A Função Metalinguística pode ser identificada quando uma mensagem utiliza o próprio código (meio pelo qual a mensagem é enviada, como fala, escrita, gestos ou figuras) para falar dele mesmo.
Imagine um filme que explica as melhores formas de como produzir um longa ou curta-metragem. Essa redundância – um filme falando sobre filme – é a função metalinguística, ou seja, o código é o tema da mensagem que é usado para falar sobre ele mesmo.
Outro exemplo são os dicionários e as gramáticas, que explicam as regras e condutas da língua e o significado das palavras, respectivamente. É possível perceber, portanto, que esse recurso pode ser utilizado em diferentes gêneros textuais.
Função Metalinguística na poesia
A função metalinguística pode ser utilizada na poesia, como fez Carlos Drummond de Andrade nos dois exemplos que seguem abaixo:
“Nenhum desejo neste domingo
nenhum problema nesta vida
o mundo parou de repente
os homens ficaram calados
domingo sem fim nem começo.
A mão que escreve este poema
não sabe o que está escrevendo
mas é possível que se soubesse
nem ligasse.”
(Poema que aconteceu – Carlos Drummond de Andrade)
“Gastei uma hora pensando um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira.”
(Poesia – Carlos Drummond de Andrade)
Em “Poema que aconteceu”, o autor explica o processo criativo de fazer um poema. Portanto, o código é o tema do próprio texto (poema sobre poema). Da mesma forma, em “Poesia”, ele explica no poema o desejo de escrever um poema.
Veja mais esse exemplo:
“No retrato que me faço
– traço a traço –
às vezes me pinto nuvem,
às vezes me pinto árvore…
às vezes me pinto coisas
de que nem há mais lembrança…
ou coisas que não existem mas que um dia existirão…
e, desta lida, em que busco
– pouco a pouco –
minha eterna semelhança,
no final, que restará?
Um desenho de criança…
Corrigido por um louco!”
(Apontamentos de História Sobrenatural – Mário Quintana)
Também neste poema, Mário Quintana usa como tema da poesia, o próprio fazer poético.
Outro exemplo:
“Catar feijão se limita com escrever:
joga-se os grãos na água do alguidar
e as palavras na folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo:
pois para catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco.
Ora, nesse catar feijão entra um risco:
o de que entre os grãos pesados entre
um grão qualquer, pedra ou indigesto,
um grão imastigável, de quebrar dente.
Certo não, quando ao catar palavras:
a pedra dá à frase seu grão mais vivo:
obstrui a leitura fluviante, flutual,
açula a atenção, isca-a como o risco.”
(Catar Feijão – João Cabral de Melo Neto)
Da mesma forma, nesse caso, o autor explica no poema o momento da criação de um texto poético comparando-o ao processo de catar feijão, ou seja, utilizou um código (poema) para falar dele mesmo.
Função Metalinguística na música
Nas composições musicais, a utilização da função metalinguística também é possível. Veja abaixo uma canção de Tom Jobim. Nela, o artista descreve o seu processo de criação musical por meio de uma música.
“Eis aqui este sambinha feito numa nota só
Outras notas vão entrar, mas a base é uma só
Esta outra é consequência do que acabo de dizer
Como eu sou a consequência inevitável de você
Quanta gente existe por aí que fala tanto e não diz nada
Ou quase nada
Já me utilizei de toda a escala e no final não sobrou nada
Não deu em nada
E voltei pra minha nota como eu volto pra você
Vou contar com uma nota como eu gosto de você
E quem quer todas as notas: ré, mi, fá, sol, lá, si, dó
Fica sempre sem nenhuma, fica numa nota só”
(Samba de uma nota só – Tom Jobim)
Mais um exemplo:
“Minha música quer estar
Além do gosto
Não quer ter rosto
Não quer ser cultura…
Minha música quer ser
De categoria nenhuma
Minha música quer
Só ser música
Minha música
Não quer pouco…”
(Minha Música – Adriana Calcanhoto)
Em “Minha Música”, de Adriana Calcanhoto, ela expressa por meio de uma linguagem musical, seus gostos musicais.
Função Metalinguística na crônica
A crônica também é um gênero textual no qual a função metalinguística pode ser utilizada. Um exemplo é o texto escrito por Carlos Drummond de Andrade, no qual ele utiliza a crônica para falar sobre ela mesma.
“Crônica tem esta vantagem: não obriga ao paletó e gravata do editorialista, forçado a definir uma posição correta diante dos grandes problemas; não exige de quem o faz o nervosismo saltitante do repórter, responsável pela apuração do fato na hora mesma em que ele acontece; dispensa a especialização suada em economia, esporte, política nacional e internacional, religião e o mais que imaginar se possa…”
Função Metalinguística no dicionário
O dicionário é um dos exemplos mais comuns de função metalinguística, justamente por falar sobre a própria linguagem, como no exemplo abaixo:
“Substantivo
subs•tan•ti•vo
adj
1 Diz-se de palavra que, exclusivamente e sem auxílio de outra, designa a substância dos seres.
2 Diz-se de palavra que designa os seres em geral, ações, estados e noções.
3 JUR: Diz-se do direito que constitui a parte essencial da legislação ou define princípios.
4 QUÍM: Diz-se de corante que é aplicado diretamente a fibras anfotéricas, sem a necessidade da adição de mordente; direto.”
Função Metalinguística no Enem
As funções da linguagem, como a função denotativa, função conativa, função poética, função fática, função emotiva, incluindo também a metalinguística, caem com frequência na prova de Linguagem, Códigos e suas Tecnologias do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Dessa maneira, é muito importante estar atento aos detalhes para identificá-las nas questões. Com relação à função metalinguística, por exemplo, ela pode ser apresentada por meio de um diálogo em quadrinhos com referência aos balões através de um dos personagens.
Então, sempre que uma determinada linguagem falar dela mesma, trata-se de uma função metalinguística.