O momento conturbado da economia afeta a iniciativa privada e também os concursos públicos, de alguma forma.
O concurso dos Correios foi suspenso, mas o do INSS deverá sair até dezembro e ainda há muitos outros editais a caminho, nas esferas municipais, estaduais e federal. Diversos editais têm sido publicados.
No meio desse monte de informações, as pessoas estão um pouco perdidas. Afinal, é melhor procurar emprego ou se preparar para concurso?
Estamos vivendo um período de apreensão no mercado de trabalho. A iniciativa privada – mesmo as grandes empresas – está sofrendo retração. Quem tem emprego está com medo de perder. Muita gente foi demitida e precisa se recolocar no mercado. Quem trabalha por conta própria está assustado com a redução de demanda. E quem estava sem trabalhar está com dificuldade de encontrar uma boa vaga.
Com isso, muita gente que nunca pensou em fazer concurso público agora considera essa possibilidade.
O perigo é que a pressão de estar sem trabalho – ou em vias de ficar – pode ser má conselheira. É importante conhecer melhor o processo de preparação e aprovação antes de mergulhar de cabeça no projeto.
Em primeiro lugar, é necessário saber que você não estará empregado na administração pública no mês que vem. Nem no outro. E não também no seguinte. Um tempo mínimo (e pouco provável) entre a sua decisão e a posse é de 6 meses. Isso considerando um concurso muito simples, se você tiver tempo e facilidade para estudar e tendo a sorte de os aprovados serem logo convocados. Não é muito comum essa conjugação de fatores.
Então não vale a pena investir na carreira pública? Depende do seu projeto de vida e do que é importante para você. Sob outro ponto de vista, depende do que está do outro lado da balança. Se você não tiver clareza disso, vai iniciar os estudos, mas os interromperá na primeira dificuldade que surgir. E terá jogado tempo e dinheiro fora.
Vale lembrar que, quando a gente inicia uma faculdade, sabe que vai estudar durante 5 anos, em média, e quando sair dificilmente estará empregado, com bom salário e na sua área de formação.
Quem tem família que pode dar suporte pelo tempo necessário até a pessoa entrar no mercado de trabalho e conquistar um lugar sólido, excelente! Mas acredito que essa não é a realidade da maioria.
Aí entram os concursos públicos. É uma quantidade grande de matérias e conteúdos a serem estudados, e a preparação exige um tempo razoável – de 6 meses a 2 anos, em média, para concursos de nível médio e de 1 a 3 anos para os de nível superior – mas, depois de assumir o cargo vem a segurança de um salário garantido, com direito a férias, décimo terceiro e outros benefícios. Os salários podem variar de 2 a 5 mil, aproximadamente, para cargos de nível médio, e de 10 a 15 mil para os de nível superior, podendo chegar a 20 mil, mesmo sem formação específica. Em tempos de instabilidade econômica, chega a ser quase um sonho.
Considerando o tempo que pode demorar até tudo se resolver, você deve buscar uma estratégia de sobrevivência financeira. Pode ser o suporte de pais, cônjuges, uma reserva proveniente de uma demissão anterior ou uma poupança mesmo. Reduza os gastos ao mínimo, calcule por quanto tempo aproximadamente estará “coberto” e mãos à obra.
Se decidiu, não perca mais tempo. Cada dia é importante e todos os momentos da sua vida até a aprovação deverão estar dedicados ao projeto; mesmo o lazer terá como objetivo recarregar as baterias para a semana de estudo. Portanto, nada de excessos. Estudar será o seu trabalho, com horário certo e comprometimento, se você realmente quer atingir a meta.
De modo geral, três motivos levam as pessoas a prestarem concursos públicos, além da segurança e dos bons salários. O primeiro deles é a possibilidade de exercer a sua profissão dentro do serviço público. Praticamente todas as áreas estão contempladas: saúde, educação, jurídica, engenharia, geologia, biblioteconomia e muitas outras, com mais ou menos vagas e salários variados. São os concursos que exigem formação específica.
O segundo é quando você sabe “o que quer ser quando crescer”, ou seja, tem uma carreira escolhida, exerce ou pretende exercer, mas precisa de dinheiro para investir na profissão, para fazer cursos, especializações, montar consultório ou, simplesmente, ter suporte financeiro para poder usufruir férias tranquilas, poder lidar com eventuais períodos de baixa, doenças. Pode escolher concursos mais amplos, mesmo de nível médio ou superior para qualquer área de formação.
Neste caso, é preciso muito cuidado para não negligenciar a carreira pública e para exercer com dedicação a sua função de servidor. A outra atividade deverá ser exercida em horários compatíveis e sem prejuízo da administração pública. Encaixam-se bem nessa situação carreiras ligadas à arte, profissionais liberais, etc.
O terceiro motivo é a estrita necessidade de ganhar dinheiro. Talvez você não tenha clareza de qual profissão gostaria de exercer (nem todo mundo consegue ter), mas precisa se sustentar e deseja conquistar autonomia. E, se todo trabalho é digno, por que não escolher o mais seguro e com boa remuneração? Nesse caso, também os concursos de qualquer nível de escolaridade podem ser interessantes, dependendo do patamar salarial que você deseja e da urgência de ser aprovado.
Sempre é possível fazer concursos mais simples e depois seguir estudando para outros melhores. É o que se faz muitas vezes na iniciativa privada também, quando o profissional sobe aos poucos de patamar. A diferença é que na administração pública cada cargo tem a sua remuneração prevista em lei e não há negociação individual de salários. Qualquer alteração deverá ser por meio da lei que rege o cargo. Por isso, quem deseja melhorar a remuneração estuda e faz concurso para cargos mais complexos e, em consequência, com salário mais elevado.
Em todos os casos, sugiro observar se o seu perfil se adequa à atividade que será exigida no exercício do cargo para o qual está concorrendo. Há cargos com perfil mais burocrático, outros com trabalho externo, em regime de plantão, outros com atendimento ao público.
De todo modo, o serviço público apresenta uma faceta interessante: é comum que a pessoa possa migrar aos poucos para uma atividade mais compatível com o seu perfil. Porque uma boa chefia sempre busca utilizar da melhor forma os talentos de seus funcionários, dentro do leque de atividades a serem executadas por aquele cargo.
Por outro lado, como em qualquer outro emprego, o funcionário poderá ter de lidar com situações desagradáveis, frustrantes ou injustas. Afinal, a administração pública é feita de pessoas.
Mas, acima de tudo, independentemente do motivo que conduziu a sua escolha, a sua dedicação como servidor fará toda a diferença no dia a dia de trabalho e nas oportunidades que poderão surgir. Você vai carregar uma quantidade considerável de conhecimento adquirido durante a preparação e terá passado por um significativo processo de amadurecimento enquanto lidava com todos os desafios até conquistar a vaga. Utilize isso a favor da sociedade a quem você estará servindo. De alguma forma, isso também retornará para você.
Por Lia Salgado/G1