Após o aumento dos supermercados, combustíveis nos postos e do botijão de gás, os brasileiros devem enfrentar mais uma elevação de preço em serviços básicos. A dona da vez é a conta de luz, que por conta do menor volume de chuvas em mais de 90 anos, deve aumentar. Isso ocorre pelo fato de 70% da energia no Brasil vir das hidrelétricas, que estão com os reservatórios nos menores níveis desde o apagão de 2001.
Como resultado disso, o governo está tendo que recorrer a grandes porções da energia de reserva do sistema brasileiro. Enquanto a energia vinda das hidrelétricas é mais barata, as energias de reserva são fornecidas em grande parte pelas termelétricas e tem um custo maior. Dessa forma, toda diferença nos valores da produção é cobrada do consumidor diretamente na conta de luz.
A medida de aumentar o valor das contas de luz dos brasileiros é vista como inevitável, visto que o período de chuvas já está acabando. Dessa forma, esse aumento pode chegar aos brasileiros através de duas maneiras: uma é por meio da política de bandeiras tarifárias. A outra, é através do reajuste anual das distribuidoras no preço básico, definidos pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Vale ressaltar que em todos os anos temos os períodos chuvosos e os de seca, em que as reservas são ativadas. Porém, como não tivemos muitas chuvas, as termelétricas precisarão ser acionadas por um tempo maior. Além disso, como o preço dos combustíveis está mais alto, essas usinas estão gastando mais na produção.
Reservatórios e bandeiras na conta de luz
De acordo com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), o reservatório principal do país, sistema Sudeste Centro-Oeste, está hoje em 33% da sua capacidade. Esse sistema é onde está Furnas-MG, e também responsável por 70% da energia hidrelétrica do país, o que impacta a conta de luz dos brasileiros.
Segundo Carlos Mello, presidente da Thymos Energia: “abril e maio são o fim do período chuvoso, e a lógica é como a de uma caixa d’água: encho essas caixas durante as chuvas e, depois, no período seco, elas vão esvaziando. Mas estamos começando o período seco já com um número ruim”.
Nesse ínterim, a bandeira vermelha que já está ativada este mês tem previsão para durar o ano de 2021 todo. Como resultado, é possível que a conta de luz tenha a adição da bandeira vermelha durante 9 meses, de maio até dezembro. Em anos anteriores essa bandeira teve uma duração de quatro a cinco meses.
Em síntese, existem um total de três bandeiras que provocam um aumento na conta de luz. Dentre elas, temos a bandeira amarela que aumenta R$ 1,34 por 100 kWh, a vermelha 1, vigente esse mês e adiciona R$ 4,17 a cada 100 kWh e por fim, a vermelha 2, pior de todas, aumenta R$ 6,24 por 100 kWh. A bandeira verde não adiciona valores adicionais na conta de luz.
Gastos, reajustes e seguro contra apagões
A Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) é responsável por cobrar os Encargos de Serviço do Sistema (ESS), pago aos geradores quando as térmicas mais caras do sistema de energia são acionadas. Esses encargos são responsáveis por uma parcela no aumento da conta de luz.
Vale destacar que o inverno ainda nem começou e os gastos com o ESS já somam R$ 4,9 bilhões e são maiores que os anos anteriores. Junto a isso, temos os reajustes anuais das distribuidoras que, segundo o diretor da consultoria em energia, Carlos Schoeps: “Nos últimos anos muitos destes reajustes ficaram entre 3% e 4%. No ano que vem, certamente o valor deve ser mais do que isso e maior do que a inflação”.
De acordo com o diretor técnico da Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia (Abrace), Filipe Soares: “Temos um cenário hoje muito diferente do passado. Os riscos de apagão ou racionamento são bem menores, porque hoje temos muitas termelétricas”.
Portanto o risco com apagões é baixo, pois desde 2001, ano do apagão que deixou metade do país sem energia, muito foi investido nas termelétricas. Por fim, “o problema é que as termelétricas são mais caras, então sim, este ano a conta de luz vai custar caro”, diz Soares, da Abrace.