Atualidades

Dólar em alta: o que você precisa saber

Apesar de discreta queda, tudo indica que a moeda estrangeira permanecerá elevada ante ao real

Uma pesquisa feita pela revista Veja com representantes de 50 bancos, corretoras e casas de análises de investimentos apontou que para 86% dos entrevistados, o dólar continuará oscilando na casa dos cinco e seis reais até o fim de 2022. A revista publicada hoje (28) fala que, se as previsões estiverem corretas, viveremos ainda bastante tempo com um real fraco diante do dólar.

Porém, nas últimas semanas, o dólar tem apresentado uma tendência de queda, após uma longa ladeira acima. Desde o fim de Março, ele caiu 6% diante do real. Mas isso não é decisivo, a questão é bastante complexa e depende de muitos outros fatores. Mas quais são os vetores que influenciam a alta o baixa da moeda estrangeira?

Dólar – sua historia

O dólar foi criado pelo governo norte americano e, por isso, é conhecido principalmente como a moeda oficial dos Estados Unidos, embora seja a moeda oficial também de outros países. O símbolo usado para o dólar no geral é o US$, ou USD, como é usado na Bolsa de Valores.

No ano de 1776, durante a Guerra da Independência dos Estados Unidos, o dólar foi criado devido à necessidade de financiar a guerra.

Durante a crise de 1929, como uma forma de controlar o cenário econômico, houve a desvalorização do dólar e a nacionalização do ouro.

Até meados da Primeira Guerra Mundial, o padrão adotado era o ouro. Então, cada país adotava uma taxa fixa da sua moeda em relação a ele.

Na primeira metade do século XX, o padrão ouro já tinha fracassado e precisava ser substituído por uma nova referência para a taxa de câmbio fixa.

Para garantir a estabilidade econômica mundial, as instituições financeiras precisavam de uma moeda padrão, para que as negociações comerciais respeitassem um preço fixo. Assim, se estabelece o dólar como moeda de referência mundial.

Dólar, o dominante

Cada moeda usada em cada um dos países tem um determinado valor, o que chamamos de taxa de câmbio. Essa taxa varia de acordo com as flutuações do mercado. Dessa forma, a oferta e a demanda por cada moeda no mundo fazem com que ela se valorize ou perca valor.

Por padrão, a taxa de câmbio das moedas é expressa em comparação com a moeda americana. Então, quando queremos saber quanto vale o real, esse número vem sempre comparado ao dólar. No momento da produção deste texto, o real está valendo R$ 5,23 por cada unidade de dólar americano.

Por ser uma das moedas mais importantes do mundo, a sua cotação tem influência direta em nosso cotidiano. Quando essa moeda fica mais cara, sofremos o impacto em muitos produtos e serviços do dia a dia.

É possível investir em dólar de forma organizada na Bolsa de Valores, da mesma forma que se investe em ações. Esse tipo de investimento oferece excelentes oportunidades, especialmente para quem busca opções mais agressivas e rentáveis no curto prazo.

Dólar sobe, dólar desce

Quando os especialistas fazem previsões acerca do dólar, analisam o cenário macroeconômico e todos os elementos que o envolvem. A pesquisa minuciosa, ainda assim, não é garantia de acerto: tudo pode mudar de uma hora para outra. Nem é preciso dizer o quanto a pandemia afetou a valorização do real. “O pais gastou muito no ano passado, como era preciso fazer,” disse Henrique Meirelles, secretario da Fazenda de São Paulo. “Agora, seria necessário passar uma mensagem de controle fiscal bastante firme, mas a eleição de 2022 sinaliza o contrário, com um aumento no endividamento”- completa.

Os juros praticados nos Estados Unidos também são apostados como um fator de pressão. O presidente Joe Biden implantou um sistema trilionário de estímulo econômico. Se isso superaquecer a atividade local até o ponto de causar inflação, o banco central americano precisará subir os juros, o que fragilizará mais ainda o real. Essa medida puxaria os recursos dos investidores para os atrativos e confiáveis títulos públicos americanos, pois darão mais lucro. O Brasil vai sofrer por apresentar pouca rentabilidade, aliada a mais riscos.

Dólar baixo? A nostalgia…

As gerações mais jovens pouco se lembram ou nem sequer viveram nos tempos de baixa da moeda americana. Em 1994, com o advento do Plano Real e o fim da hiperinflação, era comum famílias brasileiras manterem uma reserva em dólar, acompanhando a cotação para o melhor momento de venda, ou planejando uma viagem ao exterior.

O circuito de turismo e consumo internacional era em destinos europeus ou Estados Unidos, para passeio ou compra de eletrônicos. Um episodio marcou esse disparate consumista foi quando a seleção brasileira de futebol, recém campeã da Copa do Mundo de 1994, voltou de Los Angeles com um voo fretado carregando 12 toneladas de bagagem, composta por eletrônicos, roupas, artigos esportivos e dezoito televisores.

O real manteve paridade com o dólar, de um para um, até 1998. Depois, outro período de bonança aconteceu entre 2008 e 2011, com o dólar valendo em media um real e meio. O cenário começou a declinar mesmo em 2014. Apesar disso, neste ano, o brasileiro gastou 25,6 bilhões de dólares fora do Brasil. Em 2019, foram gastos 17,6 bilhões de dólares, com queda de 31,3% comparado ao pico anterior. Em 2020, com a pandemia, o brasileiro desembolsou apenas 5,4 bilhões de dólares no exterior, segundo o Banco Central, em nota no dia 27 de Janeiro deste ano.

O Dólar come na mesa

Mas se engana quem pensa que a alta do dólar afeta apenas turistas e pessoas que precisam viajar à trabalho ao exterior. Todos, sejam eles prósperos financeiramente ou famílias que lutam para obter o sustento, são afetados pelas oscilações da moeda. Mesmo as commodities largamente produzidas no Brasil e exportadas acabam pesando no bolso do brasileiro, uma vez que são cotadas em dólar. Com a desvalorização do real e o aumento dos preço à nível global, devido ao aumento de consumo, o produtor brasileiro prioriza a venda ao exterior. Com isso, a oferta para o mercado interno é menor, e o preço sobe. É o caso da carne e do óleo de soja.

Isso sem falar no custo do petróleo, cotado em dólar, que encarece toda a cadeia logística. Até mesmo o aluguel de imóveis acaba encarecendo, por ser reajustado pelo IGP-M (Índice Geral de Preços do Mercado), que tem indicadores baseados no câmbio. Todos estes fatores levam o Banco Central a elevar a taxa de juros, na tentativa de conter a inflação.