As famílias do país parecem estar cada vez mais dispostas a manterem seus hábitos de consumo em 2023. Em junho deste ano, a Intenção de Consumo das Famílias (ICF) cresceu 2,6% na comparação com maio, mantendo a tendência de alta no país.
Com o acréscimo deste resultado, o indicador chegou ao maior nível desde março de 2020. Isso quer dizer que todas as preocupações trazidas pela pandemia da covid-19 foram praticamente superadas no país, visto que o indicador recuperou as perdas dos últimos anos.
Em suma, os consumidores estão mais otimistas com a recuperação econômica do Brasil neste ano. Por isso que a intenção de consumo vem registrando crescimento nos últimos meses, refletindo as expectativas positivas da população para o futuro.
De acordo com o levantamento realizado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o ICF chegou a 97,3 pontos em junho.
Essa foi a 17ª alta consecutiva do indicador, que precisa subir mais um pouco para alcançar o patamar de fevereiro de 2020 (99,3 pontos), último mês antes da decretação da pandemia.
Embora venha crescendo há 17 meses consecutivos, vale destacar que o ICF segue levemente abaixo da zona de satisfação (100 pontos), mesmo que a distância seja a menor dos últimos anos.
Aliás, desde abril de 2015 (102,9 pontos) que o indicador não alcança os 100 pontos. Isso mostra que a intenção dos brasileiros em gastar ainda se encontra em patamar ligeiramente baixo, mas a melhora observada nos últimos meses continua em ritmo forte no país.
Segundo o levantamento, a melhora dos dados relacionados à inflação está ajudando a impulsionar a intenção de consumo dos brasileiros. Em maio deste ano, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu, mas o destaque foi a desaceleração da taxa, que vem perdendo força nos últimos meses.
Vale destacar que IPCA acumulado em 2022 subiu 5,79%. Essa variação foi bem menor que a registrada em 2021, quando o índice havia disparado 10,06%. E a expectativa para 2023 é que o indicador avance 5,12%, abaixo da taxa do ano passado, mas ainda acima da meta da inflação.
A propósito, o IPCA é a inflação oficial do Brasil, ou seja, é o termo que se refere ao aumento generalizado dos preços de produtos e serviços.
Além disso, o aquecimento do mercado de trabalho também está impulsionando a intenção de consumo dos brasileiros, segundo o presidente da CNC, José Roberto Tadros.
“Os dados da ICF mostram que os consumidores brasileiros estão mais confiantes no futuro do emprego, especialmente os de menor renda e as mulheres, que foram os mais afetados pela crise econômica“, disse Tadros.
Embora as expectativas para o futuro estejam mais positivas, a economia brasileira ainda terá que enfrentar muitos desafios neste ano para conseguir crescer de maneira expressiva. Um dos principais é o endividamento elevado da população, que se encontra em um patamar nunca visto antes.
O presidente da CNC ressaltou que “ainda há obstáculos para a retomada do consumo, como o alto nível de endividamento e a restrição do crédito, que impactam principalmente a compra de bens duráveis”.
Isso sem contar nos juros elevados, que continuam no maior patamar em mais de seis anos e meio. Nesta semana, o Banco Central (BC) manteve a taxa básica de juro da economia brasileira, a Selic, em 13,75% ao ano, maior nível desde novembro de 2016.
Em resumo, o BC eleva a taxa de juros para controlar a alta da inflação. Apesar de ser uma consequência positiva, os efeitos colaterais dessa ação são muito ruins para a população. Isso porque os juros elevados reduzem o poder de compra dos consumidores, que passam a comprar menos e isso, consequentemente, desaquece a economia do país.
A saber, o indicador de Intenção de Consumo das Famílias (ICF) possui sete componentes. Em junho, todos eles registraram taxas positivas, impulsionando o resultado mensal do indicador. Confira abaixo os crescimentos percentuais mensais:
A CNC explicou que a forte alta registrada por momento para duráveis aconteceu, principalmente, por causa da base comparativa fraca. Em suma, o componente continua com um nível muito baixo (57,8 pontos), bem distante da marca dos 100 pontos.
“Isso demonstra que, mesmo que o consumidor esteja mais animado com as compras a prazo, principalmente por estar mais seguro no emprego, o crédito seleto e caro limita a aquisição desse tipo de produto“, explicou a economista da CNC responsável pela ICF, Izis Ferreira.
Cabe salientar que, entre os sete componentes, quatro deles apresentaram taxas superiores a 100 pontos: emprego atual (122,3 pontos), renda atual (115,7 pontos), perspectiva profissional (114,3 pontos) e perspectiva de consumo (101,0 pontos).
Por outro lado, as demais taxas permaneceram na zona de pessimismo. Enquanto os componentes de acesso ao crédito (88,4 pontos) e nível de consumo atual (81,2 pontos) tiveram taxas relativamente baixas, a situação mais crítica continua com o componente momento para duráveis (57,8 pontos).