Começar o dia, sair da cama, arrumar os lençóis, higienizar os dentes, tomar banho, selecionar uma vestimenta… Já se imaginou tendo que deliberar minuciosamente sobre cada minúscula ação que preenche o seu dia?
Cada passo que você toma, cada movimento do corpo, cada objeto que você manipula – todos são decisões a serem tomadas. No entanto, grande parte dessas decisões cotidianas ocorre de forma automática. Se não fosse assim, você estaria esgotado antes mesmo do café da manhã.
Em resumo, o cérebro precisa de energia para funcionar e manter o seu corpo funcionando. quando o cérebro consome uma quantidade significativa de energia, ele fica excessivamente exausto para tomar decisões, independentemente de quão pequenas possam ser. Assim, para gastar o mínimo de energia possível, o cérebro desenvolveu alguns mecanismos ao longo da nossa evolução, alguns atalhos mentais.
A psicologia financeira é o campo da ciência que estuda como funcionam esses atalhos e o impacto deles nas nossas decisões, principalmente as financeiras. Em suma, quem começou a unir a economia à psicologia foram os pesquisadores Richard Thaler, Daniel Kahneman e Amos Tversky, lá nos anos 1950.
Eles realizaram estudos que comprovaram, entre outras coisas, que não somos tão racionais como pensamos na hora de tomar decisões, e também conseguiram mostrar como o cérebro funciona nesses momentos.
Quanto mais simples e rotineiras são suas decisões, mais fácil e rápido é para o cérebro encontrar o caminho. Contudo, muitas decisões cruciais na vida são notoriamente mais intrincadas do que tarefas triviais, como escovar os dentes. Isso se aplica especialmente às questões financeiras, onde o sistema de pensamento humano se torna mais suscetível a erros.
Esses erros são identificados como “vieses” e, similar aos atalhos mentais, eles operam de forma invisível. Eles não representam qualquer forma de doença, e foram identificados e catalogados pela disciplina da psicologia financeira, conhecida também como economia comportamental.
Os sistemas cognitivos do cérebro e suas implicações financeiras são notáveis. O renomado psicólogo Daniel Kahneman, agraciado com o Prêmio Nobel de Economia em 2002, realizou extensas pesquisas para concluir que a mente humana opera através de dois sistemas de pensamento distintos: o Sistema 1 e o Sistema 2.
É fundamental notar que esses sistemas são conceitos teóricos, não correspondendo a áreas específicas do cérebro, e, além disso, são processos que não podem ser diretamente percebidos ou experimentados.
Desse modo, no Sistema 1, o pensamento é rápido, automático e não consome muita energia. Assim, é nesse sistema que aqueles atalhos mentais funcionam a todo vapor. É por causa dele que você escova os dentes e sabe reconhecer um sorriso quando vê um, por exemplo.
No Sistema 2, o processo de pensamento é mais lento, de natureza mais analítica, e demanda um gasto energético mais significativo. Em resumo, esse sistema entra em ação quando há a necessidade de reflexão, concentração em uma tarefa específica, ou o preenchimento de formulários, por exemplo.
Dentro desse contexto, o cérebro recorre à sua biblioteca mental, embora ocasionalmente possa enfrentar dificuldades para localizar a informação necessária ou levar mais tempo para encontrá-la.
Não tem como escapar desses sistemas.Uma vez que todos os aspectos das decisões financeiras envolvem um processo de ponderação. Desde ações mais instintivas, como adquirir um lanche na padaria, até as mais intrincadas, como a obtenção de um financiamento imobiliário. Portanto, não importa o tamanho da decisão, os sistemas de pensamento estão atuando nela.
Em geral, os dois sistemas estão sempre ativos, mas é o Sistema 1 que domina a área durante a maior parte do tempo. Contudo, nós sofremos com vieses cognitivos em todas as áreas da nossa vida, quando o assunto é tomada de decisão, seja num ambiente de negócios, na nossa vida pessoal, em grupos, ou individualmente. Esses vieses são exacerbados quando a gente fala de dinheiro.
Portanto, evite tomar decisões com o primeiro pensamento que vem à sua mente. Já que o seu cérebro está poupando energia. Assim, por exemplo, passará a minimizar exponencialmente suas compras por impulso.