Queda dos Juros não deve ficar mais intensa no Brasil, avalia Copom
O Banco Central (BC) divulgou nesta terça-feira (26) a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que reduziu em 0,50 ponto percentual (p.p.) a taxa básica de juro da economia brasileira, de 13,25% para 12,75% ao ano.
De acordo com o documento, a condução da política monetária deverá continuar no mesmo ritmo, sem aceleração. Na verdade, o Copom já havia informado no início de agosto, quando promoveu o primeiro corte dos juros, que as reuniões seguintes deveriam manter a redução de 0,50 p.p., algo que se repetiu no encontro de setembro.
Contudo, alguns analistas acreditavam que o Copom poderia intensificar esse corte, para 0,75 p.p. nos próximos encontros. Aliás, os dados mais recentes sobre a inflação no Brasil fortaleciam essa ideia de redução mais firme dos juros. Entretanto, a ata do Copom revelou que é “pouco provável” que isso aconteça.
“O comitê seguiu avaliando que, entre as possibilidades que justificariam observarmos expectativas de inflação acima da meta estariam as preocupações no âmbito fiscal, receios com a desinflação global e a possível percepção, por parte de analistas, de que o Copom, ao longo do tempo, poderia se tornar mais leniente no combate à inflação”, informou o documento.
Risco fiscal ainda preocupa
O Copom afirmou que o risco fiscal no Brasil ainda é muito elevado, uma vez que as contas públicas ainda estão bem elevadas. Em suma, a incerteza do mercado, refletida na inflação, ainda existe por causa das despesas públicas. A expectativa é que isso melhore com o arcabouço fiscal e com o rombo zero das contas do governo em 2024.
“Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reforça a importância da firme persecução dessas metas”, disse o BC.
Copom se pronuncia sobre redução dos juros
Após a decisão pelo corte de 0,50 p.p. da taxa Selic, o Copom informou que a redução dos juros foi “compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2024 e, em grau menor, o de 2025″, diz o texto.
Além disso, o Copom garantiu que a decisão continuará sendo tomada com “serenidade”. “Em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário“, informa o comunicado.
Os diretores do Copom avaliam que a execução das metas fiscais estabelecidas pelo governo federal pode ajudar a reduzir as expectativas em relação à inflação. Caso isso se confirme, o comitê acredita que essa política monetária contracionista será suficiente para os próximos meses no Brasil.
Juros estavam no maior patamar desde 2016
O corte dos juros foi o segundo consecutivo no Brasil, para alívio dos consumidores. Antes destas reduções, a taxa Selic estava em 13,75% ao ano, maior patamar desde novembro de 2016, ou seja, em quase sete anos. À época, a taxa Selic estava em 14,00% ao ano, levemente acima do nível observado até o início de agosto deste ano.
A decisão do BC em reduzir novamente a Selic é muito positiva para a população, pois os juros mais baixos fortalecem o consumo no país. Por outro lado, quando os juros sobem, o poder de compra dos consumidores encolhe.
Cabe salientar que, antes destas duas reduções, a última vez em que o BC havia reduzido a taxa Selic foi em agosto de 2020, quando a taxa de juros caiu de 2,25% para 2% ao ano. Depois disso, o Copom elevou os juros por 12 vezes consecutivas os juros no país. Esse foi o maior ciclo de alta, que começou devido ao encarecimento dos preços de alimentos, de energia e de combustíveis.
Então, entre setembro de 2022 e junho de 2023, o comitê manteve a taxa Selic estável, totalizando sete reuniões de estabilidade dos juros no maior patamar dos últimos anos.
Entenda a variação da taxa de juros no país
Em 2020, a pandemia da Covid-19 afundou a economia global. Para tentar impulsionar a atividade econômica brasileira, o Copom reduziu a Selic para 2,00% ao ano em agosto daquele ano, mantendo a taxa assim até março de 2021.
A saber, a crise sanitária afetou a cadeia produtiva global de diversos setores, e isso fez os preços de bens e serviços dispararem em 2021 devido a forte demanda. Por isso, o Copom mudou a tática e passou a elevar repetidas vezes a Selic entre 2021 e 2022.
Em síntese, a Selic é o principal instrumento do BC para conter a alta dos preços de bens e serviços. Quanto mais alta ela estiver, mais altos ficarão os juros no país. Assim, o crédito fica mais caro, reduzindo o poder de compra do consumidor e desaquecendo a economia.
Como a inflação perdeu força em 2022, o Copom decidiu interromper a sequência de altas e manteve a taxa Selic estável. Agora, em 2023, como a inflação está desacelerando ainda mais, o Banco Central promoveu o primeiro corte nos juros em três anos.