Nos últimos meses, membros do Governo Federal passaram a criticar com mais força as empresas de transporte e entrega por aplicativo. Até mesmo um grupo de trabalho foi formado para discutir alterações na legislação trabalhista para os cidadãos que atuam nestas plataformas. Mas talvez a opinião do poder executivo não esteja em sintonia com a da maioria dos trabalhadores da área.
Ao menos é o que apontam os detalhes de uma nova pesquisa divulgada nesta semana pelo Instituto Datafolha. De acordo com o levantamento, a maioria dos motoristas de aplicativo e dos entregadores de app preferem manter o seu trabalho da maneira como está, e não migrar para o sistema de Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), como deseja parte do Governo Federal.
O levantamento ouviu 2.800 trabalhadores da área em todas as regiões do país. Segundo a pesquisa, 75% dos profissionais disseram que não querem se tornar celetistas. O modelo de CLT é mais comum aos trabalhadores formais brasileiros, quando o cidadão tem a assinatura na carteira e passa a receber uma série de direitos.
Ao mesmo passo, a pesquisa revela que 89% dos motoristas e entregadores de aplicativo desejam mais proteção social como, por exemplo, a garantia de uma aposentadoria no final da carreira. Os números podem parecer incoerentes, já que o desejo de continuidade na informalidade, pode justamente dificultar que mais direitos como previdência social sejam garantidos.
Por que os motoristas querem seguir assim?
A pesquisa divulgada pelo Datafolha também procura entender por que a grande maioria dos trabalhadores deseja se manter fora da CLT no sistema de transporte e entrega por aplicativo, mesmo considerando que eles desejam mais proteção social. Alguns resultados do levantamento podem ajudar a entender este processo.
Para 89% dos trabalhadores da área, há um desejo de seguir tendo a liberdade para trabalhar em mais de um aplicativo. Hoje, com o sistema quase sem regulamentação, os motoristas da Uber, por exemplo, também podem atuar na 99 Táxi. Os entregadores do Ifood, também podem trabalhar na Rappi, o que pode gerar mais ganhos para os mesmos.
Para além disso, 85% dos trabalhadores disseram que gostam da flexibilidade da atual relação trabalhista. Como a empresa de app não considera que o cidadão é um trabalhador fixo, ele pode optar por trabalhar no horário que desejar e nos dias que desejar. Neste sentido, 73% disseram que gostam de trabalhar sem supervisão, ou seja, sem a presença de um chefe dando ordens.
Os temores
Mas nem tudo são flores para os trabalhadores de aplicativo. Ainda de acordo com a pesquisa do Datafolha, para 57% dos entrevistados, o maior problema deste estilo de trabalho é a manutenção do veículo, já que é o próprio cidadão que vai precisar arcar com os custos de manter o seu carro ou sua moto em boas condições.
Para 48% dos motoristas de empresas como Uber, há um temor de assalto, sobretudo nas grandes cidades do país, onde ocorrem casos de violência contra estes empregados com uma certa frequência. Para 46% há também um medo de sofrer acidentes e ficar impossibilitado de trabalhar, o que acabaria com a sua fonte de renda.
Entre os entregadores de app, os maiores medos são: perda da renda após acidentes de trânsito (48%), serem descadastrados das plataformas (44%) e a manutenção do seu veículo (42%).
Grupo de trabalho
Como dito, o Governo Federal já montou um grupo de trabalho para discutir o tema. Tal grupo é formado por membros de diversos ministérios, representantes dos trabalhadores da área e também representantes das empresas de aplicativo.
Alguma legislação será entregue depois destas reuniões, e é neste momento que o debate nacional em torno do tema vai começar. Até lá, será necessário esperar mais alguma semanas para saber se as propostas do Governo atendem ou não os anseios da maioria dos trabalhadores de app.