Após três sessões em alta, o dólar voltou a cair e deu um alívio ao mercado de câmbio. Nesta quinta-feira (10), notícias um pouco mais positivas vieram do exterior e tiraram um pouco da atratividade da moeda americana. Já no cenário doméstico, repercutiram algumas falas do presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto.
O dólar comercial fechou o pregão de hoje em queda de 0,45%, cotado a R$ 4,8821. Na mínima do dia, a divisa bateu R$ 4,8412, mas conseguiu recuperar um pouco das perdas ao longo da sessão.
Com o acréscimo do resultado diário, o dólar reduziu os ganhos na semana e agora acumula alta de 3,24% em agosto. Por outro lado, segue com forte queda de 7,50% em 2023, o que evidencia a perda da força da moeda americana neste ano.
Do exterior, o que mais repercutiu no mercado de câmbio foram dados vindos dos Estados Unidos. Em resumo, a inflação aos consumidores (CPI, na sigla em inglês) em julho veio abaixo do esperado. A saber, a expectativa geral era de alta de 3,3% em relação a julho de 2022, mas o avanço foi de 3,2%.
Além disso, a alta mensal de 0,2% foi provocada quase totalmente pelo setor de moradias. Isso mostra que o restante da economia americana está registrando deflação, ou seja, os preços dos produtos e serviços estão caindo para os consumidores.
Esse dado é muito importante, pois aponta a direção que o Federal Reserve (Fed), banco central dos EUA, pode seguir na próxima reunião. Atualmente, a taxa de juros norte-americana está entre 5,25% e 5,50%, maior nível em mais de 20 anos, e o mercado estava apreensivo em relação à próxima reunião do Fed.
Como a inflação veio abaixo do esperado, os analistas agora acreditam que o Fed não vai mais elevar os juros nos EUA. Alguns já afirmam que o Fed poderá reduzir a taxa de juros, mas o consenso geral é que o banco central norte-americano mantenha os juros estáveis.
Essa estimativa é muito positiva para as moedas de países emergente. Em suma, quanto mais altos estiverem os juros nos EUA, mais atraentes ficam os títulos norte-americanos, o que fortalece o dólar ante os ativos de risco, de países emergentes, como o real.
Nesta quinta-feira (10), o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, participou de uma audiência no Senado Federal. Dentre as suas falas, o que mais repercutiu foi o fato de ele falar sobre as preocupações com as contas públicas.
Pode até parecer estranho, mas essas preocupações foram positivas, pois mostra que o presidente do BC continua atento à saúde fiscal do Brasil. Na semana passada, o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC decidiu cortar os juros em 0,50 ponto percentual (p.p.). A redução foi mais forte que o esperado, já que analistas apostavam em uma queda de 0,25 p.p.
Embora o corte de juros seja positivo para a renda variável, como o mercado de câmbio e o acionário, o dólar acabou se fortalecendo, enquanto a Bolsa Brasileira passou a cair. Isso aconteceu porque houve um empate de votos e coube a Campos Neto decidir se o corte seria de 0,25 ou 0,50 p.p.
O presidente do BC optou pela redução mais intensa, surpreendendo o mercado e gerando a ideia de que ele havia cedido à pressão política. Com as novas declarações nesta quinta-feira, Campos Neto mostrou que a autarquia ainda não está certa de reduzir os juros significativamente, não se o cenário doméstico não permitir.
O mês de agosto não está sendo bom para a Bolsa de Valores Brasileira. Em oito pregões, o Ibovespa, indicador do desempenho médio das cotações das ações negociadas na B3, a Bolsa Brasileira, caiu em todos eles.
Geralmente, o dólar e o Ibovespa costumam seguir direções opostas nos pregões, pois os fatores que impulsionam um acabam derrubando o outro. No entanto, na sessão de hoje, o dólar até deu um alívio, mas o Ibovespa também recuou, emendando a oitava queda consecutiva.
O indicador chegou a subir 0,87% durante o pregão, mas fechou o dia em leve queda de 0,05%, a 118.350 pontos. No mês, o índice está acumulando uma queda de 2,95%, considerada pequena para tantos recuos assim. Em contrapartida, no acumulado de 2023, ainda conserva ganho firme de 7,85%.
No pregão de hoje, 48 das 85 ações listadas no Ibovespa subiram. Apesar de a maioria dos papeis terem registrado ganhos, as ações da mineradora Vale, que responde por cerca de 13% da carteira do Ibovespa, caíram 1,18% no dia, puxando o indicador para o campo negativo. Na sessão, a carteira teórica movimentou R$ 18 bilhões.
Vale destacar que dados negativos da China, refletindo uma atividade econômica morna, vêm afetando fortemente o Ibovespa nos últimos dias, assim como ocorreu hoje. Em resumo, o país asiático é o principal parceiro comercial do Brasil, e é para lá que o país escoa boa parte das commodities.
Como as companhias de commodities tem um grande peso na composição do Ibovespa, como a Vale, os dados negativos da China derrubaram essas ações, que puxaram a Bolsa Brasileira para baixo.