Já imaginou colaborar para desvendar os mistérios do cosmos em uma posição relaxada e ainda ser remunerado generosamente por isso? Doze indivíduos aceitaram o desafio proposto. O desenrolar dessa fase, assim como a posição adotada pelos voluntários, pode fornecer insights sobre como seria pedalar no espaço.
A investigação está em andamento na França, com um grupo de 12 homens voluntários. Cada participante recebeu uma quantia de 18 mil euros, equivalente a quase R$ 100 mil. Eles estão restritos à cama, sem poder levantar em momento algum. Somente em ocasiões específicas, como durante as refeições, é permitido um leve inclinar, desde que pelo menos um dos ombros permaneça em contato com a cama.
A agência espacial europeia foi estabelecida em 1975 e dedica-se a explorar o espaço através de experimentos imersivos, visando garantir a segurança das tripulações. Nesta ocasião, a pesquisa busca compreender os efeitos que a prática do ciclismo fora da Terra poderia ter sobre o corpo humano.
Os voluntários foram divididos em três grupos: um grupo não realiza o exercício de pedalar; outro grupo simula a atividade durante 30 minutos todos os dias; e o terceiro grupo combina a prática do ciclismo com a exposição à centrífuga. Em todas as situações, os participantes permanecem deitados.
Os voluntários são monitorados durante 24 horas por dia, contando com a presença de psicólogos, efeitos previsíveis são esperados. “Com base em estudos prévios, sabemos que há impactos nos ossos, na força muscular e até certo ponto no coração”, destaca a pesquisadora. Em termos físicos, um dos voluntários relata: “Observamos que os músculos se tornaram mais flexíveis”.
Os efeitos benéficos de uma noite de sono profundo cognitivo são amplamente conhecidos. Assim, conseguem reiniciar o sistema nervoso, manter a saúde cardíaca e promover o desenvolvimento.
Recentemente, uma nova pesquisa sugere que um repouso adequado pode contribuir para a produção de anticorpos após a administração de vacinas. Além disso, o estudo revela uma clara redução na resposta imunológica em indivíduos que dormem menos de seis horas antes da imunização.
Embora não tenha incluído dados específicos da vacina contra a Covid, os pesquisadores afirmam que a diminuição dos anticorpos causada por uma noite mal dormida equivale à queda natural observada cerca de dois meses após a imunização com vacinas de RNA. É importante ressaltar que essa comparação se baseia apenas nos níveis de anticorpos circulantes no organismo, sem considerar a resposta imunológica celular, que é considerada mais duradoura.
A pesquisa foi publicada na revista especializada Current Biology em 13 de junho. Ademais, contou com a colaboração de cientistas da Alemanha, França, Reino Unido, Suécia e Estados Unidos.
Para analisar o impacto do sono na vacinação, os especialistas realizaram uma meta-análise de sete estudos anteriores. Com isso, investigaram a relação entre a quantidade de horas dormidas e os níveis de anticorpos do tipo IgG (imunoglobulina G, associada à resposta imunológica de memória) após a vacinação contra gripe ou hepatite.
Os resultados revelaram que indivíduos que dormiam seis horas ou menos apresentavam menor capacidade de produzir anticorpos. Mas isso, em comparação àqueles que tinham uma duração de sono mais prolongada.
Ao analisar as diferenças entre homens e mulheres, observou-se que as mulheres não apresentaram uma redução significativa na capacidade de produção de anticorpos após a vacinação, associada à quantidade de sono. No entanto, nos homens, essa diferença foi estatisticamente significativa, com um índice de confiança de 95%.
É importante ressaltar que o estudo excluiu a análise de pessoas com 65 anos ou mais. Isso porque esse grupo já manifesta um fenômeno conhecido como imunossenescência. Sua característica é uma resposta protetora reduzida devido ao envelhecimento do sistema imunológico.
Os pesquisadores apontam que as diferenças de gênero observadas podem estar relacionadas a fatores hormonais. Dessa forma, sabe-se que as mulheres possuem características metabólicas específicas associadas ao ciclo menstrual. No entanto, para confirmar essa hipótese, seria necessário isolar os fatores que podem influenciar a produção de anticorpos, o que não foi objetivo deste estudo.
Em conclusão, os cientistas afirmam que essa pesquisa fornece evidências importantes sobre o papel do sono na resposta imunológica. “Como sugere o estudo, dormir quantidades adequadas de sono (pelo menos seis horas por noite) nos dias que antecedem a vacinação pode aprimorar a resposta de anticorpos contra várias formas de vírus. Essa recomendação de obter um sono adequado está alinhada com outras recomendações semelhantes e pode ser uma forma eficaz e de baixo custo de fortalecer o sistema imunológico”, concluem os pesquisadores.