O paradoxo é uma figura de linguagem que remete a aproximação de palavras contrárias que expressam ideias contraditórias. É também denominada também de oximoro e recebe a classificação de figura de pensamento.
As figuras de linguagem
As figuras de linguagem, conhecidas também como figuras de retórica ou de estilo é uma artifício realizado por escritores para tornar o texto mais expressivo. As classificações das figuras de linguagem são:
- Figuras de palavras;
- Figuras de pensamento;
- Figuras de sintaxe;
- Figuras de som.
O paradoxo é uma das figuras de linguagem de pensamento.
Quais são as figuras de palavras?
As figuras de palavras denominadas também de figuras semânticas diz respeito ao significado das palavras. As figuras de linguagem classificadas nessa categoria são: sinestesia, catacrese, comparação, antonomásia, metáfora e metonímia.
Quais são as figuras de pensamento?
Já as figuras de pensamento correspondem àquelas que inclui a combinação de ideias. As figuras de estilo dessa categoria são: hipérbole, antítese, gradação, personificação, sarcasmo, litote, ironia, eufemismo, paradoxo, apóstrofe, alegoria, enumeração, alusão, ambiguidade, além de outros.
Quais são as figuras de sintaxe?
As figuras de sintaxe são denominadas também de figuras de construção. Essa classificação é denominada assim porque compreende a modificação da estrutura gramatical que pode ser aplicada em frase, oração ou período de forma intencional. As figuras que são classificadas como de sintaxe são: pleonasmo, anáfora, assonância, clímax, assíndeto, elipse, anacoluto, zeugma, polissíndeto, silepse, hipérbato, diácope, prolepse, polissíndeto, além de outros.
Quais são as figuras de som?
Já as figuras de som ou as figuras de harmonia correspondem as que relevam a expressão de sonoridade das palavras. A onomatopeia, assonância, aliteração e paronomásia são exemplos de figura dessa classificação.
A palavra paradoxo
O termo paradoxo é originado do latim “paradoxum”, sendo que “para” significa contrário e “doxum” corresponde a opinião. Já no grego a palavra remete a “parádoxon”, formado por “pará” cujo significado é oposto e “doxa” que indica opinião. Em síntese, o termo paradoxo expressa contrário do que é pensado ou contrário ao que é imaginado por todos.
Exemplos de paradoxo
Pode ser aplicado como exemplo da figura de linguagem paradoxo a música “As canções que você fez pra mim” do cantor Roberto Carlos. Observe o trecho da cação abaixo.
Pois sem você meu mundo é diferente
Minha alegria é triste
Quantas vezes você disse que me amava tanto
Tantas vezes eu enxuguei o seu pranto
E agora eu choro só sem ter você aqui
O trecho que diz: “Minha alegria é triste” diz respeito aos termos triste e alegre. A frase a princípio “fere” com a lógica da mensagem tendo em vista que alegria corresponde ao sentimento de satisfação ou contentamento. Já a tristeza, por sua, vez é justamente a falta da alegria. Portanto, ambos não acontecem de forma simultânea. Observe outro exemplo de paradoxo no trecho abaixo do Soneto de Fidelidade, de Vinicius de Moraes.
Eu possa lhe dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
O trecho: “mas que seja infinito enquanto dure” corresponde a figura de linguagem paradoxo tendo em vista que o infinito remete às situações que não têm desfecho ou limites. No entanto, a terminação da frase com os termos “enquanto dure” revela aproximação de palavras opostas que causam uma contradição.
Mais exemplos
- Ele é um velho moço;
- Liliane vive sonhando acordada;
- Lucas é um pobre rapaz rico;
- Quanto mais Rebeca comia, mais sentia fome;
- Se você quiser me prender, vai ter que saber me soltar (Caetano Veloso);
- Dor, tu és um prazer (Castro Alves);
- Já estou cheio de me sentir vazio (Renato Russo).
Paradoxo Vs Antítese
A antítese e o paradoxo são duas figuras de linguagem parecidas. As duas pertencem a classificação de figuras de pensamento, no entanto é importante não confundi-las. A antítese é a associação de palavras opostas sem que a construção da frase provoque ideias contraditórias ou sem lógica, como acontece no paradoxo.
Como a antítese pode ser aplicada na frase:
- Desceu e subiu
“Desceu aos pântanos com os tapires; subiu aos Andes com os condores” (Castro Alves);
- Nada e tudo:
“O mito é o nada que é tudo” (Fernando Pessoa);
- Vida e morte:
Roberto estava entre a vida e a morte;
- Alegria e Tristeza:
“Ela conviveu com ele na alegria e tristeza”;
- Derrota e Vitória:
O jogador de futebol contou com as derrotas e vitórias;
- Saúde e Doença:
“Ela um dia estava com saúde, no outro com doença.
- Complicado e simples
Você foi, dos amores que eu tive, o mais complicado e o mais simples pra mim (Roberto Carlos).
A presença do paradoxo no Barroco
O Barroco foi um estilo artístico que surgiu no século XVI e meados no século XVIII. A princípio o movimento surgiu na Itália e depois espalhou-se para Europa e da América. Os escritores do Barroco tiveram influências do movimento intelectual, artístico e político do Renascimento e também das ideias em referência a contrarreforma da Igreja Católica.
Havia na época uma tensão de ideais tanto humanista como religioso e, com isso, os artistas expressavam nas obras o contexto vivenciado. Um dos artifícios utilizados pelos escritores barrocos era a figura de linguagem. O paradoxo assim como a metáfora, a hipérbole, a antítese e a prosopopeia são figuras de linguagem presentes nos textos desse estilo literário.
O Barroco no Brasil que teve início no país no final do século XVI também há presença marcante de textos com figuras de linguagem paradoxo. Um dos artistas que utilizou paradoxo nas obras foi o poeta Gregório de Matos Guerra (1636- 1696), conhecido como o Boca do Inferno. Veja abaixo o exemplo do texto:
SONETO VII
Ardor em firme coração nascido!
Pranto por belos olhos derramado!
Incêndio em mares de água disfarçado!
Rio de neve em fogo convertido!
Resumo do paradoxo
- Significado: figura de linguagem que expressam ideias contraditórias;
- Exemplo: soneto do poeta português, Luís Vaz de Camões (1524-1580);
Amor é fogo que arde sem se ver,
é ferida que dói, e não se sente;
é um contentamento descontente,
é dor que desatina sem doer.
- Classificação: figuras de pensamento.