A caderneta de poupança teve uma retirada líquida de R$ 66,636 bilhões no primeiro semestre deste ano. Isso quer dizer que a quantidade de saques superou de maneira significativa as captações da caderneta nos seis primeiros meses de 2023.
De acordo com o Banco Central (BC), responsável pela divulgação dos dados, essa foi a maior retirada líquida para o primeiro semestre desde o início da série histórica, em 1995. Aliás, o resultado é bem mais expressivo que o do primeiro semestre de 2022, quando os brasileiros retiraram R$ 50,489 bilhões a mais do que sacaram.
Em 2023, o volume de saques superou o de depósitos no primeiro semestre devido aos resultados registrados entre janeiro e maio, com todos eles tendo mais retiradas que depósitos.
Confira abaixo o volume de retirada da poupança entre janeiro e maio de 2023:
- Janeiro: R$ 33,63 bilhões;
- Fevereiro: R$ 11,52 bilhões;
- Março: R$ 6,08 bilhões;
- Abril: R$ 6,25 bilhões;
- Maio: R$ 11,75 bilhões.
Todos os valores apresentados pelo BC são nominais. Em outras palavras, não há atualização pela inflação, mas apenas a divulgação dos números referentes aos depósitos e saques realizados em cada mês.
Depósitos superam saques em junho
Apesar dos resultados registrados nos primeiros meses de 2023, o dado de junho foi o primeiro positivo. Em suma, os brasileiros depositaram R$ 331,864 bilhões na poupança no mês passado, enquanto as retiradas somaram R$ 329,269 bilhões. Isso quer dizer que as entradas superaram as retiradas em R$ 2,595 bilhões, primeiro resultado positivo do ano.
Esse resultado foi completamente diferente do observado em junho de 2022, quando os brasileiros sacaram R$ 3,755 bilhões a mais do que depositaram na poupança.
Os dados registrados no acumulado de 2023 foram os seguintes:
- Saques totalizaram R$ 1,9 trilhão;
- Depósitos somaram R$ 1,86 trilhão.
Caso o ritmo continue acelerado, a retirada líquida em 2023 também deverá bater recorde anual, assim como aconteceu no primeiro semestre. Segundo o BC, a caderneta de poupança encerrou 2022 com uma retirada líquida recorde de R$ 103,237 bilhões. E os dados de 2023 podem ser ainda maiores.
Entenda a saída líquida da poupança no início do ano
O recorde de retiradas líquidas acumulado nos seis primeiros meses de um ano não é uma surpresa. Os saques na caderneta de poupança vem batendo recorde a cada mês que passa, com o volume de saques superando significativamente o de depósitos no período.
O BC explicou que os saques líquidos da poupança nos primeiros meses do ano ocorrem devido ao aumento de despesas tradicionais, como Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA).
Além disso, as famílias brasileiras também costumam gastar com matrícula e material escolar nos primeiros meses do ano. Isso sem contar que muitos consumidores acabam parcelando as compras do final do ano anterior, bem como os custos com viagens de férias.
Tudo isso ajuda a impulsionar os saques da caderneta, visto que as pessoas buscam recursos para honrar os compromissos que possuem. Com isso, há uma redução expressiva dos depósitos na caderneta, enquanto os saques aumentam, e isso explica a saída líquida recorde no primeiro semestre de 2023.
O BC revelou que o volume total aplicado na poupança teve uma forte queda em maio, passando de R$ 967,5 bilhões para R$ 961,5 bilhões. Em síntese, a baixa rentabilidade da caderneta também ajuda a explicar a retirada líquida observada nos primeiros meses deste ano, apesar da melhora dos resultados.
Cabe salientar que as retiradas líquidas em janeiro e fevereiro foram bem maiores que as de março e abril. Entretanto, o valor voltou a subir em maio, ou seja, a expectativa de perda de ritmo não se confirmou.
Cenário atual do Brasil ainda preocupa
Os resultados de maio refletem o cenário atual do Brasil. Segundo o BC, o endividamento das famílias com bancos chegou a 44,2% em março, no acumulado dos últimos 12 meses. A título de comparação, a taxa ficou 7,6 pontos percentuais superior ao nível registrado no mesmo mês do ano passado.
Além disso, a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), revelou que 78,3% da população estava endividada no país em maio.
Por sua vez, a taxa de inadimplência atingiu 29,1% das famílias do país no mês passado. Em suma, há alguns fatores que propiciam o aumento da inadimplência entre os consumidores, como manter mais de um cartão de crédito e não se atentar à própria saúde financeira e às datas de pagamento das contas.
Diante desse cenário, muitas pessoas acabam sacando o dinheiro que têm guardado na poupança para pagar contas e se livrar das dívidas, ou pelo menos reduzi-las.
Ao mesmo tempo, a elevada taxa de juros no país também ajuda a aumentar os saques da poupança. Embora a caderneta esteja rendendo mais devido à taxa Selic elevada, outros investimentos oferecem retornos bem mais interessantes. E isso vem atraindo muitas pessoas, que retiram o dinheiro da poupança e o aplicam em outros fundos.