Entre os que mais têm sofrido com o distanciamento social são os estudantes, que estão fora das escolas desde que tudo começou, no mês de março. Os alunos com deficiências, então, tendem a sentir ainda mais o isolamento, pois precisam de reforço para estudarem a distância.
Para amenizar esses efeitos negativos, a professora Noadias Novaes resolveu levar as atividades de ensino inclusivo presencialmente para seus alunos com deficiências.
Ela faz parte do projeto Atendimento Educacional Especializado (AEE) na Quarentena, na cidade de Itapipoca, no Ceará.
A educadora percorre, de bicicleta, o trajeto de sua residência até as casas de seus alunos. Ela carrega um violão, instrumento que ajuda no ensino lúdico para as crianças.
Atividades inclusivas no portão
A professora dá suas aulas no portão das casas dos estudantes com deficiências. Os conteúdos envolvem grafomotricidade, disciplina relacionada às habilidades gráficas e escrita. Ela ainda inclui dinâmicas lúdicas, que acontece com a ajuda do violão e de outras atividades.
“Eu montei o projeto e eu sou orientada por um amigo microbiologista que me ensina como fazer a esterilização das apostilas, como manter a distância, para que não aconteça nenhuma contaminação”, diz Noadias.
As apostilas e os materiais que são disponibilizados para os estudantes são montados a partir de doações. Parceiros do projeto doam tintas, lápis de cor e demais itens para auxiliar no aprendizado. Em “toda entrega, a gente tira um momento, mesmo que de longe, para matar a saudade”, conta a professora.
Segundo Noadias, as aulas que ela ministra são personalizadas, pensando nas particularidades de cada estudante. “Vou de bicicleta fazer esse atendimento ao aluno, a uns sete quilômetros da localidade onde eu moro. Os meus alunos têm deficiências variadas e as atividades que eu proporciono são individualizadas. Cada atividade é de acordo com a habilidade que eu quero desenvolver nessas pessoas”.
Dificuldades enfrentadas na pandemia
O município Itapipoca tem 2.340 casos confirmados da doença e 102 óbitos pelo novo coronavírus até o último dia 8, de acordo com o IntegraSUS.
Antes da pandemia, Noadias, que atua na Escola Alonso Pinto de Castro, tinha 13 alunos com Síndrome de Down e paralisia infantil. “Eles estudam na sala regular e no contra turno eles vem para minha sala de recursos onde eu faço atividades para estimular a aprendizagem”, explica a educadora.
“As famílias ficam muito agradecidas de ver que os filhos não estão desamparados. Eu, sinceramente, eu vejo como uma obrigação. Eu sei que é difícil, é árduo, mas é como se fosse o meu dever. Agradeço muito as pessoas que me mandam mensagens, mas eu me vejo como uma das professoras que estão se doando para que se otimize esse ensino que nem todos tem acesso”, revela ela.
Um exemplo de que a pandemia afetou o acesso às aulas é de Darlen, de 12 anos, que tem deficiência física e não consegue se deslocar por sentir muita dor. Segundo ele, o baixo sinal de internet não permite acompanhar todas as atividades em tempo real.
“Não pega direito o aplicativo e fica sem área, mas ele não deixa de fazer as atividades não. Assim que volta eu mando ele fazer. A Noadias ajuda muito porque ela foi a primeira que começou a fazer isso aqui em casa, a gente nem fazia as coisas pelo Whatsapp e ela já vinha”, diz a mãe do estudante, Ana Maria Ribeiro Nascimento à TV Globo do Ceará.