O mercado está nervoso em relação à atuação dos bancos públicos no governo Lula. A saber, o terceiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) traz lembranças pouco felizes sobre estas entidades. E, até agora, o governo federal deu apenas detalhes superficiais sobre os primeiros projetos pensados para as instituições.
Na terça-feira (1º), o presidente Lula afirmou que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) irá financiar projetos em países parceiros. Em síntese, isso já aconteceu no passado, e gerou muitas críticas ao banco por causa de dois fatores:
- Aliados deixaram de quitar partes dos empréstimos concedidos;
- O BNDES se desviou da sua função inicial, de “financiamento de longo prazo e investimento nos diversos segmentos da economia brasileira”, definição presente no próprio site da instituição.
“O BNDES vai voltar a financiar as relações comerciais do Brasil e vai voltar a financiar projetos de engenharia para ajudar empresas brasileiras no exterior e para ajudar que os países vizinhos possam crescer e até vender o resultado desse enriquecimento para um país como o Brasil. O Brasil não pode ficar distante. O Brasil não pode se apequenar”, disse Lula.
Empresas brasileiras podem se beneficiar
De acordo com o petista, as empresas brasileiras podem se beneficiar com esse novo cenário. Ao prestar serviços para projetos internacionais financiados pelo BNDES, as empresas poderão ter um retorno bastante positivo, segundo Lula.
Estas declarações ocorreram em Buenos Aires, em uma visita do presidente. Aliás, o petista criticou a atuação do BNDES nos últimos anos. A título de comparação, o banco concedeu mais de R$ 190 bilhões em empréstimos no governo Dilma, em 2013. Já em 2021, o valor foi de apenas R$ 64 bilhões.
“Todo o dinheiro do BNDES é voltado para o Tesouro que quer receber o empréstimo que foi feito. Então, o Brasil também parou de crescer, o Brasil parou de se desenvolver e o Brasil parou de compartilhar a possibilidade de crescimento com outros países”
Volta de empréstimos a outros países preocupa
Essas declarações do presidente Lula caíram como uma bomba para agentes financeiros. Em resumo, os empréstimos a outros países poderão desajustar o mercado de crédito brasileiro, bem como a saúde do próprio BNDES.
Segundo o professor da Western University e pesquisador sênior do Insper, o BNDES deveria seguir o caminho oposto. Ele explicou que a entidade deveria reforçar o apoio a empresas menores e mais restritas em crédito. Além disso, a instituição deveria apoiar projetos com maior impacto social e ambiental.
“Em um momento de ajuste fiscal e de necessidade de se ajustar o aparato estatal para que proporcione maior impacto para o Brasil, o retorno a esse mecanismo de financiamento de obras externas feitas por grandes empresas está longe de ser prioridade”, afirmou Lazzarini.
Veja as expectativas para a Caixa e o Banco do Brasil
Em relação à Caixa Econômica Federal e ao Banco do Brasil (BB), as expectativas do mercado não possuem muitos alardes. Estas instituições são chamadas de “bancos comerciais” de controle estatal, e há alguma cautela sobre elas, mas nada como o temor envolvendo o BNDES.
Em primeiro lugar, vale destacar que tanto a Caixa quando o BB são comandados por funcionárias de carreira das instituições. A saber, ambas as presidentes tiveram indicações técnicas para assumir os cargos.
No caso do BB, a presidente Tarciana Medeiros afirmou que irá trabalhar para fazer do BB um banco rentável e sólido, conciliando a atuação comercial com a pública.
“Resultados sustentáveis para os acionistas e relevantes pra vida das pessoas, contribuindo com o desenvolvimento do país”, disse Medeiros.
De acordo com a presidente do BB, as prioridades da instituição serão:
- Apoiar a agricultura familiar;
- Apoiar a transformação digital;
- Apoiar o empreendedorismo;
- Fomentar o crédito, principalmente o rural, mas de forma criteriosa.
Em relação à Caixa, a nova presidente Rita Serrano afirmou que a entidade buscará a rentabilidade com “equilíbrio entre as operações comerciais e as ações de inclusão”.
Em suma, a Caixa é responsável pelo gerenciamento de programas de transferência de renda do governo e do Minha Casa Minha Vida. E a presidente Rita Serrano garantiu que a instituição irá cumprir “com excelência” esse gerenciamento.
Segundo ela, a Caixa irá trabalhar para promover:
- Ampliação de parceria com estados e municípios para desenvolver projetos de infraestrutura;
- Avanço em tecnologia para melhorar serviços e atendimento oferecidos ao cliente;
- Inclusão bancária da população.
Por fim, a expectativa é que ambos os bancos sejam utilizados para o programa “Desenrola”. Em síntese, isso foi uma promessa de campanha do presidente Lula para renegociar dívidas. E a população aguarda ansiosa por atualizações sobre esse programa.