Pandemia: aulas suspensas têm impactos diferentes nas famílias
Enquanto algumas famílias se surpreendem com todos os recursos que o ambiente virtual oferece, outras não têm sequer computador em casa
As medidas de isolamento social impostas em todo o Brasil obrigaram mudanças bruscas nas rotinas das famílias, especialmente daquelas com filhos em idade escolar. Em alguns estados, as férias de julho foram adiantadas. Em outros, as aulas presenciais foram suspensas, mas as escolas podem oferecer aulas on-line. Só que a situação incomum evidencia ainda mais as desigualdades brasileiras.
Enquanto algumas famílias se surpreendem com todos os recursos que o ambiente virtual oferece, outras não têm sequer computador em casa.
É o caso da diarista Alessandra Santos, mãe de uma criança de oito anos que estuda no colégio federal Pedro II, no Rio de Janeiro e, de um adolescente de 15, aluno da escola estadual Amaro Cavalcanti. Os dois estão de férias, e passam os dias dentro de casa com o pai desempregado e a mãe sem renda, já que não está sendo chamada para fazer faxinas. De acordo com Alessandra, a família está contando com ajuda de familiares com a espera do auxílio de até R$ 1,2 mil aprovado pela Câmara.
Sem computador em casa e dividindo internet com uma vizinha, Alessandra não sabe como vai fazer para o filho mais velho frequentar as aulas online, que começam em toda a rede estadual do Rio no início de abril.
“Nada melhor do que aula presencial. As crianças vão estar interagindo com outros amigos, tirando dúvida diretamente com o professor”, diz a mãe à matéria da Rádio Agência Nacional (EBC).
A situação é bem diferente na casa da juíza federal Kátia Balbino, residente em Brasília. A filha, de 11 anos, estuda em uma escola particular que já utilizava o ambiente virtual para realizar tarefas com os alunos, e conseguiu adaptar o sistema para oferecer todas as aulas apenas um dia depois que o fechamento das escolas foi decretado.
“As crianças estavam totalmente preparadas para esse mundo digital. Eles tinham as plataformas nas quais eles já trabalhavam com os professores. As crianças todas já tinham seus equipamentos adaptados com as plataformas, e as crianças estavam acostumadas a fazer deveres on-line e submeter os deveres nos programas que eles têm. No dia seguinte, às 7h45, as crianças já estavam on-line com o professor dando aula. E eles ficam ocupados mesmo, três aulas por dia, que seria o horário que eles estariam na escola”.
Mas, mesmo entre as famílias com renda mais alta, não há consenso. A advogada e professora universitária Susana Spencer, que tem dois filhos matriculados em outra escola particular da capital federal, conta que o colégio está mantendo atividades on-line, mas ainda com algumas dificuldades.
Para que eles não fiquem sem rotina, ela elaborou um quadro de atividades com tempo de estudos, lazer e tarefas domésticas. Mesmo assim, ela prefere não os preocupar demais com o futuro escolar, já que ainda há muita incerteza sobre o que vai acontecer em meio a pandemia.
No Brasil, a suspensão de aulas presenciais em todos os estados continua. Alguns estados já divulgaram a previsão da volta às aulas.