Metalinguagem é uma das funções da linguagem identificada pelo linguista Roman Jakobson, para os elementos da comunicação. De acordo com o modelo de Jakobson, a comunicação tem seis elementos: emissor, receptor, mensagem, referente, código e canal. Sendo que para cada um deles existe determinada função.
Além da metalinguagem, que é centrada no código, as outras funções são: função emotiva, função conativa, função poética, função referencial e função fática. Mas o que iremos falar aqui é sobre a função metalinguística – procedimento em que se usa a linguagem para falar da própria linguagem. O código explicando o código, voltado para si e se transforma no próprio referente.
No decorrer do processo há duas características, uma que corresponde a função de explicar (função) e a outra que corresponde a função de autoexplicação (código). Metadiscurso, metaliteratura, metapoema e metanarrativa são algumas das variações da metalinguagem. São conceitos autoexplicativos, mas vale ressaltar que um dos primeiros a utilizar a função metalinguística foram os poemas.
A metalinguagem não se restringe apenas a linguagem verbal, também pode estar presente na linguagem não-verbal.
Exemplos de metalinguagem
- Livros de gramática: é a gramática explicando gramática.
- Dicionários: são palavras explicando palavras.
- Fotografia: quando se tem a fotografia de uma fotografia.
- Sinalização: sinais de trânsitos.
- Filme: quando tem filmes que falam de filmes.
- Pintura: a pintura de um pintor pintando.
Exemplos de metalinguagem na música
A música “Emoções”, de Roberto Carlos, é a música falando da própria experiência de fazer música.
Quando eu estou aqui
Eu vivo esse momento lindo
Olhando pra você
E as mesmas emoções sentindo
São tantas já vividas
São momentos que eu não esqueci
Detalhes de uma vida
Histórias que eu contei aqui
Amigos eu ganhei
Saudades eu senti, partindo
E às vezes eu deixei
Você me ver chorar, sorrindo
Sei tudo que o amor
É capaz de me dar
Eu sei já sofri
Mas não deixo de amar
Se chorei
Ou se sorri
O importante
É que emoções eu vivi
São tantas já vividas
São momentos que eu não esqueci
Detalhes de uma vida
Histórias que eu contei aqui
Mas eu estou aqui
Vivendo esse momento lindo
De frente pra você
E as emoções se repetindo
Em paz com a vida
E o que ela me traz
Na fé que me faz
Otimista demais[…]
A música “Samba de uma nota só”, de Tom Jobim, fala da música.
Eis aqui este sambinha
Feito numa nota só,
Outras notas vão entrar
Mas a base é uma só.
Essa outra é consequência
Do que acabo de dizer
Como sou a consequência inevitável de você.
Quanta gente existe por aí
Que fala fala e não diz nada,
Ou quase nada.
Já me utilizei de toda escala
E no final não sobrou nada,
Não deu em nada.
E voltei pra minha nota
Como eu volto pra você
Vou dizer em uma uma nota como eu gosto de você.
E quem quer todas as notas
Ré-Mi-Fá-Só-Lá-Si-Dó
Fica sempre sem nenhuma
Fique numa nota só.
Eis aqui esse sambinha
Feito numa nota só,
Outras notas vão entrar
Mas a base é uma só.
Esta outra é consequência
Do que acabo de dizer
Como sou a consequência, inevitável de você.
Quanta gente existe por aí
Que fala tanto e não diz nada,
Ou quase nada.
Já me utilizei de toda escala
E no final não sobrou nada,
Não deu em nada.
E voltei pra minha nota
Como eu volto pra você,
Vou dizer em uma uma nota como eu gosto de você.
E quem quer todas as notas
Ré-Mi-Fá-Só-Lá-Si-Dó
Fica sempre sem nenhuma
Fique numa nota só.
No cinema
O filme “Cinema Paradiso” é um exemplo da função metalinguística, pois é um filme que explica como funciona a produção do cinema. Assim como “A rosa púrpura do Cairo” (The purple rose of Cairo), “A malvada” (Al about Eve), “Saneamento Básico”, “A Invenção de Hugo Cabret”, etc.
Na poesia
Poema “Autopsicografia” de Fernando Pessoa.
O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
De Gramática e de Linguagem, por Mário Quintana
E havia uma gramática que dizia assim:
“Substantivo (concreto) é tudo quanto indica
Pessoa, animal ou cousa: João, sabiá, caneta”.
Eu gosto das cousas. As cousas sim !…
As pessoas atrapalham. Estão em toda parte. Multiplicam-se em excesso.
As cousas são quietas. Bastam-se. Não se metem com ninguém.
Uma pedra. Um armário. Um ovo. (Ovo, nem sempre,
Ovo pode estar choco: é inquietante…)
As cousas vivem metidas com as suas cousas.
E não exigem nada.
Apenas que não as tirem do lugar onde estão.
E João pode neste mesmo instante vir bater à nossa porta.
Para quê? Não importa: João vem!
E há de estar triste ou alegre, reticente ou falastrão,
Amigo ou adverso…João só será definitivo
Quando esticar a canela. Morre, João…
Mas o bom mesmo, são os adjetivos,
Os puros adjetivos isentos de qualquer objeto.
Verde. Macio. Áspero. Rente. Escuro. luminoso.
Sonoro. Lento. Eu sonho
Com uma linguagem composta unicamente de adjetivos
Como decerto é a linguagem das plantas e dos animais.
Ainda mais:
Eu sonho com um poema
Cujas palavras sumarentas escorram
Como a polpa de um fruto maduro em tua boca,
Um poema que te mate de amor
Antes mesmo que tu saibas o misterioso sentido:
Basta provares o seu gosto…
A metalinguagem é também considerada um estilo de escrita. Desta forma, é possível encontrar algumas maneiras de praticá-la, a exemplo das “incorporadas”, “ordenadas” e “aninhadas” – tipos de função metalinguística.
Metalinguagem incorporadas
Esse tipo acontece quando a linguagem já está integrada na própria linguagem. A explicação está presente dentro da própria linguagem.
Ao falar que o céu é azul, por exemplo, temos uma metalinguagem incorporada, pois o adjetivo “azul” já exemplifica que o céu é azul.
Metalinguagem ordenadas
Esse tipo acontece quando é criado uma linguagem para abordar outra linguagem. E esse processo acaba sendo sem fim, pois é feita uma metalinguagem para explicar outra linguagem e assim por diante.
Metalinguagem aninhadas
Também chamada de “hierárquica”, esse tipo de função metalinguística ocorre no momento da lógica não-comutativa. Isto é, quando há diversos níveis acima e abaixo.
Um exemplo claro é a classificação biológicas dos seres. Na classificação, cada nível incorpora outro nível abaixo. Desta forma, o nível de gênero descreve espécie, o nível de ordem descreve gênero, e assim por diante até chegar no nível dos reinos.