Um computador do tamanho aproximado de uma caixa de fósforo e que custou apenas R$ 22. Foi assim que o professor e ex-catador de latinhas radicado em Juazeiro do Norte, no Ceará, Ciswal Santos, desenvolveu a ferramenta tecnológica para ampliar a acessibilidade de crianças e jovens no ensino.
Ciswal também é responsável pela autoria de um projeto de geração de energia sustentável, captação de água e acesso à internet por baixo custo. O seu trabalho chegou no continente africano, Moçambique, onde o projeto foi implementado.
Batizado de HYTEC One, o pequeno componente eletrônico roda em um sistema operacional básico e que pode ser conectado a qualquer tela, seja de TV ou celular. Segundo o professor, com a pandemia de Covid-19 e a suspensão das aulas, havia o incômodo pelo fato de os alunos não terem acesso a um computador. “Um computador hoje é bem caro. A falta de acessibilidade me deixava desconfortável desde cedo”, disse.
A partir daí ele resolveu criar o equipamento que rodasse programas básicos, como reprodutor de mídias, criação de textos, planilhas e slides. Com apenas R$ 22, o professor criou o computador com duas partições e o uso de um cartão de memória SD como um HD de computador.
A memória primária fica em uma conta drive, na nuvem, e o aparelho tem capacidade de receber sinal wi-fi. “O processamento de dados, que é área que a gente estuda em Harvard, pegou muito pensado nesta parte de microeletrônica, nanotecnologia, nestes últimos três meses”, conta Ciswal.
O computador cabe no bolso, mas precisa de uma tela, seja de TV ou aparelho celular, para ter acesso ao sistema Windows 98. Ciswal diz que a ferramenta é provisória, pois ele já está desenvolvendo seu próprio sistema operacional que deve ficar pronto em até quatro meses.
“Vai ser um sistema de fácil acesso para idosos, crianças, para quem não tem noção de informática”, disse.
A sua ideia chamou a atenção de um grupo de empresários de Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, que querem investir no projeto e popularizar o aparelho no continente africano. Porém, o professor sonha que o aparelho se popularize primeiro no Brasil. “Queria muito que governos, seja federal, estadual, municipal, não importo qual for, investissem. Eu defendo a necessidade do povo. Queria muito que alguns destes pudesse popularizar. Dar acessibilidade aos jovens, condições de estudo para não passarem o que eu passei”, conta.
Caso não apareça ninguém interessado em implantar o projeto no Brasil, Ciswal deverá colocá-lo em prática fora do país. “Mas a prioridade é do Nordeste, do Ceará. Vou trabalhar em prol da população daqui”, completa.
Trajetória
Nascido em Palmares (PE), Ciswal se mudou para Juazeiro do Norte na adolescência, quando seu também, também professor, foi transferido para Serra Talhada (PE). Após a separação dos pais, as dificuldades apareceram. Sua mãe ganhava apenas R$ 15 por faxina. O valo mal dava para o jovem frequentar a escola e sustentar as despesas da casa.
Ciswal decidiu trabalhar e buscou no lixo a solução para continuar estudando. Catou latinhas para reciclagem e conseguir pagar xerox, apostila, livros e impressões.
Desde crianças ele desejava fazer um curso de computação. “Pedi muito para o meu pai, mas o valor do curso era a feira da gente”, lembra. *Informações do Diário do Nordeste.