Aqueles que produzem alimentos, por mais incrível que pareça, não conseguem se alimentar todos os dias, quem dirá se alimentar bem. Quem aponta tal fato é uma pesquisa feita pela Penssan (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar), que mostra a discrepância da fome no Brasil.
Antes de tudo, é preciso ressaltar que nosso país se mantém em 5º lugar na lista dos maiores exportadores mundiais em termos de alimentos. Assim, diversos tipos de produtos agropecuários, tal como a soja, milho e açúcar, além das carnes, que são produzidos através do trabalho rural, são “mandados para fora”. Ademais, há uma afirmação da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) de que nossa produção agropecuária tem condições de alimentar 800 milhões de pessoas. No entanto, a comida não vai para a mesa de quem trabalha no campo, fazendo com que vários brasileiros passem fome.
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Dados da pesquisa sobre insegurança alimentar e fome são assustadores
Para que o estudo pudesse ser finalizado, a Penssan entrevistou aproximadamente 35 mil pessoas em 2022. Entre tais pessoas, estão moradores da área urbana e rural. O resultado, como citado, é que quem reside no campo encontra maiores dificuldades em ter na mesa os alimentos naturais de qualidade. Diz-se isso em comparação a quem mora na cidade.
Veja o que foi apontado:
- De cada dez moradores das zonas rurais, seis sofrem com insegurança alimentar. Isso significa que 63,8% dos indivíduos não comem adequadamente;
- De cada dez moradores das zonas rurais, dois passam fome. Isso significa que 18,6% sofrem com a insegurança alimentar de ordem grave;
- Das famílias que são produtoras rurais, 21,8% passam fome;
- Dos trabalhadores ruais, 69% sofrem com um grau de insegurança alimentar;
- De cada dez pessoas residentes das zonas rurais da parte norte do Brasil, quatro passam fone, ou seja, 40,2%;
- Dos residentes da zona rural no Nordeste brasileiro, 22,6% sofrem de insegurança alimentar de ordem grave, ao passo em que 83,6% não acessam uma alimentação adequada;
- Na área urbana, 15% das pessoas passam fome e 57,8% não se alimentam adequadamente.
Dados apontam desigualdade socioeconômica
Sérgio Sauer, pesquisador da UnB (Universidade de Brasília), aponta que os dados são um retrato claro da desigualdade socioeconômica brasileira. Ele também afirma que, por conta da concentração de terras, vários produtores rurais são impedidos de cultivar seu próprio alimento por não possuírem espaços adequados.
Segundo o pesquisador, as informações apresentadas ferem direitos humanos, sendo uma contradição política e ética. Portanto, não há justificativas plausíveis para as condições em que os trabalhadores rurais vivem.
A se pensar na questão ética e dos direitos humanos, não há como admitir que onde se produz alimentos existem pessoas que sentem fome. A contradição, portanto, é algo de cunho humano, ético e político, tornando a insegurança alimentar no campo um ponto assustador. Isso porque não existem meios de argumentação, a não ser se forem equivocados. Não existe fome porque falta alimento.