A personificação é uma das figuras de linguagem classificadas como figura de pensamento. Muito presente na literatura, ela utiliza de características humanas (seres animados) para atribuir sentimentos, qualidades e ações aos seres irracionais e objetos inanimados. Além de ser um recurso muito utilizado nos textos literários, também está presente na música e nas expressões linguísticas do cotidiano.
Assim como as outras figuras de linguagem, a personificação se caracteriza pelo sentido conotativo, ou seja, confere uma subjetividade na emissão das ideias. Presente na linguagem oral e na linguagem escrita, ela tem o objetivo de intensificar a transmissão da mensagem se apoiando em sentimentos que criam um universo abstrato e poético.
A personificação pode ser facilmente encontrada na literatura infanto-juvenil, como, por exemplo, na fábula. Como dito acima, é bastante usada na linguagem do dia a dia, em expressões bem populares como: “o mar é muito perigoso”, “a vida é cruel”, “a cidade pede socorro”, “carnaval pede passagem”, etc.
Categorizada como uma figura de pensamento, a personificação se apoia em significados implícitos. Por essa razão, ela é uma figura de linguagem conhecida por dar vida a quaisquer objetos inanimados, de forma que seres possuam voz, comportamento, sensações e emoções. Confira abaixo as frases que representam o uso da personificação:
O uso da personificação na literatura é muito comum. A poesia, por exemplo, é um dos gêneros literários que utiliza bastante essa figura de linguagem. Confira abaixo autores que utilizam desse recurso:
Um clássico da literatura brasileira que utiliza a personificação é o autor Graciliano Ramos em sua obra intitulada “Vidas Secas”. No capítulo chamado “Baleia”, em que ocorre a narração da morte da cachorra, o autor deixa claro os traços tipicamente humanos atribuídos ao animal. Baleia sofre como os donos, tem pensamentos e emoções. Ela é caracterizada na trama como um membro da família. Observe trecho que narra sua morte:
“Não se lembrava de Fabiano. Tinha havido um desastre, mas Baleia não atribuía a esse desastre a impotência em que se achava nem percebia que estava livre de responsabilidades. Uma angústia apertou-lhe o pequeno coração. Precisava vigiar as cabras: àquela hora cheiros de suçuarana deviam andar pelas ribanceiras, rondar as moitas afastadas.”
(RAMOS, 1992, p. 89)
O poema de Carlos Drummond de Andrade intitulado “Congresso Internacional do Medo”, também deixa claro o uso da personificação.
“Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio, porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro.”
No último trecho, o medo é tido como a figura humana de um pai, se forma que ele se torna companheiro.
No poema “Recordação” da escritora Cecília Meireles, também há o uso dessa figura de linguagem. Veja nos versos:
“Agora, o cheiro áspero das flores
leva-me os olhos por dentro de suas pétalas.
Eram assim teus cabelos;
tuas pestanas eram assim, finas e curvas.
As pedras limosas, por onde a tarde ia aderindo,
tinham a mesma exalação de água secreta,
de talos molhados, de pólen,
de sepulcro e de ressurreição.
E as borboletas sem voz
dançavam assim veludosamente.
Restitui-te na minha memória, por dentro das flores!
Deixa virem teus olhos, como besouros de ônix,
tua boca de malmequer orvalhado,
e aquelas tuas mãos dos inconsoláveis mistérios,
com suas estrelas e cruzes,
e muitas coisas tão estranhamente escritas
nas suas nervuras nítidas de folha,
– e incompreensíveis, incompreensíveis.”
No trecho: “e as borboletas sem voz dançavam assim veludosamente”, Cecília atribui as borboletas a ação humana de dançar.
O poeta Vinícius de Morais é outro autor que utiliza da personificação em sua obra cujo título é “Borboletas”. Veja nos versos abaixo:
“Brancas
Azuis
Amarelas
E pretas
Brincam
Na luz
As belas
Borboletas.
Borboletas brancas
São alegres e francas.
Borboletas azuis
Gostam muito de luz.
As amarelinhas
São tão bonitinhas!
E as pretas, então…
Oh, que escuridão!”
O poeta humaniza as flores, conferindo a elas a capacidade humana de brincar, além de atribuir emoções como a alegria e a sinceridade.
A personificação é uma figura de linguagem muito encontrada nas músicas. O Guia Enem reuniu algumas canções. Veja abaixo:
“Olho para o céu
Tantas estrelas dizendo da imensidão
Do universo em nós
A força desse amor
Nos invadiu
Com ela veio a paz, toda beleza de sentir
Que para sempre uma estrela vai dizer
Simplesmente amo você (…)”
Na música “Céu de Santo Amaro”, do compositor Flávio Venturini, ele dá às estrelas a característica humana de falar no trecho “que para sempre uma estrela vai dizer”.
“(…)
Aprendi o segredo, o segredo
O segredo da vida
Vendo as pedras que choram sozinhas
No mesmo lugar …”
Neste trecho da música Medo da Chuva de Raul Seixas, “vendo as pedras que choram sozinhas” o artista humanizou a pedra, atribuindo a sensação de choro, característica inerente ao ser humano.
O cantor e compositor Chico Buarque de Holanda usa a personificação em sua canção “A banda”. Veja abaixo:
“(…)
A moça triste que vivia calada sorriu
A rosa triste que vivia fechada se abriu
E a meninada toda se assanhou
Pra ver a banda passar
Cantando coisas de amor…”
No trecho “a rosa triste” atribui à rosa o sentimento de tristeza.