Os brasileiros que costumam fazer compras parceladas no cartão de crédito devem ficar atentos às mudanças que podem acontecer em breve. Na última segunda-feira (16), o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, discutiu propostas sobre o parcelamento das compras no país.
Em resumo, o encontro teve a participação de representantes de bancos e empresas dos setores de pagamentos e varejo. Durante a reunião, Campos Neto propôs limitar a quantidade de parcelas sem juros a 12 vezes. Além disso, o presidente do BC também apresentou uma proposta de limitar a tarifa de intercâmbio dos cartões de crédito.
Segundo uma fonte do Valor Investe, Campos Neto pediu aos presentes no encontro que simulassem o impacto desse limite do número de prestações a 12 vezes em seus respectivos modelos de negócio.
Aliás, a proposta é que essa redução das parcelas sem juros seja colocada em prática imediatamente. Por sua vez, as taxas de juros do rotativo do cartão de crédito e do intercâmbio seriam reduzidas gradualmente.
Por que o BC quer reduzir o número de parcelas sem juros?
Em agosto, o presidente do BC disse que a autarquia não estava feliz com as possibilidades de compras em até 13 parcelas sem juros, afirmando que parecia um “financiamento de longo prazo sem juros“. De acordo com ele, esse sistema não existe em outros países, apenas no Brasil.
Para desincentivar o uso desses parcelamentos, o BC planejava criar algum tipo de “tarifa” para que os consumidores parassem de fazer tantas compras dessa maneira. Campos Neto explicou que esse sistema de parcelamento em até 13 vezes acaba levando as pessoas a perderem o controle da própria fatura.
“Não é proibir o parcelamento sem juros. É simplesmente tentar que fique um pouco mais disciplinado. Não vai afetar o consumo. Lembrando que cartão de crédito é 40% do consumo no Brasil“, disse à época.
Muitas entidades criticaram essas falas, discordando do presidente do BC. Contudo, Campos Neto seguiu planejando uma alternativa para o alto número de parcelas sem juros, porque esse tipo de compra é marcado por um alto índice de inadimplência.
Como consequência disso, as taxas de juros no rotativo acabam ficando muito elevadas no país. Segundo os dados mais recentes do Banco Central, os juros da modalidade beiram os 450% ao ano, apesar de poder ser cobrado por um mês. Ao mesmo tempo, a taxa de inadimplência da modalidade chega a quase 50%.
Para tentar modificar esse cenário e ter uma população que pague suas dívidas em dia, o Banco Central vem tentando reduzir os juros do rotativo do cartão de crédito, e a autarquia vem apostando na redução das parcelas sem juros para conseguir isso.
Como isso vai afetar as partes envolvidas?
Caso a proposta de Campos Neto siga adiante e seja aprovada, todas as partes envolvidas no processo terão que ceder um pouco. De um lado, os bancos perderão receita com a limitação da tarifa de intercâmbio, já que a taxa remunera a emissão dos cartões. Contudo, também deverá haver redução da inadimplência, ou seja, mais clientes irão pagar suas dívidas.
Em relação às credenciadoras, elas irão perder parte da sua receita com um número menor de parcelas sem juros, uma vez que são elas quem antecipam esses recebíveis aos lojistas. Entretanto, seguirão com boa parte da sua renda preservadas com 12 parcelas sem juros.
Já em relação aos varejistas, o impacto não deverá ser muito grande, pois são poucos os setores que parcelam mais de 12 vezes sem juros. Estes terão que se adaptar à nova realidade, já que boa parte do consumo das famílias do país acontece através de compras parceladas.
Veja quando as mudanças começam a valer no país
Em suma, as instituições financeiras ganharam um prazo de 90 dias para apresentarem alguma solução para os juros elevados do rotativo do cartão de crédito ao Conselho Monetário Nacional (CMN). O prazo já começou a contar há alguns dias, e as instituições agora correm contra o tempo para manter os juros no mesmo patamar atual.
Para as financeiras, os juros elevados são necessários para manter a oferta do crédito. Caso as taxas caiam significativamente, as instituições afirmam que os custos do rotativo, que possui uma taxa de 50% de inadimplência em suas operações, irão superar o seu retorno financeiro.
Caso não haja apresentação de soluções até o final do prazo, a taxa de juros poderá ficar limitada ao dobro do valor do principal da dívida no cartão. Logo, os juros ficarão limitados a, no máximo, 200% ao ano, menos da metade da taxa atual.