Esteja ciente de que certamente haverá um aumento na conta de energia nos meses próximos, especialmente durante a chegada da primavera. No entanto, não atribua a culpa à falta de chuvas típicas de inverno. O El Niño pode ser um dos responsáveis.
Todos os envolvidos no setor energético (operadoras, distribuidoras, ONS e comercializadoras) sabem que a precipitação no inverno não é suficiente para encher os rios. Portanto, com a chegada do El Niño, essa situação pode se potencializar, consequentemente, aumentando a conta de luz.
O clima nos próximos meses
Os reservatórios das usinas hidrelétricas estão repletos de água, a ponto de transbordarem. Os dois últimos períodos chuvosos trouxeram muitas precipitações nas áreas principais dos reservatórios. Assim, a capacidade da geração eólica duplicou nos últimos tempos, e a energia solar distribuída tem compensado a necessidade do aumento da produção.
Em 26 de junho de 2023, o Operador Nacional do Sistema (ONS), órgão do governo federal responsável pela coordenação da geração e distribuição de energia no Brasil, fez um anúncio. Os quatro subsistemas brasileiros estavam com mais de 85% de sua capacidade de armazenamento.
O subsistema Sudeste/Centro-Oeste está alcançando os maiores níveis desde o mês de maio de 2011, representando o maior volume dos últimos 12 anos. Apesar da perda gradual de água pela evaporação durante o inverno, o fato de os rios e reservatórios estarem com níveis tão elevados no começo do período da estiagem traz uma enorme tranquilidade para o abastecimento da energia no país.
Além do mais, a previsão que se tem para o inverno indica que o subsistema Sul será beneficiado com as chuvas acima da média, com mais constantes. No Nordeste, espera-se um aumento nos ventos e na geração da energia eólica no segundo semestre de 2023. Finalmente, esse cenário climático é favorável também para uma maior geração da energia solar daqui em diante.
O que o El Niño tem de relação com o aumento da energia
O aumento na conta de energia não se deve à escassez de água, mas sim ao calor. O responsável por isso é o fenômeno El Niño. Esse fenômeno, caracterizado por um aquecimento anormal das águas do oceano Pacífico Equatorial, entre o Peru e a Indonésia, causa grandes alterações na circulação dos ventos em diferentes níveis da atmosfera. Então, afetará a distribuição de umidade, a quantidade e a frequência das chuvas, e os padrões de temperatura em várias regiões do mundo.
O Brasil é influenciado fortemente pelo El Niño. Os impactos climáticos já serão percebidos ao longo do inverno de 2023 e serão ainda mais intensos no verão e na primavera. A previsão diz que a temperatura ficará ligeiramente acima da média na maioria dos estados durante o inverno. As maiores anomalias positivas devem acontecer na Região Norte e em algumas áreas do Centro-Oeste. Devemos também considerar o risco das ondas do calor na primavera.
O aumento do calor devido ao El Niño é motivo de preocupação. É possível que o boleto de energia aumente para várias pessoas, não devido às variações nas tarifas, mas por conta do aumento no consumo individual, com mais horas de utilização do ar condicionado e dos ventiladores ligados.
Como o El Niño afeta o clima?
Os poderosos ventos de alta altitude influenciam o curso normal das frentes frias, ou seja, do ar frio proveniente da região polar que se desloca frequentemente da Antártida em direção à América do Sul.
Quando o Pacífico Equatorial, ao longo da costa do Peru, se aquece excessivamente, os ventos de jato alteram a posição. Com isso, dificultam o deslocamento habitual das frentes frias (ar polar) em direção ao Chile, Argentina e, eventualmente, ao Brasil.
Aqui está a conexão: com menos frentes frias atingindo o Brasil, há menos probabilidade de o ar frio polar se espalhar pelo interior do país. Ademais, há a redução da temperatura por um período.
Portanto, com dias naturalmente mais quentes durante a primavera e maior probabilidade de ondas de calor devido ao El Niño, algumas demandas aumentam, como, por exemplo, o maior uso do ar-condicionado, ventiladores e outros dispositivos elétricos para aliviar o calor.
Além disso, há mais um fator a considerar no consumo de energia: em dias mais quentes, é necessário manter a geladeira em temperaturas mais baixas, o que implica em um maior consumo de energia para reduzir a temperatura. Com isso, se garantirá que os alimentos permaneçam em condições adequadas e não se deteriorem.