O caso do desmatamento na Amazônia brasileira é frequentemente apresentado como um caso de meio ambiente x economia.
De um certo ponto de vista, a floresta é o pulmão do mundo, um sumidouro de carbono vital que deve ser protegido a todo custo para evitar que a crise climática se agrave. De outra perspectiva, a região é um tesouro de recursos naturais e terras agrícolas em potencial que alguns atores poderosos no Brasil acreditam ter o direito de explorar para obter lucro.
Impulso do atual governo
Todo mundo sabe que a floresta amazônica está em apuros. Um total de 2.095 quilômetros quadrados foram limpos somente em julho deste ano, um aumento de 80% em relação ao mesmo mês do ano passado. Além disso, o desmatamento de agosto de 2020 a julho de 2021 foi o maior desde 2012 e representou um aumento de 57% em relação ao ano anterior.
Essa destruição é geralmente justificada para ganho econômico, especialmente para o setor agrícola. A produção de carne bovina e soja está por trás de mais de dois terços da perda de habitat na Amazônia.
Até mesmo entidades internacionais estão de olho no que acontece no Brasil, uma vez que o País é um dos mais importantes exportadores agrícolas do planeta.
“[Todos] estamos cientes de que a demanda do mercado por commodities agrícolas é o maior impulsionador do desmatamento tropical”, disse Daniel Zarin, Diretor Executivo de Florestas e Mudanças Climáticas da Wildlife Conservation Society em uma coletiva de imprensa. “E que o agronegócio brasileiro é uma potência global para atender a essa demanda do mercado e, então, contribuir para esse desmatamento.”
Lembrando que o desmatamento aumentou sob a liderança do atual presidente Jair Bolsonaro, que tem sido criticado tanto por aqui quanto no exterior por políticas pró-extrativistas.
Bolsonaro rebateu argumentando que o Brasil tem o direito de usar seus recursos como achar melhor. Em resposta a um clamor global por incêndios devastadores em 2019, ele disse às Nações Unidas que a pressão global equivalia a um ataque à soberania brasileira.
No entanto, o fato de o desmatamento ser impulsionado pela demanda agrícola cria um paradoxo: as safras precisam de chuva, e é exatamente isso que a floresta fornece. Isso significa que o desmatamento na Amazônia acabará prejudicando a agricultura brasileira.
“No contexto brasileiro, chamaríamos isso de gol contra, ou seja, quando você marca contra o seu próprio time”, diz Zarin. “Esta não é uma estratégia vencedora”, finaliza o especialista.