O gênero lírico é um gênero literário cultuado desde os tempos da Antiguidade. Do latim, “lyricu”, o nome faz referência ao instrumento musical de corda (lira) que os rapsodos (nome dado as pessoas que tocavam lira) tocavam enquanto declamavam poemas.
Basicamente formado por poesias, o gênero lírico é uma das classificações de gêneros literários da literatura. Vale lembrar que gêneros literários são conjuntos usados para dividir obras literárias de acordo com suas características, como estruturas, contextualização, semântica, etc. Portanto, assim como qualquer outro gênero, o lírico possui suas diretrizes e normas para que seja encaixado nessa divisão.
O que é gênero lírico?
O gênero lírico é basicamente poesia. Ou seja, tem por foco os sentimentos, porém é mais do que a tentativa de relatar algo, o propósito é despertar sentimentos.
Contudo, nem sempre são sentimentos positivos, é possível encontrar textos do gênero lírico com expressando emoções de raiva, ódio, fúria, entre outros. Dessa forma, o gênero lírico é um tipo de texto que expressa sentimentos e emoções de alguém. É uma internalização de um mundo interior.
Por meio do lirismo, textos desse gênero costumam fazer uso da função poética da linguagem. Além disso, são textos marcados pelo uso da primeira pessoa, linguagem conotativa das palavras, assim como figuras de linguagem.
Isto porque, gênero lírico foca na subjetividade da voz poética. Isto é, dos sentimentos mais íntimos de quem narra a poesia, o sujeito lírico.
Geralmente, o gênero lírico está relacionado aos poemas, contudo é possível encontrar outros tipos de texto, como a prosa, que sejam líricos, bastam que a temática tenha caráter subjetivo e seja focada nos sentimentos.
Gênero lírico e suas características
Dentro de um texto do gênero lírico são identificadas características como:
– Quem elucida o poema é uma voz poética, uma entidade fictícia criada pelo autor da obra, e não um narrador;
– Possui um caráter completamente subjetivo, por se tratar da expressão de sentimentos e de emoções, algo que também pode ser identificado com o uso constante da linguagem conotativa e da figuras de linguagem;
– Sua estrutura é formada por estrofes, rimas e versos com aspectos de musicalidade associada a métrica;
– É um gênero caracterizado pela exposição, exteriorização de um mundo interior e individual do eu poético;
– O ‘narrar’ o poema, se refere a voz da poesia, a voz poética, e não narrador, pois como foi mencionando acima, o gênero lírico não existe narrador;
– O autor é a pessoa real, a pessoa que escreve a poesia e cria o sujeito lírico para falar dos seus sentimentos.
Subgêneros do gênero lírico
De acordo com a métrica que é a medida de um verso, o gênero lírico tem subdivisões quanto às medidas dos versos dos poemas e das poesias.
Os subgêneros do gênero lírico estão associados a métrica, pois na Idade Média, os poemas e poesias eram divididos pela medida de um verso (métrica). As medidas dos versos, por sua vez, eram definidas pela quantidade de sílabas poéticas, o que expõe a complexidade do poema.
Em um conjunto de combinação de rimas, aliterações, musicalidade e número de sílabas poéticas, o gênero lírico foi dividido em subgêneros:
- Hino e ode
- Écloga e idílio
- Epitalâmico e Haicai
- Elegia e Sátira
- Soneto
Hino e ode
O hino é um poema usado para a exaltação, normalmente a nações e pátrias. Mas pode ser usado para louvor ou glorificação de pessoas. O ode também é um poema de exaltação, mas é voltado geralmente para personagens. De origem grega “ode”, que significa “canto”
Exemplo de hino: Trecho do Hino Nacional Brasileiro.
Ouviram do Ipiranga as margens plácidas
De um povo heroico o brado retumbante
E o sol da liberdade, em raios fúlgidos
Brilhou no céu da pátria nesse instante
Se o penhor dessa igualdade
Conseguimos conquistar com braço forte
Em teu seio, ó liberdade
Desafia o nosso peito a própria morte!
Ó Pátria amada
Idolatrada
Salve! Salve!
Écloga e Idílio
Tanto a écloga quanto o idílio são poemas que tem o intuito de retratar a vida bucólica, a vida pastoril. Contudo, o que vai diferenciar um do outro é que o idílio a presença de diálogos é bem forte. Sendo que na écloga, dificilmente terá diálogos.
Epitalâmico e Haicai
Epitalâmico é um poema usado para homenagear o vínculo conjugal, o casamento. É um poema lírico para celebrar o casamento e o vínculo que está ocorrendo entre os noivos. Haicai é de origem japonesa e é um poema composto por três versos, contendo dezessete sílabas. Geralmente, haicai é um poema com temas voltados para a natureza.
Elegia e Sátira
Elegia é um poema demarcado por sentimentos melancólicos, tristes. Originalmente da Grécia, elegia tem como temas acontecimentos muitos tristes, como a morte e o amor não correspondido. A sátira é um poema criado para ridicularizar alguém ou alguma situação. É um subgênero bem conhecido e usado em programas humorísticos.
A crítica e a ironia da sátira podem ser direcionadas diretamente para atingir uma pessoa com ênfase em seus vícios e defeitos, ou em situações com temática social, política, econômica, etc.
Soneto
O soneto é um dos mais conhecidos gêneros líricos. Foi criado por um italiano, é por isso que o termo tem origem da palavra italiana “sonetto”, que quer dizer “pequeno som”.
O soneto surgiu no século XIV, e foi consagrado na Língua Portuguesa pelas mãos de Luis de Camões. É formado por dois quartetos e dos tercetos estritamente rimados. Cada quarteto com quatro versos e cada tercetos com três versos, totalizando quatorze versos.
Exemplo: Soneto “Amor é fogo que arde sem se ver”, por Luís de Camões.
Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?