Uma das soluções para evitar a disseminação do novo coronavírus entre estudantes na volta às aulas, de acordo com especialistas, seria manter os ambientes bem arejados.
No início do século XX, essa recomendação foi seguida de maneira extrema por algumas escolas da Europa e inspirou até o Brasil.
A medida se fez valer por conta do alto índice de contaminação por tuberculose à época. Mesmo de já haver uma vacina – chegou em 1927 por aqui – a aplicação em massa não tinha ocorrido. Portanto, era grande a preocupação em manter as crianças seguras.
Tal tendência de escolas abertas se iniciou na Europa, onde a tuberculose matava um a cada sete cidadãos. Alemanha e Bélgica lideraram o movimento e, logo após, a França.
Espalhavam-se lousas e carteiras portáteis pelos espaços externos das escolas. Ali, as aulas ocorriam junto à observação da natureza, o que beneficiava o aprendizado de ciências, artes e geografia, por exemplo.
Aulas ao ar livre aqui no Brasil
Conforme explanado anteriormente, o Brasil também aderiu às aulas ao ar livre para conter a disseminação da tuberculose.
De acordo com o pesquisador André Dalben, registros mostram que a partir de 1916 em Campos de Goytacazes, Angra dos Reis (RJ) e Manaus (AM) funcionaram escolas assim.
“A tuberculose era uma grande preocupação, junto com outras doenças infantis, como anemia e desnutrição. No geral, as escolas atendiam crianças de famílias pobres, o que evidencia uma ideia higienista: se pensava no corpo delas como mais enfermo”, explica Dalben em entrevista à BBC News Brasil.
O principal intuito, de acordo com ele, era de fortalecer o sistema imune das crianças junto à natureza.
Em São Paulo, a Escola de Aplicação ao Ar Livre (EAAL) funcionou no Parque da Água Branca entre 1939 e os anos 1950. Ela durou mais do que as demais e tinha uma diferença: atendia crianças de classe alta da região.
Proposta para a pandemia
De acordo com estudos atuais, a proliferação de Covid-19 ocorre em menor proporção em espaços abertos e de ventilação natural.
“O vírus acaba se diluindo ilimitadamente ao ar livre”, disse o professor de Epidemiologia Erin Bromage, da Universidade de Massachusetts à BBC. “Então, quando uma pessoa doente expira (ar), os germes se dissipam muito rapidamente”, explicou.
No entanto, transferir as aulas em salas tradicionais para espaços externos pode significar um verdadeiro desafio, principalmente em cidades grandes, nas quais há poucas áreas livres.
Em agosto, a organização de direitos infantis Alana lançou um relatório com sugestões para uso de espaços públicos na retomada das aulas presenciais. O documento se baseou em diretrizes da Sociedade Brasileira de Pediatria e da União dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime),
No texto consta que o modo da volta às aulas deve ser discutido também por autoridades que administram equipamentos públicos ao ar livre da cidade. Uma das sugestões consiste na criação de salas temporárias em parques, praças e clubes.