Saúde e Bem Estar

Solidão afeta o coração: solteiros podem apresentar maior risco de morte por insuficiência cardíaca

Recentes indícios sugerem que o gênero e o estado civil de um indivíduo podem ter influência sobre o risco e prognóstico de enfermidades cardíacas. Uma nova pesquisa, apresentada em um congresso global de cardiologia, revela que mulheres e homens solteiros possuem o dobro de chances de falecer nos cinco anos subsequentes ao diagnóstico de insuficiência cardíaca.

A insuficiência cardíaca é uma condição de saúde crônica caracterizada pela incapacidade do coração de bombear o sangue de maneira adequada para os demais órgãos do corpo. Tal condição pode acarretar complicações nos pulmões, rins e fígado. A enfermidade afeta aproximadamente 3 milhões de cidadãos brasileiros e apresenta sintomas como dispneia, fadiga e edema nos pés e pernas.

A relação dos solteiros com a insuficiência cardíaca é real

Há uma correlação entre o estado civil de um indivíduo e sua perspectiva clínica – com relação à insuficiência cardíaca. Contudo, é crucial desvendar o porquê desse fenômeno. À medida que nossa população envelhece e vive por mais tempo, torna-se imperativo determinar a melhor maneira de apoiar as pessoas durante o processo de envelhecimento.

Isso talvez não seja tão simples quanto tomar um medicamento. É essencial adotar uma abordagem personalizada e abrangente para auxiliar os pacientes, especialmente em condições crônicas como a insuficiência cardíaca.

As pesquisas utilizam informações de um abrangente levantamento sobre aterosclerose, uma doença arterial coronariana originada pelo acúmulo de placas nas artérias que fornecem sangue ao coração. O estudo incluiu 6.800 adultos norte-americanos entre 45 e 84 anos.

Os cientistas compararam as taxas de sobrevivência entre os 94 participantes diagnosticados com insuficiência cardíaca. Para isso, foi considerado gênero e estado civil, ao longo de uma média de 4,7 anos de acompanhamento.

Com o intuito de discernir o impacto do estado civil de outros fatores de risco previamente identificados, os pesquisadores realizaram ajustes na idade para explicar a elevada taxa natural de mortalidade entre os idosos. Além disso, consideraram o estado mental para compreender os efeitos conhecidos da depressão e de outros distúrbios na sobrevida de pacientes com insuficiência cardíaca.

Os resultados indicaram que homens solteiros apresentaram o dobro de probabilidade de falecer cerca de cinco anos após o diagnóstico. Isso contrasta com mulheres de qualquer estado civil.

Os homens que permaneceram solteiros durante a vida tinham aproximadamente 2,2 vezes mais chances de morte do que aqueles que estavam casados. Por outro lado, homens viúvos, divorciados ou separados não demonstraram risco aumentado de morte comparado a homens casados. De acordo com a pesquisa, o estado civil não revelou ser um indicador significativo de mortalidade entre as mulheres.

Causas multifatoriais

Os pesquisadores reconhecem que as causas subjacentes à relação entre o estado civil de um homem e a sua sobrevivência frente à insuficiência cardíaca demandam investigações mais abrangentes. Entre as possíveis explicações figuram:

  • Interação social ou o isolamento;
  • Elementos que podem influenciar significativamente o estado de espírito e o bem-estar geral;
  • Apoio no gerenciamento de cuidados domiciliares;
  • Cumprimento da medicação;
  • Acesso a consultas médicas;
  • Disparidades nos comportamentos relacionados à saúde, como dieta, exercício e consumo de álcool.

Os especialistas presumem que diversos fatores podem desempenhar um papel no prognóstico da insuficiência cardíaca para cada indivíduo. No entanto, o entendimento da situação do paciente no ambiente domiciliar pode auxiliar na definição de abordagens mais personalizadas para os cuidados médicos.

Quem se mantém solteiro por muito tempo pode, literalmente, morrer do coração – Imagem: Canva

Acompanhamento

Os principais indicadores de insuficiência cardíaca abrangem fadiga, edema nas pernas, dispneia e limitação na prática de exercícios físicos. Outros sinais também podem se manifestar, como tosse noturna, perda de apetite, inchaço e desconforto abdominal, variações no peso (ganho ou perda substancial) ao longo dos meses.

A insuficiência cardíaca possui a capacidade de diminuir significativamente a expectativa de vida. Após o diagnóstico, aproximadamente metade dos pacientes pode enfrentar óbito em até cinco anos. Embora não exista cura definitiva para essa condição, medicamentos, ajustes na alimentação e prática regular de exercícios podem contribuir para prolongar a vida dos pacientes e mitigar os sintomas.

Dada a sua natureza crônica, a insuficiência cardíaca demanda vigilância constante e gestão ativa ao longo da vida do paciente. Isso engloba consultas médicas periódicas e atenção contínua em ambiente domiciliar, incluindo:

  • Monitoramento do peso (pois ganhos rápidos podem indicar acumulação de líquidos);
  • Observação minuciosa de inchaço;
  • Agravamento da dificuldade respiratória;
  • Fadiga;
  • Possíveis efeitos adversos de medicamentos;
  • Outras questões.

O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece suporte a indivíduos acometidos pela insuficiência cardíaca. Assim, proporcionam ações de prevenção e controle, diagnóstico, disponibilização de medicamentos específicos, orientações e acompanhamento.