasileiros já foram incluídos no SPC (Serviço de Proteção ao Crédito) e na Serasa, e surpreendentemente, 51% deles afirmam que não conseguiram limpar seus nomes. Esses dados alarmantes mostram a gravidade do problema e a dificuldade que muitos enfrentam para se livrar das dívidas.
A pesquisa foi realizada presencialmente, entrevistando 2.029 pessoas com 16 anos ou mais, no período de 10 a 14 de agosto. Com uma margem de erro de 2,2 pontos percentuais, os dados coletados são representativos da realidade brasileira.
O perfil dos inadimplentes
A pesquisa revelou que a maior concentração de consumidores com nome sujo está na faixa salarial de até dois salários mínimos, com 58% do total. Outros 58% estão na faixa de dois a cinco salários mínimos, e 50% ganham acima de cinco salários mínimos. Esses números demonstram que a inadimplência não é exclusiva de uma determinada faixa de renda, afetando pessoas de diferentes níveis socioeconômicos.
Além disso, a pesquisa mostrou que 66% dos entrevistados com pendências financeiras afirmaram ter muitas dívidas e 72% enfrentam dificuldades para pagá-las. Essa situação reflete a realidade de muitas famílias brasileiras, que estão sobrecarregadas financeiramente e lutando para honrar seus compromissos.
Regionalidade da inadimplência
A pesquisa também revelou a distribuição geográfica dos consumidores inadimplentes. A região Centro-Oeste lidera com 38% dos entrevistados, seguida pelo Nordeste com 35%, Sudeste com 29% e Sul com 25%. Essa distribuição mostra que a inadimplência é um problema generalizado em todo o país, afetando diferentes regiões e estados.
As causas
Existem diversos fatores que contribuem para o aumento do número de inadimplentes no Brasil. Entre eles, destaca-se o aumento da taxa básica de juros (Selic) nos últimos anos, o que encareceu produtos, serviços e o crédito em geral. Esse cenário dificultou o poder de compra das famílias brasileiras, levando muitas delas a recorrerem a empréstimos e ao uso do cartão de crédito.
Segundo a consultora financeira Renata Cavalheiro, o cartão de crédito é a principal causa de endividamento para os brasileiros que ganham mais de cinco salários mínimos (37%), seguido por aqueles que ganham entre dois e cinco salários (35%) e até mesmo para os que ganham até dois salários (31%). Ela ressalta que o cartão de crédito pode ser uma ferramenta útil quando usado corretamente, mas muitas famílias acabam se endividando devido à falta de planejamento financeiro.
Além do cartão de crédito, outras dívidas também consomem o salário dos entrevistados. O pagamento de imóveis, financiamentos ou aluguéis representa 14% das dívidas, seguido por 11% de empréstimos bancários. Essa diversidade de dívidas mostra a complexidade da situação financeira enfrentada pelos brasileiros inadimplentes.
Impacto na vida das pessoas
A pesquisa revelou que a inadimplência afeta de forma desproporcional a população negra. Pretos e pardos representam 70% dos entrevistados que afirmaram ter muitas dívidas, enquanto brancos correspondem a apenas 27%. Essa disparidade mostra como a inadimplência pode agravar as desigualdades sociais no país.
Até julho deste ano, a Serasa registrou a presença de 71,41 milhões de inadimplentes. A consultora financeira Renata Cavalheiro destaca que, apesar do valor médio das dívidas ser de R$ 4.000, esse montante pode representar uma dificuldade significativa para as famílias brasileiras, principalmente considerando que o salário mínimo é de R$ 1.320. Essa realidade reforça a importância de buscar soluções para sair do cadastro negativo.
A solução: O programa Desenrola Brasil
Uma boa notícia para os brasileiros com nome sujo é o programa Desenrola Brasil, do Ministério da Fazenda. Segundo a pesquisa da Quaest, 70% dos entrevistados gostam do programa, que tem como objetivo diminuir o número de endividados no país. Essa aprovação é observada tanto entre aqueles que possuem muitas dívidas (73%), quanto entre os que não possuem dívidas (63%). Além disso, o programa é especialmente bem-visto pelas pessoas que ainda não conseguiram limpar seus nomes, com 79% de aprovação.
O programa do Governo Federal já renegociou um total de 1,3 milhão de dívidas, o equivalente a R$ 8,1 bilhões, em apenas quatro semanas, conforme dados da Febraban (Federação Brasileira de Bancos). Essa iniciativa tem se mostrado uma ferramenta útil, estimulando uma comunicação positiva entre credores e devedores para a solução efetiva das pendências financeiras.
Dicas para evitar a inadimplência
Para evitar a inadimplência, é fundamental ter uma noção realista da renda disponível e dos gastos mensais. Guilherme da Silva, mestre em economia pela Unesp, sugere que seja feito um planejamento financeiro detalhado, levando em consideração os gastos fixos, como energia, água, habitação, alimentação, transporte e educação dos filhos. Em seguida, é necessário analisar os gastos variáveis e questionar se há disponibilidade financeira para despesas adicionais.
Caso a renda não seja suficiente para cobrir os gastos fixos, é importante adotar mudanças de comportamento, como economizar água e energia, negociar o valor do aluguel ou buscar alternativas mais econômicas. Essas medidas podem ajudar a equilibrar o orçamento e evitar o acúmulo de dívidas.
Para as pessoas que já estão com o nome sujo e desejam sair dessa situação, é recomendado priorizar o pagamento da dívida. Outra opção é buscar a reestruturação da dívida, negociando com a instituição para encontrar uma solução que seja possível de ser cumprida sem comprometer a subsistência do indivíduo. Além disso, os consumidores podem contar com o auxílio gratuito dos Núcleos de Superendividamento do Procon e da parceria da Febraban com as Defensorias Públicas dos estados, que ajudam a intermediar acordos entre consumidores e instituições financeiras.
A inadimplência é um problema que afeta milhões de brasileiros, mas é possível superá-la com planejamento financeiro, educação financeira e o auxílio de programas como o Desenrola Brasil. É fundamental que as pessoas busquem soluções para regularizar sua situação financeira e evitar o ciclo vicioso do endividamento. O caminho para sair do cadastro negativo começa com a conscientização e a busca por alternativas viáveis para quitar as dívidas e reconstruir a saúde financeira.
“Programas como o Desenrola são ferramentas muito úteis, uma vez que estimulam uma comunicação positiva entre credores e devedores em um espírito colaborativo para a solução efetiva de pendências financeiras.” – Alexandre Ricco, advogado e especialista em direito do consumidor.