Nos últimos meses, muitas pessoas tiveram a sensação de que praticamente tudo ficou mais caro no país. Isso aconteceu devido a uma junção de inflação e juros elevados, fatores que corroem a renda da população.
Alguns indícios desse cenário vieram através de dados apresentados pelo Banco Central (BC) na última semana. De acordo com um levantamento da entidade financeira, o volume total de crédito bancário no mercado encolheu 0,1% em fevereiro, para R$ 5,31 trilhões. No mês anterior, a soma chegava a R$ 5,32 trilhões.
“O volume de crédito para o segmento empresarial diminuiu 0,7% no mês, para R$ 2,1 trilhões, enquanto para o segmento de pessoas físicas houve incremento mensal de 0,4%, somando R$ 3,2 trilhões”, informou o BC.
Isso quer dizer que as empresas buscaram menos crédito com os bancos no segundo mês de 2023. Em resumo, esse dado é bastante preocupante, pois pode refletir a redução do interesse empresarial em investir no Brasil.
Por outro lado, o crédito disponibilizado para as famílias cresceu no mês. Esse resultado também preocupa, apesar de ter seguido uma trajetória inversa a do crédito empresarial. Isso acontece porque muitas pessoas buscaram crédito para complementar a renda, que segue bastante afetada no país nos últimos anos.
Crédito rotativo e consignado
No segundo mês de 2023, o grande destaque para as pessoas físicas foi o crescimento de 4,6% do cartão de crédito rotativo. A concessão de crédito bancário para essa modalidade não é algo positivo, uma vez que essa linha é bastante prejudicial para os brasileiros.
Em síntese, o rotativo é a linha de crédito pré-aprovada no cartão, e isso facilita o seu uso pelos consumidores. Além disso, a modalidade inclui saques feitos na função crédito do meio de pagamento. Contudo, esses benefícios não compensam os juros, que são extremamente altos.
Em fevereiro, a taxa média de juros cobrados pelos bancos no cartão de crédito rotativo chegou a 417,4% ao ano. A título de comparação, a taxa média de juros com recursos livres de pessoas físicas e empresas ficou em 44,2% ao ano em fevereiro de 2023, taxa 9,4 vezes menor que a do rotativo.
Além disso, outras duas modalidades também registraram aumento da concessão de crédito em fevereiro. Enquanto o crédito pessoal consignado para trabalhadores do setor público cresceu 1% no mês, o crédito pessoal consignado para aposentados e pensionistas avançou 1,1%.
Concessão de crédito recua no mês
O BC também revelou que as novas concessões de empréstimos recuaram 2,2% em fevereiro, somando R$ 499,9 bilhões. No mês anterior, o volume de concessão chegou a R$ 511,2 bilhões. Aliás, vale destacar que esse cálculo foi realizado após ajuste sazonal para “compensar” as diferenças entres os períodos diferentes.
Embora o resultado tenha ficado negativo, não foi uma surpresa. Segundo o diretor de Política Monetária do BC, Diogo Guillen, o aumento dos juros reduziu a concessão de crédito no país, e isso já era esperado pelo mercado.
Ele afirmou que esse movimento “faz parte do processo de condução da política monetária [elevação da Selic para conter a inflação] ao longo desse ano”.
Entenda a taxa de juros no país
Em 2020, a pandemia da Covid-19 afundou a economia global e as maiores nações sofreram com uma recessão, exceto a China, que conseguiu crescer naquele ano. Para tentar impulsionar a atividade econômica brasileira, o Copom reduziu a Selic para 2,00% ao ano em agosto daquele ano, mantendo a taxa assim até março de 2021.
A saber, a crise sanitária afetou a cadeia produtiva global de diversos setores, e isso fez os preços de bens e serviços dispararem em 2021 devido a forte demanda. Por isso, o Copom mudou a tática e passou a elevar repetidas vezes a Selic nos dois últimos anos.
Em síntese, a Selic é o principal instrumento do BC para conter a alta dos preços de bens e serviços. Quanto mais alta a Selic estiver, mais altos ficarão os juros no país. Assim, o crédito fica mais caro, reduzindo o poder de compra do consumidor e desaquecendo a economia.
Como a inflação perdeu força em 2022, o Copom decidiu interromper a sequência de altas e manteve a taxa Selic estável. Contudo, a inflação segue elevada, ainda mais após a retomada da cobrança de impostos federais sobre a gasolina e o etanol. Em meio a esse cenário, a expectativa é que os juros continuem elevados por mais alguns meses.