O adiamento do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2020 poderá tirar ao menos 3,5 milhões de estudantes do ensino superior privado, de acordo com um levantamento da Associação Brasileira das Mantenedoras do Ensino Superior (Abmes), divulgado nesta terça-feira (28).
O número se refere a estudantes que se inscreveram no Enem de olho na nota de desempenho, com base na edição de 2019. Além de permitir a disputa de vagas em universidades públicas pelo Sistema de Seleção Unificada (Sisu), o Enem é usado nas instituições particulares como forma de vestibular, para concessão de bolsas de estudo, ou descontos progressivos nas mensalidades.
A nota no exame também é critério de acesso a programas públicos como o Universidade para Todos (Prouni), que oferece bolsas de estudo parciais (que cobrem 50% da mensalidade) e integrais para cursos de graduação e de formação continuada em universidades particulares; e o Financiamento Estudantil (Fies), que oferece empréstimo para o pagamento de mensalidades, de acordo com a renda do estudante. Ao todo, o Enem de 2020 teve 5,8 milhões de inscritos – 96 mil na versão digital da prova.
O Enem 2020 estava previsto para ser realizado em novembro, mas com o avanço da pandemia, o Ministério da Educação decidiu adiar a prova para janeiro e fevereiro, com divulgação de resultados em 29 de março.
O levantamento faz parte da 4ª fase do estudo “Coronavírus e Ensino Superior: o que os alunos pensam”, da empresa de pesquisas educacionais Educa Insights, divulgado pela Abmes.
O impacto do adiamento do Enem pode ser percebido pelos dados da pesquisa: 76% dos entrevistados declararam que o principal motivo para realização do Enem neste ano é conseguir o melhor desconto possível ou bolsa de estudo. A maioria das matrículas (64%) no ensino superior privado são feitas após a divulgação dos resultados e início do ano letivo, que neste ano ocorrerá apenas no fim de março. Segundo a Abmes, 80% dos estudantes realizam a matrícula após o conhecimento da nota obtida.
‘Apagão’ do ensino superior
Sólon Caldas, diretor-executivo da Abmes, cita ao menos quatro fatores que podem contribuir para a queda de matrículas no ensino superior e a formação de jovens. A consequência será um número reduzido de formados e um apagão da mão de obra em 5 anos:
- evasão e inadimplência:com o aumento do desemprego e a redução de renda, os matriculados enfrentam dificuldades de pagar as mensalidades; novos ingressos estão ainda mais reduzidos;
- cortes no financiamento estudantil:o governo federal propôs reduzir em 46% a oferta de financiamentos de mensalidades em universidades particulares a partir de 2021;
- reforma tributária e aumento de impostos: texto prevê aumento de impostos de até 11% para instituições de ensino superior privado, o que será repassado para as mensalidades;
- Prouni: MP 934 aprovada no Senado vincula o ingresso de alunos via Prouni à divulgação do resultado do Enem, o que impediria na prática a seleção do Prouni do primeiro semestre de 2021.
“Não haverá ingressantes por meio do Enem no primeiro semestre e governo ofereceu mudança de impostos que vai onerar o setor em até 11%. Quando houver repasse de até 11% na mensalidade, o aluno vai evadir”, afirma Sólon Caldas.
“Junto com isso, governo está retirando do Prouni alguns tributos, que a instituição, ao oferecer a bolsa, teria abatimento desses tributos. Se o governo está tirando das instituições estes tributos, as instituições não vão oferecer estas bolsas. Estamos com dois problemas que podem levar ao apagão de mão de obra nos próximos anos: o Enem e a reforma tributária, com aumento de impostos e a retirada da isenção do Prouni”, reflete Caldas. Fonte: G1