A economia brasileira ficou estagnada no terceiro trimestre de 2023, sem apresentar variação significativa em relação aos três meses anteriores. O dado faz parte do Monitor do PIB-FGV, realizado pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV IBRE) e divulgado nesta semana.
A desaceleração econômica vem sendo observada nos últimos meses, visto que a atividade do país iniciou 2023 com um forte avanço de 1,6%, mas o crescimento caiu para 0,2% no segundo trimestre e se manteve estável no terceiro trimestre.
Apesar de a economia não ter crescido, o resultado foi positivo, visto que a taxa poderia até mesmo encolher no período. Em resumo, o indicador retraiu 0,6% em setembro, na comparação com agosto, ou seja, a taxa poderia ter ficado no campo negativo no trimestre, mas conseguiu se manter estável.
Economia do país cresce em relação a 2022
Embora o resultado de setembro tenha ficado negativo na base mensal, isso não aconteceu na comparação anual. A saber, o Monitor do PIB-FGV avançou 0,8% em relação a setembro de 2022, refletindo um momento mais positivo da economia brasileira em 2023.
Isso também aconteceu com os dados trimestrais. De acordo com o levantamento, a atividade econômica do país teve um avanço firme de 1,8% no terceiro trimestre deste ano, na comparação com o mesmo período de 2022. A propósito, todos os dados passaram por ajuste sazonal.
Cabe salientar que, em 2022, o PIB brasileiro cresceu 2,9% em relação a 2021. O resultado expressivo é explicado, principalmente, por causa da fraca base comparativa, uma vez que o país ainda sofria com os impactos provocados pela pandemia da covid-19 em 2021.
Por falar nisso, a economia global sofreu uma grande recessão em 2020, ano da pandemia de Covid-19. No ano seguinte, as nações registraram resultados bastante positivos devido à fraca base comparativa.
No Brasil, a economia disparou em 2021 e seguiu em alta em 2022. Para 2023, a expectativa também é de avanço do PIB, e o resultado deverá ser bem semelhante ao do ano passado, com um crescimento econômico próximo de 3%.
Agropecuária e serviços limitam economia brasileira
O resultado trimestral do PIB poderia ter ficado negativo. Em suma, a agropecuária ajudou a atividade econômica nos três primeiros meses, registrando um forte desempenho.
Contudo, entre abril e junho, o setor encolheu fortemente, puxando o indicador da FGV para baixo e limitando o crescimento, e isso também aconteceu no terceiro trimestre.
Ao mesmo tempo, o enfraquecimento do setor de serviços, que responde por cerca de 70% da economia brasileira, ajudou a puxar a atividade para baixo, impedindo qualquer crescimento no trimestre.
“A estagnação do PIB no terceiro trimestre, em comparação ao segundo, reflete a fragilidade de sustentação de crescimento da economia brasileira. A desaceleração da agropecuária e do setor de serviços, explica a estagnação da economia pela ótica da oferta“, disse a coordenadora da pesquisa, Juliana Trece.
Consumo das famílias segue forte em 2023
De acordo com Juliana Trece, o consumo das famílias desacelerou no terceiro trimestre deste ano. No entanto, a analista destacou a resiliência do indicador, que continua apresentando taxas de crescimento, apesar de terem vindo mais fracas entre julho e setembro.
“Embora tenha crescido em menor ritmo, o consumo das famílias apresentou pela nona vez variação positiva com o resultado do terceiro trimestre, demonstrando grande resiliência deste componente apesar do ambiente de juros elevados e do alto grau de endividamento das famílias“, explicou Trece
Vale destacar que o consumo de bens e serviços pela população figura como um dos principais fatores de crescimento da economia brasileira. Por isso, todos os dados positivos deste indicador ajudam a impulsionar o Monitor do PIB-FGV, impedindo a sua queda.
Desafios para a economia brasileira
O último trimestre de 2023 deverá ficar marcado pelo fortalecimento da economia brasileira, ao menos se o país conseguir superar os desafios para os últimos meses do ano. Em síntese, os juros elevados e o endividamento das famílias seguem como os principais limitadores do avanço da atividade brasileira.
Nos últimos meses, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) reduziu em 1,5 ponto percentual a taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, de 13,75% para 12,25% ao ano. Os cortes foram muito positivos, mas os juros seguem muito elevados no país, limitando o consumo.
Para quem não sabe, a taxa Selic é o principal instrumento do BC para controlar a inflação no Brasil. Quanto mais elevados os juros estiverem no país, mais comprometido fica o poder de compra dos consumidores. Por outro lado, quando os juros caem, os consumidores têm mais chance de aumentar os gastos, aquecendo a economia.
Por fim, o FGV IBRE ainda estimou que, nos nove primeiros meses de 2023, o PIB brasileiro acumulou R$ 8,046 trilhões, em valores correntes.