Tecnologia

Inteligência artificial identifica perdas de água em cidade catarinense

A cidade de Curitibanos, em Santa Catarina, foi a escolhida pela Companhia Catarinense de Águas e Saneamento (Casan) para a realização de uma Prova de Conceito (PoC sigla do inglês Proof of Concept) da Solução SmartAcqua. A iniciativa teve como objetivo comprovar a eficiência do software de inteligência artificial para a redução de perdas de água tratada e sua gestão.

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De acordo com José Heitor Maciel, coordenador da Agência Curitibanos da Casan, o projeto-piloto foi um sucesso e permitiu que a empresa descobrisse que havia um vazamento a cada cinco quilômetros de rede, além de encontrar furtos de água. 

Com uma população superior a 40 mil habitantes, Curitibanos conta com uma rede de distribuição de 197 km de extensão. A cidade apresenta alto índice de perdas de água na distribuição (IPD) que é da ordem de 43,7%, e de 304 litros por dia de perdas por ligação (IPL). E justamente por essa razão, foi a selecionada para a prova de conceito. “É um dos maiores índices de perdas dentre os 195 municípios que têm o saneamento sob responsabilidade da Casan”, destaca Maciel.  

A Prova de Conceito começou em sete pontos da cidade, três dos quais no bairro de Água Santa e quatro no de São Luiz. No primeiro, houve seis ocorrências em três ruas, em que foram encontrados vazamentos no cavalete e nos ramais. No bairro de São Luiz, foram identificados três pontos em duas ruas. Com isso, foi identificada uma média de cinco vazamentos por quilômetro de rede. 

Como a IA funciona na identificação de perdas

Fabrizio Campos, engenheiro da SmartAcqua, explica que a solução de IA foi usada para fazer o planejamento de todas as etapas dos trabalhos que seriam realizados em campo. A SmartAcqua recebeu os dados da Casan sobre o município e os inseriu na plataforma de inteligência artificial, que foi capaz de identificar, potencializar e indicar por geolocalização as perdas de água. 

O que também ajudou foram os sensores instalados em alguns pontos dos dois bairros selecionados, e geofones, entre outros equipamentos. Eles ajudaram a observar o consumo de água por ruas para localizar onde poderia haver vazamentos. “Nossa força-tarefa fez verificações por categorias de ocorrência para saber se havia vazamentos no cavalete (local onde ficam instalados os hidrômetros), ou nos ramais, ou ainda vazamentos na rede propriamente dita”, detalha Campos. 

Com base nesse processamento foi obtido um diagnóstico e prognóstico da cidade como um todo e do sistema de distribuição para verificar quais eram as regiões e os bairros que deveriam ser priorizados. 

O SmartAcqua permite identificar tanto as perdas físicas quanto as comerciais, mas na PoC de Curitibanos o trabalho se concentrou nas perdas físicas. “Utilizamos mapas de calor para o georreferenciamento, o que nos deu a visualização das informações no espaço geográfico que ajudaram no planejamento das ações”, explica Campos. 

Tecnologia e combate às perdas de água

Para Andréia May, engenheira sanitarista da Comissão de Gestão de Perdas da Casan, há negacionismo em vários setores da economia e inclusive no saneamento, quando se refere a perdas de água. Ela, que coordenou a realização da PoC em Curitibanos, diz que falta de vinculação entre as áreas comercial e operacional nas empresas de saneamento. 

“Cada lado atua de forma isolada e assim não se atinge os resultados esperados, ou os resultados conseguidos são por tempo limitado. Ficam os dois lados brigando ao invés de trabalharem em conjunto”, afirma. “Com a Solução SmartAcqua conseguimos finalmente unir os dois lados para termos uma visão total do município”, afirma Andréia. Na sua avaliação, há várias soluções para a área de saneamento, mas muitas delas são caseiras, não abrangentes e não permitem integração com outros sistemas. 

O investimento em uma tecnologia como a inteligência artificial só compensa se ele se pagar, como é o caso utilizado pela Casan, que reduz as perdas de água. A afirmação é de Hélio Samora, CEO da SmartAcqua, que diz que sua solução dispõe de um módulo para fazer o estudo de viabilidade econômica. “Ele permite analisar, por exemplo, se em determinada situação valeria a pena trocar dois quilômetros de tubulação, ou colocar redutores de pressão, entre outras opções.”