Voluntários de um cursinho popular, que prepara jovens carentes para o Exame Nacional do Ensino Médio, em Buritizeiro (MG), se adaptaram para levar o conhecimento, mesmo em tempos de pandemia. As aulas estão sendo transmitidas por uma plataforma digital de segunda a sexta das 19h às 21h.
Cada professor repassa o conteúdo de casa utilizando recursos próprios. O cursinho funcionava na sede de um Centro Comunitário com capacidade para 20 alunos, mas, agora com as aulas remotas o conteúdo pode chegar a mais pessoas. A tecnologia também ajudou a suprir uma demanda antiga do cursinho: a falta de professores na área de exatas.
“Tínhamos muita dificuldade de encontrar professores nessa área, principalmente de física porque os poucos profissionais que têm na cidade, estão sobrecarregados. Agora, com as aulas remotas podemos contar com a colaboração de voluntários de outras cidades”.
Neste ano, o professor de física ensina o conteúdo cobrado no Enem direto da Região Central de Minas. Jefferson Pereira da Silva é natural de Buritizeiro, mas se mudou para Curvelo em 2015 para cursar Engenharia Civil no Centro Federal de Educação Tecnológica (CEFET). Ele diz que sempre teve vontade de ajudar no projeto, mas nunca conseguiu por conta da distância.
Jefferson passou a infância nesse mesmo bairro e conta que sempre teve incentivo dos pais para estudar, uma realidade bem diferente da maioria dos colegas.
“Meus pais tiveram que trabalhar desde cedo e só minha mãe conseguiu concluir os estudos, e lá em casa estudar sempre foi prioridade, mas nem todos os jovens do bairro tem essa oportunidade, muitos precisam trabalhar para ajudar em casa. Quando entrei na faculdade, ainda não existia o cursinho, mas tive uma base boa no ensino médio porque consegui uma bolsa em um colégio particular e fui aprovado no Cefet”.
Futuro melhor para os filhos
Jaquelane Oliveira dos Santos tem 22 anos e se matriculou no cursinho popular pela primeira vez. Mãe de dois filhos, de 3 e 6 anos, ela tenta conciliar a rotina em casa, trabalho e os estudos.
A estudante nunca trabalhou de carteira assinada e a fonte de renda vem da venda de produtos de beleza e de bombons. Há um ano, ela aprendeu a fazer os doces pela internet e vende em comércios da cidade. O dinheiro é usado para ajudar o companheiro com algumas despesas e ela conta que não teria condições de pagar pelo cursinho, por isso a iniciativa tem sido importante.
“O cursinho está sendo muito bom porque está dando oportunidade para as pessoas que não tem condições de pagar, como é o meu caso. Com o dinheiro que ganho, pago conta de água, luz, padaria, medicamentos” diz.
Mudança de vida
O cursinho popular do Instituto Opará foi criado em 2018 por estudantes, professores e líderes comunitários, baseado nos pilares da educação, cultura e geração de renda. Cerca de 100 jovens já participaram do cursinho e muitos conseguiram realizar o sonho de ingressar em uma faculdade.
É o caso da estudante de enfermagem Jayne Oliveira que se matriculou na primeira turma. Ela foi aprovada pelo Prouni em uma faculdade de Uberlândia e foi a primeira da família a ingressar na universidade.
Serviço
Além do cursinho, o Instituto Opará oferece oficinas temáticas, empréstimos de livros e realiza eventos culturais para a sociedade de forma geral. Por conta da pandemia, somente a ‘geloteca’ segue funcionando com livros diversificados à disposição dos moradores.
O projeto é mantido por doações e está cadastrado em uma plataforma digital, onde as pessoas podem deixar a contribuição mensal. Outras informações podem ser obtidas no site.
*As informações são do G1