Risco Brasil ou o risco país é um indicador que orienta investidores estrangeiros para negociar ou não no Brasil, de acordo com o ambiente financeiro ou com sua capacidade de honrar as dívidas, ou o retorno aos investimentos.
Este indicador se chama EMBI+ (Emergering Markets Bond Index Plus, no português: Índice de Títulos de Mercados Emergentes). Criado em 1992, ele é calculado pelo J.P. Morgan Chase, um dos maiores bancos americanos. Ele representa o perigo que o investidor estrangeiro está correndo, caso deseje aportar recursos financeiros em algum país. Algumas das nações que fazem parte deste índice são o Brasil, Argentina, Rússia, México, Turquia e África do Sul.
Através do desempenho diário dos títulos da dívida dos países emergentes em relação aos títulos do Tesouro dos Estados Unidos (que é o país melhor pagador do mundo, de risco nulo). Este índice leva em conta o histórico e saúde financeira dos países, assim como fatores sociais e políticos
O EMBI+ auxilia os investidores na compreensão do risco de investir no país, quanto mais alto for seu valor, maior a percepção de risco.
Segundo dados do Ipeadata, a situação do risco-país brasileiro, sob a ótica do EMBI+, segue melhorando. No final do mês de Março de 2020, quando os casos de coronavírus começaram a aparecer, o risco-país brasileiro deu um salto para 476 pontos. Em 2021, no final de Março, o indicador brasileiro estava com 294 pontos. Isso se deu por conta da enorme migração de capitais estrangeiros de países emergentes para países desenvolvidos, por conta da moeda forte e menos riscos de colapsos financeiros em momentos de crise.
Recentemente, falamos aqui sobre a tendência do dólar de permanecer em alta, devido à vários fatores, internos e externos. Mas felizmente, as previsões dos mais otimistas se confirmaram: o dólar opera em queda nesta quarta-feira (2), dando sequência ao recuo acentuado de 1,49%, que levou a moeda a fechar abaixo de R$ 5,15, no menor patamar desde Dezembro passado.
Devemos sempre nos lembrar que o dólar é um referencial. Quando seu valor aumenta ou diminui, é em comparação com o real, nossa moeda. Quando em queda, o dólar sinaliza maior aumento do poder de compra do brasileiro em tudo o que é influenciado pela moeda estrangeira.
Essa queda se deu devido à divulgação de boas notícias. Segundo dados do IBGE, o PIB (Produto Interno Bruto) cresceu 1,2% no primeiro trimestre deste ano, o que nos levou à uma patamar pré-pandemia, surpreendendo positivamente o mercado.
O Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores Brasileira, se mantém em alta, batendo o quarto recorde seguido. Como o risco Brasil está ligado à Ibovespa, quanto menor a chance de haver um calote na nossa dívida externa, mais saudável o cenário se torna para o mercado acionário e, consequentemente, para os investidores.
Estas notícias devem ajudar o Brasil a atrair mais investimento estrangeiro. Isso leva ao que os economistas chamam de recuperação em “V”, ou seja, após uma brusca queda, inicia-se o processo de recuperação. Isso gera base para crer que o PIB anual pode fechar em 5,0%, segundo as previsões.
Entre os fatores que alteram o risco país, podemos citar uma onda de manifestações, tais como as que aconteceram na Primavera Árabe, ou um processo de impeachment. Simplificando, quando não será possível fazer uma análise eficiente de risco-retorno pelo lado do investidor, acontece um afastamento de recursos internacionais.
Analisando individualmente os setores, nota-se que essa recuperação do PIB não é homogênea. O PIB do setor agrícola cresceu 6%, ao passo que o de serviços, setor que mais emprega no país, ficou cerca de 2% abaixo do patamar pré-pandemia.
Os serviços que dependem de aglomerações e contato social, como alojamento, alimentação, lazer e turismo respondem por 20% do PIB e 32% do emprego do país. Estas atividades seguem com sua participação baixa no PIB, refletindo isso nas taxas de desemprego.
Sabemos que a inflação afeta produtos internacionais e importados. Mas o seu efeito chega também em produtos que, teoricamente, não teriam influência da moeda estrangeira em seu valor.
Isso acontece porque muitos produtos exportados são comercializados em dólar e, se lá fora eles são vendidos mais caros, o comerciante do Brasil vai aumentar o preço daqui para não sair em desvantagem. É o caso das commodities, como carne, soja, açúcar, arroz, entre outros. Assim, esse fenômeno faz os preços subirem, diminuindo o poder de compra dos brasileiros.
Um ambiente politicamente instável afeta os investimentos, porque dificilmente alguém entra em um jogo onde as regras podem mudar do dia para noite. Por isso a instabilidade política no Brasil ainda tem gerado insegurança nos potenciais investidores.
Todo negócio é baseado em um planejamento estratégico, que leva em consideração as estimativas de custos, previsão de receitas, entre outros fatores. Esse plano é pautado na legislação de onde se está fazendo esse investimento. Com o ambiente politicamente instável, existe o risco da própria legislação sofrer alterações. Isso acende um sinal de alerta aos investidores.
A legislação tributária brasileira é conhecida como uma das mais complexas do mundo, e pra piorar, ela vem sofrendo alterações com muita frequência. Isso é normal em momentos de significativas mudanças politicas e econômicas, mas é um peso negativo no Risco Brasil.
A dívida pública surge e aumenta sempre que o governo gasta mais do que arrecada. Assim, quando os impostos e demais receitas não são suficientes para cobrir as despesas, o governo pega emprestado de seus detentores de títulos (pessoas físicas, empresas, bancos etc).
Embora este já seja um problema histórico no Brasil, a pandemia de Covid-19 fez o governo tomar emprestado um grande valor para custear medidas de enfrentamento e programas sociais, como o Auxilio Emergencial. Entendendo que esse é um problem à nível mundial, Fábio Akira, economista-chefe da BlueLine Asset Management, comenta ao InvestNews que “houve, obviamente, uma deterioração adicional. O mundo inteiro teve que fazer expansões fiscais de magnitude elevada porque todo mundo entendeu que isso era necessário para poupar vidas”. Entretanto, ele acrescenta: “Não é isso que está afetando a incerteza e os ativos financeiros hoje. A grande dificuldade do Brasil é dar visibilidade sobre quando vai conseguir normalizar suas contas públicas“.