Economia

Fome atinge cerca de 33,1 milhões de brasileiros

O número de brasileiros em situação de fome quase dobrou em dois anos, apontam dados do  2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil. O levantamento foi realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN).

A pesquisa mostra que cerca de 33,1 milhões de brasileiros vivem sem ter o que comer, ou seja, 14 milhões a mais do que em 2020. A organização da pesquisa ainda relatou que o número de pessoas em situação de insegurança alimentar em 2020 abrangia 9 milhões de cidadãos a mais que em 2018.  

“A pandemia surge neste contexto de aumento da pobreza e da miséria, e traz ainda mais desamparo e sofrimento. Os caminhos escolhidos para a política econômica e a gestão inconsequente da pandemia só poderiam levar ao aumento ainda mais escandaloso da desigualdade social e da fome no nosso país”, disse Ana Maria Segall, médica epidemiologista e pesquisadora da Rede PENSSAN.

O levantamento feito pela PENSSAN, foi realizado entre novembro de 2021 e abril de 2022. As entrevistas foram feitas em 12.745 domicílios distribuídos em 577 municípios das 27 unidades da federação (Estados e DF). 

Brasil apresenta três décadas de retrocesso

Ao divulgar os resultados da pesquisa, a rede PENSSAN pontuou que o país regrediu para um quadro equivalente à década de 1990. “A continuidade do desmonte de políticas públicas, a piora no cenário econômico, o acirramento das desigualdades sociais e o segundo ano da pandemia da Covid-19 tornaram o quadro desta segunda pesquisa ainda mais perverso”, relatou a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional.

A Escala Brasileira de Insegurança Alimentar (EBIA), define a segurança alimentar como o acesso pleno e regular à alimentação de qualidade, em quantidade suficiente e sem comprometer outras necessidades. Em contrapartida, a insegurança alimentar pode ser classificada em três níveis, veja quais são:

  • Insegurança alimentar leve: Quando há preocupação ou incerteza quanto acesso aos alimentos, bem como a queda na qualidade da alimentação visando não comprometer a quantidade de comida;
  • Insegurança alimentar moderada: Quando há uma diminuição no consumo de alimentos entre os adultos da família e/ou ruptura nos padrões alimentares;
  • Insegurança alimentar grave: Quando a redução de alimentos atinge também as crianças. Nesses casos, a fome passa a ser uma experiência vivida por toda a família.

O combate à fome e insegurança alimentar

Para o coordenador da Rede PENSSAN, a insegurança alimentar no país está diretamente relacionada com a atuação do atual governo. “As medidas tomadas pelo governo para contenção da fome hoje são isoladas e insuficientes, diante de um cenário de alta da inflação, sobretudo dos alimentos, do desemprego e da queda de renda da população, com maior intensidade nos segmentos mais vulnerabilizados”, disse.

De acordo com a pesquisa, cerca de 15% das famílias enfrentam a fome, no entanto, alguns fatores regionais e sociais acabam agravando a situação. Segundo estatísticas, a fome é mais presente entre as famílias que vivem no Norte (25,7%) e Nordeste (21%) do Brasil.