Salários dos servidores: nova regra custará 110 leitos de UTI ao ano
Um total de R$ 66 milhões é o valor que será gasto com a nova regra que fura o teto de salários dos servidores. Como o valor daria para comprar, por exemplo, a instalação de 110 leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) ao ano ou então construir 37 novas creches no Brasil.
As estimativas estão, respectivamente, de acordo com a Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) e com a Associação Contas Abertas.
A nova regra de salários permite que seja acumulado valor do cargo na ativa e da aposentadoria. Cerca de 5 mil servidores devem receber aumento nos salários.
Antes nenhum servidor poderia receber mais R$ 39,3 mil por mês, o teto constitucional do salário do funcionalismo. Porém, a regra não deve se estabelecer mais no caso de acúmulos de benefícios e salários.
Políticos do alto escalão estão entre os principais beneficiados com a medida, o que inclui até o presidente e o vice-presidente do Brasil.
Veja uma lista com principais nomes abaixo:
- Jair Bolsonaro (presidente) – novo salário de R$ 41,6 mil (aumento de 6%);
- Hamilton Mourão (vice-presidente) – novo salário de R$ 63,5 mil (aumento de 62%);
- Luiz Eduardo Ramos (Casa Civil) – novo salário de R$ 66,4 mil (aumento de 69%);
- Braga Netto (Defesa) – novo salário de R$ 62 mil (aumento de 58%);
- Augusto Heleno – Ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional no salário de R$ 63 mil (aumento de 60%);
- Marcos Pontes (Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações) novo salário de R$ 56,4 mil (aumento de 44%).
Mudança de salários privilegia classe política
Para o diretor-executivo da Contas Abertas, Gil Castello Branco, o valor é uma parte pequena do orçamento, mas poderia ser utilizado de maneira estratégica para população.
“Esse valor de R$ 66 milhões é relativamente pequeno dentro do Orçamento como um todo, mas é uma quantia suficiente para a construção de 37 creches, que atenderiam, em dois turnos, 188 crianças. No total, seriam quase 7 mil crianças. Ou seja, 7 mil famílias que seriam beneficiadas, que precisam deixar os filhos em uma creche para poder ir trabalhar”, afirmou Castello Branco, ao G1.
“Então, essa é a relação: nós estamos beneficiando pessoas que já ganham um bom salário, um salário fixo, que não estão afetadas pela pandemia, para continuar a prejudicar um grupo de pessoas que não tem, inclusive, como ir trabalhar”, completou o especialista em contas públicas.
O diretor-executivo ainda apontou um fato curioso, o orçamento de 2021 previa inicialmente R$ 108,8 milhões de investimentos com aplicação para a construção de creches, deste valor o governo bloqueou R$ 58,8 milhões.
“Ou seja, o governo bloqueou praticamente o mesmo montante que vai custar o chamado ‘teto duplex’”, lamentou.