Metalinguística e a função da linguagem
Parte integrante do modelo concebido por Roman Jackobson, a principal característica da função metalinguística é a preocupação com o código em uma determinada mensagem.
A função metalinguística está entre as seis funções da linguagem (funções referencial, emotiva, poética, conativa e fática) concebidas pelo linguista russo Roman Jackobson. Cada uma das funções apresenta um papel específico para a comunicação e, de acordo com o contexto comunicacional, uma delas é empregada.
CARACTERÍSTICA PRINCIPAL
A principal característica da função metalinguística é o fato de a mensagem estar centrada no próprio código. Cada função tem um foco em um dos elementos da comunicação e, para a função metalinguística, nada é mais importante do que a própria palavra e seus desdobramentos. Nela, o código é utilizado para falar sobre o próprio código, explicando-o e analisando-o.
Nos textos verbais, o código é a língua. No dia a dia, recorremos com frequência à função metalinguística mesmo que intuitivamente. Quando questionamos nosso interlocutor sobre algo que não entendemos daquilo que ele nos falou, a resposta provavelmente será construída através de um texto metalinguístico. Nosso interlocutor retoma aquilo que disse, explicando-nos minuciosamente o conteúdo de sua mensagem.
Para Roman Jackobson, “todo processo de aprendizado da linguagem, particularmente a aquisição, pela criança, da língua materna, faz largo uso das operações metalinguísticas”. Quando a criança está na fase de aprender sobre os conceitos linguísticos, o tempo todo ela faz perguntas sobre o próprio código, buscando assim o seu entendimento. Os estudantes também estão em contato frequente com a metalinguagem, pois, quando estudamos, fazemos o exercício constante de elaborar conceitos e definições, tentando explicá-los com “nossas próprias palavras”.
FUNÇÕES
A função metalinguística da linguagem está presente em diversos gêneros textuais, inclusive nas artes plásticas:
Observe um exemplo de função metalinguística nas histórias em quadrinhos ou tirinhas de humor:
A metalinguagem também pode estar presente nas tirinhas e nas histórias em quadrinhos
Em poemas e outros gêneros textuais, como na crônica de Mario Quintana, na qual ele nos fala sobre o dicionário, temos um dos melhores exemplos da função metalinguística:
Dicionários
Embora o meu vocabulário seja voluntariamente pobre – uma espécie de Brasileiro Básico – a única leitura que jamais me cansa é a dos dicionários. Variados, sugestivos, atraentes, não são como os outros livros, que contam a mesma estopada do princípio ao fim. Meu trato com eles é puramente desinteressado; um modo disperso de estar atento… E esse meu vício é, antes de tudo, inócuo para o leitor.
Na minha adolescência, todo e qualquer escritor se presumia de estilista, e isso, na época, significava riqueza vocabular… Imagine-se o mal que deve ter causado a autores novos e inocentes o grande estilista Coelho Neto; grande infanticida, isto é o que ele foi.
Orgulhávamo-nos, como das nossas riquezas naturais, da opulência verbal de Rui Barbosa. O seu fraco, ou seu forte, eram os sinônimos. Recordo certa página em que ele esbanjou seus haveres com as pobres mulheres da vida, chamando-as de todos os nomes, menos um.
(QUINTANA, Mário. Caderno H. Porto Alegre: Globo, 1983. p. 176.)
A função metalinguística está presente nos dicionários, cujos verbetes explicam a própria palavra, no filme que tem por próprio tema o cinema, no poema que tem por tema o fazer literário, em uma peça de teatro que tem por tema o teatro e demais gêneros em que a linguagem está preocupada com o próprio código. A metalinguagem não tem o objetivo de significar por si, mas sim tem o objetivo de dizer o que o outro significa. Conhecer as funções da linguagem contribui para o entendimento de cada mensagem enunciada, seja em um contexto linguístico ou não.