Quem foi ao mercado nos últimos meses percebeu que o preço da carne não para de subir. Esse aumento afetou muito os hábitos alimentares de grande parte da população brasileira. Desse modo, no lugar da carne, o brasileiro passou a substituir a proteína que consome durante suas refeições e resolveu migrar para o ovo.
Essa mudança de preço tomou proporções tão elevadas no ano de 2020 que o Brasil atingiu recorde em consumo de ovos. Só para se ter uma ideia, a média foi de 251 ovos consumidos no ano por pessoa. Esse valor supera a média global, que é de 230 ovos anuais por cidadão.
Para se ter uma base há 20 anos atrás esse valor era de 94 ovos por ano, enquanto que em 2010 eram cerca de 148 ovos. Desse modo, podemos observar um aumento gradativo no consumo da proteína, que passa a ter papel essencial nas refeições da população e também na oferta de produtos, o que influencia no preço.
Segundo, Ricardo Santin, Presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). “Vivemos realmente uma fase recorde de consumo e isso é bom. Mais de 50% da população brasileira reconhece o ovo como o segundo melhor alimento, depois do leite materno. Fomos declarados como serviço essencial para não deixar faltar comida na mesa da população.”
Como está a situação da indústria produtora nacional
Nesse contexto, seria viável dizer que a situação da indústria produtora de ovos está em uma ótima fase. Afinal, com o aumento da demanda os preços no varejo tendem a subir e o produtor nacional deveria estar se beneficiando disso. No entanto, a situação não está tão favorável assim.
Podemos dizer que na parte produtiva, as galinhas têm feito sua parte, botando 1500 ovos por segundo. Em 2020 elas entregaram cerca de 53 bilhões de ovos, já a previsão para este ano é de 56 bilhões.
Mas se o problema não está nas galinhas, o que tem tirado o sono dos produtores nacionais e trazido problemas para o setor? De acordo com Santin, “Houve um salto especulativo dos insumos que está prejudicando muita gente”.
Segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea-Esalq) da Universidade de São Paulo, os custos para produção tiveram uma alta crescente no último ano. Além disso, o preço do milho e do farelo de soja cresceram de forma relevante frente a 2019, com valores de 49% e 54%, respectivamente. Enquanto que o aumento médio do ovo no mesmo período, foi de apenas 23%.
Mas qual relação o milho e a soja tem com a produção do ovo? Ambos são insumos que servem de ração para os animais e compõem mais de 81% no custo da produção do alimento.
Como as políticas públicas influenciam no preço do ovo
Atualmente, existem dois grandes fatores que atrapalham o produtor nacional de conseguir seu sustento. Um deles são os impostos como Pis/Cofins, que enquanto um importador de farelos de milho e soja está isento, o produtor nacional de ovos tem de arcar com a taxação. Isso torna mais barato para o estrangeiro comprar os insumos.
O outro fator, é o acesso a informações sobre projeções nacionais da compra de grãos, algo que já é feito em muitos países. O que poderia ajudar os produtores nacionais a se prepararem frente às especulações do mercado. Em reunião entre a Casa Civil da Presidência da República e a ABPA, no futuro, haverá discussão desses assuntos.
Como forma de protesto, a maior produtora de aves e ovos do país, a BRF, anunciou a compra de milho da Argentina e Paraguai, onde o preço do insumo está mais barato do que aquele produzido no Brasil.