Redes comunitárias cumprem papel de levar Internet para povos tradicionais
Quatro em cada cinco redes comunitárias entrevistadas estão presentes em localidades de povos tradicionais como comunidades quilombolas, aldeias indígenas ou áreas ribeirinhas
As redes comunitárias são alternativa para promover a inclusão digital em regiões de povos tradicionais e com pouca oferta de infraestrutura e serviços de Internet. A conclusão é de um levantamento inédito produzido pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) e pelo Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br). A maioria dessas redes (83%) estão presentes em localidades remotas e que apresentam maior vulnerabilidade:
- 40% delas em quilombos ou territórios quilombolas;
- 33% em aldeias ou territórios indígenas;
- 23% em áreas ribeirinhas.
O estudo “Redes comunitárias de Internet no Brasil: experiências de implantação e desafios para a inclusão digital” teve o objetivo de detectar o estágio de desenvolvimento dessas redes, compreender os seus modos de operação e seus efeitos nos territórios em que atuam, bem como identificar barreiras e maneiras de fomentar a sua sustentabilidade.
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O levantamento mapeou 63 redes comunitárias em todas as regiões do Brasil. Foram entrevistados gestores de 40 redes comunitárias entre 25 de novembro de 2021 e 10 de março de 2022. No momento da coleta, 24 (60%) das redes comunitárias ouvidas estavam ativas, 14 (35%) estavam paralisadas momentaneamente ou em implementação e duas (5%) delas haviam sido encerradas definitivamente.
Segundo o NIC.br, as redes comunitárias de Internet têm um papel estratégico de promover conectividade em áreas desatendidas e em comunidades mais vulnerabilizadas. Elas também conseguem estimular a apropriação da tecnologia por essas comunidades.
Perfil das redes
Segundo o estudo, os principais beneficiários das redes comunitárias são os moradores de entornos urbanos (58%). As redes também mencionaram visitantes daquelas áreas, associações (43%), além de outras instituições como escolas e igrejas (35%) e comerciantes locais (25%).
Em 45% das redes comunitárias, os beneficiários participam das decisões sobre seu funcionamento, e em 35% delas as principais questões são decididas por um conselho ou grupo deliberativo.
O perfil dos gestores dessas redes reflete a diversidade da comunidade, sendo 55% deles pretos ou pardos e 20% indígenas – proporção superior à média da população nacional. Já em relação à escolaridade, 40% deles têm ensino superior e 33%, pós-graduação.
A pesquisa mostrou que quase a totalidade das redes comunitárias mapeadas (93%) se definem como “organizações sem fins lucrativos”. Um quarto delas (23%) afirmaram depender de um investimento médio mensal de mais de R$ 1 mil para se manterem ativas, e 38% um custo de até R$ 1 mil.
Para financiá-las, 38% das redes comunitárias investigadas se valem de doações voluntárias de pessoas da própria comunidade, e igual proporção contava com o financiamento de organizações não governamentais. Em 28% delas, eram cobradas mensalidades ou anuidades dos usuários.
Quando questionados sobre quão seguros estavam de que a sua rede estaria funcionando nos próximos 12 meses, 53% dos entrevistados (21 entre as 40 investigadas) afirmam estar muito seguros ou seguros de que a rede continuaria operando nos próximos 12 meses; 18% declaram estar nem seguros nem inseguros; e 23% declaram estar pouco ou nada seguros, representando quase um quarto das redes analisadas.
Principais atividades
De acordo com os gestores ouvidos pela pesquisa, entre as principais atividades realizadas pelos usuários das redes estão a promoção de festividades locais e a mobilização dos membros sobre temas de interesse e campanhas (ambas 50%), o que reforça o papel dessas redes na valorização de aspectos culturais e políticos da comunidade.
Os principais serviços oferecidos são espaços para guardar, compartilhar online arquivos e documentos (28%), a disponibilização de Intranet (23%), e o oferecimento de mural de avisos da comunidade pela Internet (18%). Serviços de rádio comunitária própria (13%) e TV comunitária própria (8%) foram mencionados em menores proporções.
Quanto à tecnologia de conexão, 18% usavam rádio; 18% satélite e 13% fibra óptica. Isso contrasta com a situação encontrada na média dos lares brasileiros, nos quais, segundo a pesquisa TIC Domicílios 2021, predomina a conexão por cabo ou fibra óptica. Ao mesmo tempo, a prevalência de rádio e satélite nessas comunidades indica que grande parte dessas redes opera em territórios com obstáculos físicos adicionais à conectividade.