Na última quinta-feira (24), o mundo assistiu a ameaça do presidente da Rússia, Vladimir Putin, tornar-se realidade. Suas tropas invadiram e bombardearam à Ucrânia, colocando o mundo todo em estado de alerta. Os dois países entraram em choque nas primeiras horas da madrugada, pelo horário de Brasília, após semanas de tensão.
Além da preocupação com a probabilidade de uma Terceira Guerra Mundial, os brasileiros, cuja maioria se manifesta contra o ataque russo, teme sofrer economicamente com os impactos deste conflito.
Ainda que fisicamente distante dos bombardeios, o Brasil tende a ser economicamente impactado pela situação de guerra entre os dois países.
Como Rússia e Ucrânia são grandes exportadores de commodities agrícolas, como trigo e milho, e energéticas, como petróleo, é previsto um cenário de preços mais altos e atividade estagnada.
Por que a Rússia atacou a Ucrânia?
Em linhas gerais, Rússia e a Ucrânia vivem uma antiga história de conflitos. Conforme explicado pelo site G1, ao longo dos séculos, a Ucrânia fez parte de impérios, sofreu inúmeras invasões, foi incorporada pelos russos e pelos soviéticos, se tornou independente, mas nunca resolveu por completo sua relação com a Rússia.
Entre os principais motivos para a invasão da Ucrânia pela Rússia, estão:
- Conflitos separatistas no leste da Ucrânia — nas províncias de Donetsk e Luhansk, reconhecidas como independentes por Putin;
- Aproximação da Ucrânia com o Ocidente — a possibilidade do país fazer parte da Otan e da União Europeia;
- Expansão da Otan no Leste Europeu — menção da organização em adicionar a Ucrânia e a Geórgia como países membros;
- Ambição expansionista e revisionista de Putin — o presidente russo quer aumentar o seu poder de influência na região.
Petróleo e gás – os primeiros a subirem
O preço do petróleo superou nesta quinta-feira (24) os US$ 100, pela primeira vez em mais de sete anos, logo após o presidente russo, Vladimir Putin, anunciar a operação militar com a justificativa de “proteger a população do Donbass”, a região do leste do vizinho.
A Rússia é um dos grandes produtores de petróleo, e um conflito militar afeta o mercado do produto. Além disso, Estados Unidos e União Europeia impuseram sanções mais severas ao país, o que também pode pressionar o preço das fontes energéticas, direta e indiretamente.
Se a guerra provocar a interrupção do comércio de combustíveis entre os países da Europa e a Rússia, os europeus terão que procurar energia em outra parte, em um mercado mundial que ficará ainda mais restrito e caro.
Os preços da gasolina no Brasil não devem subir imediatamente. Em entrevista, o diretor de Comercialização e Logística da Petrobras, Cláudio Mastella, afirmou ao site Minaspetro que a empresa vai aguardar a evolução do cenário internacional, e depois vai decidir por repasses da disparada da cotação do petróleo.
Preço dos alimentos também sobem
A Ucrânia vende 17% do milho do mercado mundial, ficando atrás dos Estados Unidos, Brasil e Argentina. Ucrânia e Rússia exportam 30% do trigo comprado pelo resto do planeta.
O trigo é um dos produtos mais afetados por esse conflito. Desde quinta-feira (17), quando as tensões aumentaram, o cereal já acumula alta de 17,4%. Isso vai custar caro para o Brasil, que importará 6,5 milhões de toneladas do cereal neste ano, segundo informações do Canal Rural.
O Brasil é um dos maiores importadores de trigo do mundo. O setor agrícola, que já estava afetado por crises climáticas, vai sentir agora os efeitos das dificuldades de transações comerciais, devido às sanções e barreiras entre os países. ?
Instabilidade derruba ações e faz dólar subir
Sempre que há uma crise política grave, papéis de maior risco, como ações, são afetados. A busca por segurança global por parte dos investidores impulsionou o dólar mais de 0,5%, em relação a cesta de moedas de seus principais parceiros comerciais.
Após o anúncio da invasão, ações globais e mesmo títulos do Tesouro americano despencaram, enquanto as cotações do dólar, ouro e petróleo dispararam.
Já a moeda russa, o rublo, despencou quase 8%, atingindo patamar mais baixo já registrado.
Dificuldade em baixar a inflação brasileira
A guerra na Ucrânia afeta preços de petróleo, gás natural, grãos e óleo de cozinha, encarecendo alimentos também no Brasil.
“As pressões sobre os [preços dos] combustíveis afetam o mundo inteiro. Piora ainda mais uma inflação que já está muito elevada”, diz o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale, para a CNN Brasil. “Se tem mais inflação, será necessário subir mais os juros, e juros mais altos dificultam o crescimento lá na frente.”
O petróleo é a commodity que tem mais efeito sobre a inflação no Brasil, seguido pelas commodities agrícolas, segundo análise do Banco Central divulgada no final do ano passado.
Uma elevação de 10% no preço do barril de petróleo Brent tem impacto de 0,66 ponto percentual no IPCA (Índice de Preços ao Consumidor) após quatro trimestres, segundo estimativas apresentadas no último Relatório Trimestral de Inflação.
Por isso, as projeções de inflação para 2022 continuam sendo pessimistas, antes mesmo do impacto da guerra sobre o dólar.
Instabilidade afeta o crescimento econômico
Uma guerra sempre gera impacto, em algum nível, sobre a confiança econômica por parte dos investidores, mesmo que seja por alguns meses. Isso que reduz as perspectivas de crescimento econômico.
Empresários e investidores temerosos costumam adiar novos projetos ou expansões, o que significa menor oferta de emprego.
Se houver alta nos juros americanos, o dólar tende a se fortalecer e atrair mais investidores aos EUA, onde a recompensa sobe. Ao mesmo tempo, esse movimento incentiva uma saída da moeda do Brasil, o que deixa o real mais desvalorizado.
Esta prática de subir juros é uma estratégia para atrair capital estrangeiro interessado em investir no país. No momento, os juros brasileiros estão em alta, o que ajuda o real a se valorizar. Ainda assim, não consegue ser competitivo ante o dólar.
Brasil menos afetado que outros
Apesar dos riscos que o conflito na Ucrânia representam para o Brasil, especialistas ponderam que o cenário pode ser menos preocupante do que em outros países.
“Isso por conta da alta de commodities e pelo fluxo de investidores globais saindo da Rússia e da Ásia e procurando outros mercados emergentes”, explicou. “O mercado brasileiro pode seguir tendo uma performance boa, não necessariamente subindo, mas caindo menos do que outros mercados”, disse Jennie Li, estrategista de ações da XP Investimentos para a CNN Brasil.