Uma pesquisa da Fundação Roberto Marinho, em parceria técnica com o Plano CDE, afirma que um terço dos jovens brasileiros estão “desesperançados” com o futuro. O estudo foi feito com 1.510 estudantes de escolas públicas do 9º ano do ensino fundamental e do 3º ano do médio.
Realizado antes da pandemia da Covid-19, o levantamento, chamado “Juventudes, Educação e Projeto de Vida”, buscou entender os sonhos e anseios da juventude brasileira e encontrou três perfis: o autoconfiante, o resignado e o desesperançoso.
Segundo Rosalina Soares, gerente de Pesquisa e Avaliação da Fundação Roberto Marinho, a juventude brasileira de escolas públicas está em um terço dentro de cada um desses perfis.
“As autoconfiantes têm sonhos relacionados ao estudo e têm referência de apoio na família e pessoas famosas. Sentem-se muito capazes de realizar os sonhos; já os resignados são pragmáticos, projetam trabalho, renda e melhoria de vida com um emprego logo. Os desesperançosos, por sua vez, não têm objetivos traçados ou apoio e inspirações para pensar no futuro. Se sentem menos capazes de alcançar seus sonhos” explica.
Segundo Soares, 85% desses jovens desesperançosos acreditam que não têm com quem conversar, nem em casa, nem na escola.
“Conhecer a juventude é fundamental. Esse resultado é anterior à pandemia, e a gente já encontrava muitos problemas, como um sentimento de solidão muito forte. E o coronavírus só aumentou isso. O desafio é de toda a sociedade. Só a escola não vai conseguir resolver isso”, afirma.
A pesquisa também destaca que alunos das escolas públicas querem aulas mais organizadas, com mais participação e espaço para tirar dúvidas: 78% de jovens das classes C, D, e E consideram a bagunça o maior problema para a aprendizagem. Quando questionados sobre o formato que facilita a aprendizagem, quase a metade dos entrevistados aposta no debate entre professores e alunos.
Uso da internet
A pesquisa buscou entender também o comportamento on-line desses jovens de escolas públicas. Segundo o estudo, 89% dos jovens acessam a internet pelo celular: 42% entre os de classes D e E relataram ter alguma dificuldade de usar a internet; 80% dos jovens não se sentem preparados para usá-la na sala de aula. Apontaram também pouco interesse por cursos online, seja pela dificuldade de concentração ou pela ausência de interação com o professor.
“Apesar do que falam sobre o uso de internet por adolescentes, o jovem da escola pública não tem fluência digital, nem hábito de estudar pela internet”, afirma Rosalina Soares.
Veja outras descobertas da pesquisa
- Alunos com baixo desempenho e que não se sentem ouvidos pela escola têm 31,2% de chance de considerar o abandono escolar;
- Alunos das classes C, D e E com baixo rendimento escolar têm o dobro de chances de sair da escola;
- A falta de acolhimento aumenta em 50% a chance de abandono escolar;
- 60% dos alunos de classes C, D e E já tiveram queda de rendimento por problemas pessoais;
- Mais da metade dos jovens de classes C, D e E acha que a escola não é espaço para escuta de seus problemas pessoais;
- Mais da metade dos jovens das classes C, D e E diz já ter sofrido algum tipo de agressão dentro da escola; e alunos negros têm 25% mais chances de sofrer violência no ambiente escolar;
- 20% dos jovens das classes C, D e E não conversam sobre questões pessoais com ninguém;
- 78% dos alunos das classes C, D e E consideram a bagunça o maior problema para aprendizagem;
- Para metade dos alunos, o formato preferido de aula é com debate entre professores e alunos;
- Os alunos das escolas públicas querem aulas mais organizadas, com mais participação e mais espaço para tirar dúvidas;
- 42% dos alunos classe D e E sentem dificuldades para usar a internet;
- 80% dos jovens se consideram não preparados para o uso da internet em sala de aula;
- 80% dos alunos não têm computador em casa. O acesso à internet é quase sempre via celular, sem pacotes de dados, com uso do wifi de casa;
- 60% não gostam de estudar pela internet porque sentem falta de apoio de um professor;
- 62% dos alunos das classes C, D e E dizem ter dificuldades de manter a concentração quando estudam online.
Fonte: O Globo