O Ministério de Minas e Energia encaminhou recentemente à Casa Civil uma minuta de decreto visando estabelecer diretrizes para a renovação dos contratos das distribuidoras de energia elétrica.
Entre as propostas está a adoção de uma tarifa fixa pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para consumidores residentes em áreas de difícil acesso às equipes de medição, como regiões dominadas por milícias e tráfico de drogas.
Esta iniciativa visa mitigar os riscos enfrentados pelos profissionais e garantir a regularização do fornecimento de energia nesses locais.
A proposta central do decreto é permitir que a Aneel possa implementar tarifas de energia elétrica adequadas às condições socioeconômicas específicas dos consumidores. Nos casos em que o acesso for considerado arriscado devido a questões de segurança pública, os moradores pagariam uma tarifa fixa determinada pela agência reguladora, evitando assim a necessidade de envio de equipes de medição a essas áreas.
Atualmente, quando as distribuidoras não conseguem aferir o consumo real, elas não cobram tarifas, e a energia não medida é contabilizada como “perda não técnica”. O custo dessas perdas é então repassado aos demais consumidores, onerando a conta de luz de todos.
Além da tarifa fixa, o decreto prevê que as distribuidoras deverão elaborar e implementar planos de ação específicos para combater as chamadas “perdas não técnicas”, que englobam furtos de energia e ligações clandestinas. Esses planos estarão sujeitos à fiscalização da Aneel e deverão apresentar resultados mensuráveis, refletindo-se na redução dos níveis de perdas e no aumento das receitas das companhias.
Conforme a área técnica do Ministério de Minas e Energia, a Aneel será responsável por aprovar os planos de ação propostos pelas distribuidoras. Caso uma empresa não consiga cumprir os níveis máximos de furtos estabelecidos em seu plano, o custo excedente deverá ser arcado pela própria distribuidora, e não repassado aos consumidores.
A lógica por trás dessa medida é incentivar as distribuidoras a se empenharem ativamente na redução dos furtos de energia. Ao torná-las financeiramente responsáveis pelos níveis de perdas que ultrapassarem os limites acordados, o governo espera que elas invistam em estratégias eficazes para coibir as ligações clandestinas e o consumo irregular.
Essa abordagem visa transferir gradualmente o ônus das perdas não técnicas das costas dos consumidores para as próprias distribuidoras, incentivando-as a adotar soluções inovadoras e sustentáveis para regularizar o fornecimento de energia em áreas de risco.
Embora as medidas propostas representem um passo importante na busca por soluções para o fornecimento de energia em áreas dominadas pelo crime organizado, sua implementação não será isenta de desafios. As distribuidoras terão que lidar com a complexidade de elaborar e executar planos de ação eficientes, além de enfrentar os riscos inerentes à atuação em regiões controladas por grupos criminosos.
Ademais, a definição de uma tarifa fixa pela Aneel deverá levar em consideração diversos fatores, como o perfil socioeconômico dos moradores, o nível de consumo estimado e os custos operacionais das distribuidoras nessas áreas. Um cálculo inadequado poderia resultar em tarifas excessivamente altas ou baixas, prejudicando consumidores ou comprometendo a sustentabilidade financeira das empresas.
Uma das principais preocupações em relação às medidas propostas é o potencial impacto nas tarifas de energia elétrica para os demais consumidores. Atualmente, os custos das perdas não técnicas são diluídos entre todos os usuários, onerando a conta de luz de forma indiscriminada.
Com a responsabilização das distribuidoras pelos níveis excessivos de furtos, espera-se que haja uma redução gradual dessas perdas, o que poderia aliviar a pressão sobre as tarifas gerais. No entanto, é possível que, em um primeiro momento, as empresas repassem parte dos custos adicionais aos consumidores regulares, a fim de compensar os investimentos necessários para implementar os planos de ação.
Para garantir a eficácia e a equidade das medidas propostas, será fundamental que a Aneel exerça um acompanhamento rigoroso dos planos de ação das distribuidoras, avaliando constantemente os resultados obtidos e ajustando as diretrizes conforme necessário.
Além disso, é essencial que todo o processo seja conduzido com transparência, permitindo que consumidores, organizações da sociedade civil e demais partes interessadas tenham acesso a informações claras sobre as ações implementadas, os custos envolvidos e os impactos nas tarifas.
Embora as medidas previstas no decreto representem um passo importante, elas não devem ser encaradas como uma solução definitiva para o problema do fornecimento de energia em áreas de risco. É fundamental que o governo, em conjunto com as distribuidoras e a sociedade civil, explore soluções complementares, como investimentos em tecnologias de medição remotas, programas de conscientização comunitária e parcerias com órgãos de segurança pública.
Apenas por meio de uma abordagem multifacetada, que combine medidas regulatórias, iniciativas sociais e soluções técnicas inovadoras, será possível garantir um fornecimento de energia elétrica confiável, seguro e acessível para todas as regiões do país.
As medidas propostas no decreto não apenas visam regularizar o fornecimento de energia em áreas de risco, mas também têm o potencial de gerar impactos positivos em outras esferas. Ao reduzir as perdas não técnicas e os furtos de energia, espera-se uma diminuição no desperdício de recursos e na emissão de gases de efeito estufa associados à geração desnecessária de eletricidade.
Além disso, a regularização do fornecimento de energia pode trazer benefícios sociais significativos para as comunidades afetadas, melhorando a qualidade de vida dos moradores e facilitando o acesso a serviços essenciais, como iluminação pública, sistemas de segurança e infraestrutura digital.
Ademaiso O decreto enviado pelo Ministério de Minas e Energia à Casa Civil representa um passo inicial na busca por soluções para o desafio do fornecimento de energia em áreas de risco. No entanto, é provável que ajustes e aprimoramentos sejam necessários à medida que as medidas propostas forem implementadas e avaliadas.
É importante que o governo mantenha um diálogo aberto com todas as partes envolvidas, esteja receptivo a feedbacks e esteja disposto a adaptar e aprimorar as diretrizes conforme necessário.
Somente por meio de uma abordagem colaborativa, transparente e comprometida com o interesse público será possível alcançar uma solução sustentável e equitativa para esse desafio complexo.